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Crédito: Alex Kopeykin/Pixabay
Para cada mil crianças nascidas no Recife, entre 2010 e 2016, pelo menos 29 tiveram sífilis congênita, ou seja, a infecção ocorreu da mãe para o bebê durante o período da gestação. Essa taxa é quatro vezes maior do que a média de todo o Brasil, que é de 6,5 para mil nascidos. O que já parece grave é, na verdade, muito pior: mais de 80% desses meninos e dessas meninas morreram em decorrência da doença, mas sem o acompanhamento e o registro da Secretaria Municipal de Saúde.
Os dados são de um estudo publicado nesta quarta-feira, 25 de agosto, na revista Epidemiologia e Serviços de Saúde. Por um lado, os números revelam o trabalho de busca ativa da vigilância epidemiológica do Recife, que consegue registrar uma alta taxa de incidência da enfermidade entre as gestantes. Por outro, a subnotificação das mortes esconde uma realidade endêmica que põe em risco outras vidas que mal começaram.
Para estimar as subnotificações de óbitos fetais e infantis que tiveram a sífilis congênita como causa básica ou associada, os pesquisadores cruzaram dados registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Os casos confirmados da doença precisam ser, obrigatoriamente, notificados no Sinan. Além da subnotificação de 80,9% no sistema, no SIM houve subnotificação de 7% das mortes relacionadas à sífilis congênita.
Os bancos de dados levam dois anos para consolidar as informações, por isso a pesquisa referente aos números até o ano de 2016 só teve início em2018 e foi concluída no fim de 2019, mas só foi publicada agora por causa da pandemia de covid-19. Participaram da investigação pesquisadoras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), da Fundação Joaquim Nabuco, do Instituto Aggeu Magalhães, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da própria Secretaria de Saúde do Recife.
A biomédica sanitarista Martha Maria de Albuquerque Belo, autora do estudo, explica que a alta taxa de subnotificação indica que há falhas diversas na captação e notificação desses casos no Sinan pela assistência materno-infantil, o que faz com que as autoridades sanitárias só tomem ciência deles quando o paciente morre. Segundo ela, a taxa de mais de 80% na subnotificação impressionou toda equipe de pesquisadoras.
“Há problemas na relação de intersetorialidade, ou seja, um setor acaba não se comunicando com outro dentro da mesma área que é a saúde. Não há uma continuidade do momento da notificação até o óbito, isso faz com que a gestão não tenha conhecimento da realidade e, portanto, não consiga formalizar as estratégias para conter a doença”, afirma.
Em novembro do ano passado, a Prefeitura do Recife divulgou no site oficial que entre 2017 e 2019 houve uma redução da taxa de incidência de sífilis congênita nos nascidos vivos, para cada mil bebês 26,3 tinham a doença. “Essa queda é resultado da busca ativa, mas é preciso entender que a sífilis é uma doença negligenciada e uma endemia no país, é preciso investir em orientação sexual e tratar principalmente os parceiros dessas mulheres”, avalia Martha Maria.
A secretaria municipal de Saúde da Prefeitura da Cidade do Recife foi procurada para se posicionar sobre os resultados do estudo, mas até o momento de fechamento dessa matéria texto ainda não havia dado retorno. Quando e se a resposta for enviada, o texto será imediatamente atualizado.
Esta reportagem é uma produção do Programa de Diversidade nas Redações, realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo Representativo, com o apoio do Google News Initiative”.
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Jornalista formado pela Unicap e mestrando em jornalismo pela UFPB. Atuou como repórter no Diario de Pernambuco e Folha de Pernambuco. Foi trainee e correspondente da Folha de S.Paulo, correspondente do Estadão, colaborador do UOL e da Veja, além de assessor de imprensa. Vamos contar novas histórias? Manda a tua para klebernunes.marcozero@gmail.com