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“A segunda pesquisa do Ibope, encomendada pelaFolha de Pernambucoe a Rede Globo, mostrou que estamos no caminho certo. Vamos juntos em busca da mudança que o Recife precisa. Chega de política mofada.” – Daniel Coelho (PSDB) na sua página no Facebook, no dia 16 de setembro.
A 16 dias da votação do primeiro turno, o candidato tucano Daniel Coelho decidiu mostrar aos seus eleitores que a sua candidatura está crescendo e tirando a diferença para o segundo colocado, o petista e ex-prefeito João Paulo. Fez isso por meio depostagem no Facebook.
Abaixo da declaração em que cita a última pesquisa do Ibope, o candidato publicou um imagem comparando dois momentos. No primeiro, em 18 de agosto, João Paulo aparece com 32% das intenções de votos e Daniel com 11%. No segundo, João Paulo cai para 27% e Daniel sobe para 13%. Acima do gráfico, o texto é taxativo: “A diferença, que era de 21 pontos para o candidato do PT, agora é de apenas 14. Rumo ao segundo turno”.
OTruco Eleições 2016– projeto de fact-checking daAgência Públicaem parceria com aMarco Zero Conteúdoem Recife – checou a informação e chegou à conclusão que Daniel Coelho comparou pesquisas de institutos diferentes, fazendo uma leitura errônea dos dados e induzindo o leitor/eleitor ao erro. Por isso, recebe a carta “Blefe”.
Até o dia 16 de setembro haviam sido divulgadas cinco pesquisas de intenções de voto para prefeito do Recife. Duas do Ibope (Folha de Pernambuco/TV Globo), duas do Datafolha (Folha de S.Paulo/TV Globo) e uma do Instituto Maurício de Nassau (Jornal do Commercio). Embora o texto de Daniel Coelho sugira que ele está comparando dados colhidos pelo Ibope em dois momentos, na verdade, ele compara aprimeira pesquisa Datafolha, realizada em 23 e 24 de agosto e divulgada no dia 26, com asegunda pesquisa do Ibope, realizada entre 9 e 13 de setembro, e publicizada no dia 15. Ainda assim com erro na exposição dos dados.
Especialistas ouvidos peloTruco Eleições 2016foram enfáticos ao afirmar que pesquisas de institutos diferentes não podem ser comparadas porque são realizadas com metodologias, tamanhos de amostras e questionários diferentes. Checamos os registros das pesquisas no Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco e verificamos algumas dessas disparidades. O Datafolha ouviu 815 eleitores em agosto utilizando o método de abordagem em 51 pontos de fluxo na cidade, enquanto o Ibope questionou 1.001 eleitores diretamente em suas residências em setembro.
Analisando as variações das intenções de voto entre a primeira e a segunda pesquisa do Datafolha e também entre a primeira e a segunda pesquisa do Ibope, percebe-se porque o candidato Daniel Coelho não seguiu este caminho. Como se pode ver no gráfico abaixo, no Datafolha João Paulo cresceu de 32% das intenções de voto para 34% entre agosto e setembro, enquanto Daniel passou de 10% para 11%. Não houve redução da diferença entre os candidatos e a variação se deu na margem de erro das pesquisa, de três pontos percentuais.
No caso do Ibope, o índice de João Paulo se manteve em 27% entre agosto e setembro e Daniel Coelho cresceu de 11% para 13%, novamente na margem de erro da pesquisa, que também é de três pontos percentuais.
Há um outro dado comparativo importante a ser levado em consideração. Na primeira pesquisa Ibope, realizada entre 18 e 21 de agosto e publicada no dia 22, a soma das intenções de voto dos candidatos de oposição era de 57 pontos percentuais contra 26 do prefeito Geraldo Julio. Assim, a oposição tinha uma frente de 27 pontos percentuais sobre o candidato à reeleição. O cenário da mais recente pesquisa do Ibope, de 15 de setembro, mostra que a diferença caiu para dez pontos (Geraldo Julio 38%, contra 48% dos candidatos oposicionistas). Ao contrário do que Daniel Coelho sugere na sua postagem, que ele está mais perto do segundo turno, o levantamento aponta, na verdade, o aumento da probabilidadede a eleição até ser decidida em primeiro turno.
Co-autor do livro e da série de TV Vulneráveis e dos documentários Bora Ocupar e Território Suape, foi editor de política do Diário de Pernambuco, assessor de comunicação do Ministério da Saúde e secretário-adjunto de imprensa da Presidência da República