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Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo
Nas ruas esburacadas, nas marcas deixadas pela água nas paredes, na lama espalhada por toda parte ou nos entulhos e móveis inutilizados depositados nas calçadas. Os estragos causados pelas fortes chuvas dos últimos dias na Região Metropolitana do Recife estavam visíveis por todo bairro da Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes. Com o sol reaparecendo timidamente nesta terça-feira, as pessoas começaram a retornar às suas casas e a realizar reparos emergenciais, sinalizando que, depois da tempestade, o esforço de reconstrução havia começado.
Mas será um longo trabalho. Isso porque ninguém no bairro lembra de uma inundação maior do que a do sábado passado. A água chegou em áreas que nunca haviam alagado. Nos pontos mais próximos ao rio Jaboatão e aos córregos que cortam a região, as casas mais baixas ficaram submersas e as pessoas precisaram ser resgatadas de barco e até de helicóptero.
A comunidade do Brasil Novo foi uma das mais atingidas. Marcos Luiz mora há 27 anos, com a mulher e dois filhos, na última casa da rua Hildo Cavalcanti (antiga rua Principal), a cerca de 50 metros do córrego Mariana, um braço do rio Jaboatão. Como mora lá há muito tempo, Marcos já havia se preparado para os recorrentes alagamentos. Baseado nas inundações do início dos anos 2000, ele reformou sua casa, elevando o piso em 1,25 metro. Mesmo assim, após as chuvas de sábado, a marca na parede da sala media 90 centímetros de altura. “Nunca vi nada igual. Para ter 90 centímetros dentro de casa, a água do córrego subiu mais de 2 metros. Perdi praticamente tudo”, lamenta Marcos.
Se a casa de Marcos não fosse tão alta, teria acontecido com ela o que aconteceu com a do vizinho da frente, Fernando José da Silva. Mais alguns centímetros e a residência de Fernando teria ficado totalmente submersa. Na parede da frente, a marca da cheia de 2005, que ainda está pintada lá bem abaixo do nível atingido agora, deixava claro a dimensão do que aconteceu no sábado. “Ainda não tive coragem de entrar. Tá tudo lá dentro, certidão de nascimento, de casamento… perdi tudo”.
Tanto Marcos quanto Fernando relataram a velocidade com que a água subiu no sábado. “Às 6h, estava na frente da casa. Às 8h, ela chegou na rampa. Nessa hora levantamos os móveis e fomos para casa dos parentes”, lembra Marcos. E Fernando complementa: “em três horas encheu tudo”.
No início da tarde da terça-feira, os dois esperavam o restabelecimento do fornecimento de energia e água para começarem a reconstruir suas vidas. “Vou juntar recursos para fazer um primeiro andar e abandonar o térreo”, planeja Marcos.
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Sérgio Miguel Buarque é Coordenador Executivo da Marco Zero Conteúdo. Formado em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, trabalhou no Diario de Pernambuco entre 1998 e 2014. Começou a carreira como repórter da editoria de Esportes onde, em 2002, passou a ser editor-assistente. Ocupou ainda os cargos de editor-executivo (2007 a 2014) e de editor de Política (2004 a 2007). Em 2011, concluiu o curso Master em Jornalismo Digital pelo Instituto Internacional de Ciências Sociais.