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Um dia após “comemorar” a abertura de 80 novos leitos de UTI, o governo de Pernambuco contabiliza o recorde de pacientes com covid-19 aguardando transferência nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do estado. Até o início da tarde desta sexta-feira (12), pelo menos 83 pessoas diagnosticadas com o coronavírus estão internadas naquelas que são consideradas a porta de entrada da rede pública de saúde para casos de média e alta complexidade.
Quase 80% das vítimas da covid-19 que estão nas UPAs sequer têm previsão para qual hospital serão transferidas, embora já estejam cadastradas no setor de regulação da Secretaria Estadual de Saúde. Outras 14 pessoas, estão aguardando a liberação de ambulâncias para serem removidas. Os veículos, por sua vez, dependem da disponibilidade de macas que ficam retidas nas unidades de saúde.
A UPA Senador Wilson Campos, em Barra de Jangada, Jaboatão dos Guararapes, é a unidade com o maior número de infectados pelo coronavírus. No total, são dez pessoas internadas no local, sendo três com idades entre 52 anos e 70 anos em situação grave aguardando leito de UTI. A UPA é gerida pelo Imip. Em seguida no ranking das mais lotadas, vem Nova Descoberta, no Recife, e Petrolina, no sertão, com oito pacientes cada. Dos 16, metade precisam de UTI.
A lista da SES, que mostra a quantidade de pacientes em UPAs, revela também que há pessoas que estão desde a última segunda-feira (8) internadas, quando deveriam permanecer no máximo 24 horas, conforme preconiza o Sistema Único de Saúde (SUS). A única UPA que até esta tarde não tinha pacientes com covid-19 era a unidade de Caruaru, no agreste.
Em dezembro, a Marco Zero Conteúdo mostrou que em algumas UPAs os plantões chegaram a ser fechados devido ao grande número de pacientes, inclusive, nos corredores. Na ocasião, profissionais de saúde e especialistas na área de saúde pública apontaram a escassez de macas, mas também a lógica equivocada de investir na abertura de leitos, porém negligenciando a vigilância epidemiológica e sem promover medidas efetivas de restrição de circulação de pessoas para conter o avanço do coronavírus.
“Estamos há um ano repetindo que o enfrentamento a uma pandemia que 85% dos pacientes são assintomáticos ou apresentam sintomas leves é a vigilância epidemiológica com busca ativa dos contatos para testagem é assim que se consegue diminuir a transmissão viral. Só abrir leitos não adianta. Antes a mensagem simbólica era ‘morre, mas morre num leito’, agora nem isso mais”, lamenta a médica sanitarista e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Bernadete Perez.
A especialista também aponta o efeito do “negacionismo da pandemia em Pernambuco” somado a falta de uma coordenação central capaz de orientar uma estratégia global contra o coronavírus. “Qual o plano de vigilância genética da mutação viral? Quais foram as ações de fortalecimento da atenção primária? Quais as medidas de proteção social que ajude a população a prevenir a doença, por exemplo, fornecimento ininterrupto de água?”, questiona.
Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde não quis comentar sobre o assunto.
Esta reportagem é uma produção do Programa de Diversidade nas Redações, realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo Representativo, com o apoio do Google News Initiative”.
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Jornalista formado pela Unicap e mestrando em jornalismo pela UFPB. Atuou como repórter no Diario de Pernambuco e Folha de Pernambuco. Foi trainee e correspondente da Folha de S.Paulo, correspondente do Estadão, colaborador do UOL e da Veja, além de assessor de imprensa. Vamos contar novas histórias? Manda a tua para klebernunes.marcozero@gmail.com