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Por Luciana Grassano Melo*
Essa
é uma constatação que fazemos em processo de retrospectiva, de
reflexão. Pode também ser uma lição da história, quando o
distanciamento e o conhecimento profundo e documental dos fatos
permite uma análise crítica sobre eles. Sabemos que a história
coloca os acontecimentos em perspectiva, e assim é capaz de mostrar
que as coisas poderiam ter sido diferentes.
No
caso da pandemia do coronavirus, as coisas poderiam ter sido
diferentes é um lamento que nós, brasileiros, podemos evitar no
futuro. É evidente que erros serão cometidos, mesmo pelas
autoridades mais bem-intencionadas, porque errar faz parte do
processo de tomada de decisão, mas é importante que se diga que não
fomos pegos de surpresa. Outros países do oriente e do ocidente já
experenciaram, em especial no último mês, todo o caos gerado por
uma infecção em massa, e nós estamos vendo e vivendo tudo.
Já
conhecemos hoje mais o coronavirus que os chineses conheciam no
começo das infecções; conhecemos mais que os italianos, quando
ocorreram as suas primeiras mortes. Eles podem ser expiados da culpa
dos erros e das omissões que praticaram, por absoluta falta de
conhecimento da forma como a infecção progredia e se alastrava.
Nós não podemos.
E os fatos mostram que o vírus mata muito. Hoje já se soma quase mil mortes nas últimas 24 horas, na Itália. No mundo todo são 30.248 mortos registrados.
O vírus pega muito rápido e é muito resistente. No mundo, já são mais de 600.000 infectados. No Brasil, temos o registro de 3.904 casos e 111 mortes. Não podemos dizer que fomos pegos de surpresa.
Conhecemos
como se dá o contágio, os sintomas, a evolução. Temos
estatísticas, estudos, análises comparativas. Temos já, inclusive,
reflexões e autocríticas. O mundo todo está avisando sobre a
importância do distanciamento social, sobre como evitar o contato
pessoal retarda a contaminação e a propagação da doença, e como
esse tempo é importante para as possibilidades de cura, em especial
por retardar o esgotamento dos sistemas públicos e privados de
saúde.
Nós
já sabemos de tudo isso. E não sabemos com base em retrospectivas,
reflexões ou conhecimento histórico. Sabemos com base nos fatos que
aconteceram ontem em Milão, em Nova York. Sabemos com base nos fatos
que estão acontecendo hoje, entre nós.
O
cidadão brasileiro não tem que pensar em salvar a economia e os
empregos. As políticas públicas é que têm que se ocupar disso. O
cidadão brasileiro tem que pensar em se salvar e em salvar os que
estão em seu convívio.
E
o Estado brasileiro tem que dar ao cidadão brasileiro a condição
de sobreviver, enquanto o cidadão se preocupa em se salvar. Muitos
de nós estamos resguardados em nossas casas, mas a grande maioria
dos cidadãos brasileiros não está. E ou já está sem emprego, ou
perderá seu emprego. E ou já está com fome, ou estará com fome. E
suprir essa escassez não se faz com caridade apenas, mas com
políticas públicas.
Vamos ficar em casa e exigir que as nossas autoridades aprovem políticas públicas capazes de ajudar todos os cidadãos brasileiros a se salvarem. E que se dane, por hora, o PIB. Como diz Robert F. Kennedy, “o produto interno bruto … mede tudo … exceto aquilo que faz a vida valer a pena”.
* Luciana Grassano Melo é professora da Faculdade de Direito do Recife e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia
É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.