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Foto: Reprodução Facebook das candidatas
Nada mais simbólico na eleição para a nova Câmara do Recife de que o posto de recordista de votos tenha passado da ultraconservadora Michele Collins (PP) para a advogada e historiadora feminista Dani Portela (Psol). Michele foi reeleita, mas viu seu eleitorado encolher de 15.357, em 2016, para 6.823 eleitores agora, enquanto Dani obteve 14.114 votos. A candidata do Psol colhe os frutos de sua atuação política a partir da candidatura a governadora de Pernambuco em 2018.
Outras duas candidatas do campo feminista vão estrear no legislativo municipal, a advogada e professora da Faculdade de Direito Liana Cirne (PT) e a ex-secretária da Mulher do Recife e poeta Cida Pedrosa (PCdoB). Embora em campos opostos neste segundo turno – Liana, assim como Dani, apoia a candidatura de Marília Arraes à prefeitura, e Cida, a de João Campos – é de se imaginar que as três estarão unidas em vários temas relativos aos direitos das mulheres. E contarão com o reforço de parlamentares progressistas como o vereador reeleito Ivan Moraes (Psol).
Os confrontos com o campo conservador devem ganhar novo status na câmara. Se os evangélicos desidrataram a força eleitoral da missionária Michele Collins e não reelegeram a Irmã Aimée (PSB), por outro lado, deram a terceira maior votação na disputa da câmara para o pastor Júnior Tércio (Podemos), marido da deputada estadual ultraconservadora Clarissa de Tércio, uma das maiores incentivadoras do uso da cloroquina contra a Covid-19 no estado, embora o medicamento possa potencialmente trazer complicações e não a cura aos contaminados pelo coronavírus.
Os embates de Clarissa Tércio e do deputado Cleiton Collins, marido de Michelle, com as codeputadas das Juntas na Assembleia de Pernambuco podem ser uma base para compreendermos o que virá pela frente na câmara, antepondo os Tércio e Collins às novas vereadoras do Psol, PT e PCdoB.
Uma coisa não mudou na Casa José Mariano, a hegemonia do PSB. O partido fez doze vereadores, sendo que dez deles foram reeleitos. Os nomes novos são Carlos Muniz e Joselito Ferreira. Na conta do lápis, o PSB perdeu seis parlamentares se considerarmos a atual formação na Câmara, onde detém 18 cadeiras. Mas se levarmos em conta a eleição de 2016, o número de eleitos cresceu em quatro, já que o PSB elegeu oito vereadores naquele ano. Sim, em quatro anos o partido mais que dobrou de tamanho, abocanhando em suas fileiras candidatos que chegaram ao legislativo por outras legendas.
Ao todo, a coligação que apoiou João Campos no primeiro turno (PSB, MDB, Rede, PCdoB, Solidariedade, Pros, Avante, Republicanos, PP, PDT e PSD) elegeu 25 dos 39 vereadores da Casa. Uma má notícia para uma eventual vitória de Marília Arraes nas urnas. Apenas cinco candidatos a vereador da sua coligação proporcional (PT, Psol, PTC e PMB) foram eleitos. Um dos três petistas, Osmar Ricardo se posicionou contra a candidatura dela à prefeitura, defendendo a manutenção da aliança com o PSB. O contrário do vereador reeleito Jairo Brito (PT) que, assim como Liana Cirne, apoiou e se engajou na campanha de Marília.
Na coligação pró João Campos a surpresa foi a votação de Andreza Romero (PP). Com 13.249 votos, ela obteve a segunda maior votação para a câmara. Andreza, como revelou a Marco Zero, havia sido a candidata que mais gastou com recursos em impulsionamento no Facebook quando a reportagem foi publicada. Esposa do deputado estadual e ex-vereador Romero Albuquerque (PP), Andreza fez sua campanha focada na defesa dos animais, contra os maus tratos.
O palanque da Delegada Patrícia (Podemos) elegeu três vereadores, entre eles o pastor Júnior Tércio e o Dr. Tadeu Calheiros, do Podemos, e o reeleito Júnior Bocão, do Cidadania. O de Mendonça Filho (DEM, PSDB, PTB e PL) fez apenas um; o do coronel Feitosa (PSC, DC, Patriota), três; e Carlos Andrade Lima (PSL), só um. E o deputado Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB), que renunciou à candidatura à Prefeitura do Recife conseguiu colocar na Câmara o filho Marco Aurélio Filho (PRTB).
Dos 39 vereadores que tomarão posse no próximo dia 1 de janeiro, 22 foram reeleitos e 17 chegam pela primeira vez à Câmara do Recife, uma renovação de pouco mais de 40%, no mesmo patamar da legislatura 2017-2020. Em 2016 foram eleitas seis mulheres, agora, sete. Como em toda eleição, a disputa deixou pelo caminho nomes que protagonizaram os debates na Casa ou na política municipal nos últimos anos, como os dos vereadores Rinaldo Júnior (PSB), Jayme Asfora (Cidadania), Antônio Luiz Neto (PSB) e João da Costa (PT).
Co-autor do livro e da série de TV Vulneráveis e dos documentários Bora Ocupar e Território Suape, foi editor de política do Diário de Pernambuco, assessor de comunicação do Ministério da Saúde e secretário-adjunto de imprensa da Presidência da República