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Tiros em Casa Amarela elevam estado de alerta entre candidatos da esquerda

Inácio França / 22/09/2022
Foto de baixo para cima do prédio atingido por disparos em Casa Amarela, com a única bandeira vermelha agitada pelo vento entre as varandas da fachada cinza-azulada, com cerâmica branca nas laterais.

Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Os disparos contra a janela de um apartamento onde estava pendurada uma bandeira vermelha com o nome de Lula e a estrela do PT elevou o grau de alerta entre os políticos pernambucanos que apoiam a candidatura do ex-presidente. Um dos primeiros a reagir foi o deputado federal Danilo Cabral, candidato a governador pelo PSB, cujo comitê central de campanha fica a apenas 750 metros do prédio atingido pelos tiros.

Ainda na tarde de quarta-feira, Cabral usou sua conta no Twitter para alertar que “tudo leva a crer que teve motivação política os tiros que atingiram apartamentos no Recife, nesta madrugada”. O candidato não mencionou se estava emitindo apenas sua opinião a partir dos fatos noticiados ou se recebeu informações de bastidores de autoridades do governo estadual que ele apoia e representa nessas eleições.

A vice-governadora do estado e candidata à reeleição na chapa da Frente Popular, Luciana Santos, demonstrou estar preocupada com a escalada da violência. Ela revelou que manteve contato com o secretário de Defesa Social, Humberto Freire de Barros, pedindo que as investigações do caso sejam agilizadas. “Ele me disse exatamente isso: ‘estamos investigando e fazendo perícias para identificar a trajetória dos disparos e identificar os autores’.”.

Também ontem, o vereador do Recife e candidato a deputado estadual Ivan Moraes Filho (PSOL) postou um vídeo em seu perfil no Instagram defendendo a discussão sobre violência política não é sobre direita ou sobre esquerda, mas “sobre poder ter a possibilidade de discordar, em que antagonistas possam debater, chegar a consensos, a vitórias ou a derrotas”. Ao final, expressou preocupação: “É preciso defender a democracia enquanto dá tempo”.

Além do vídeo, ele relatou em entrevista que tem “feito campanha normalmente, mas tenho visto também um receio por parte de muitas pessoas em se botar um adesivo num carro, uma bandeira numa casa”.

Sua colega de bancada na Câmara e na chapa proporcional do PSOL, Dani Portela, não pode dizer com tanta tranquilidade que a campanha está sendo realizada dentro da normalidade. Segundo ela, depois da sua bem sucedida atuação para impedir que a Câmara Municipal aprovasse uma homenagem à Michelle Bolsonaro, os bolsonaristas fazem marcação cerrada quando a reconhecem em alguma atividade na rua. “Não tem sido fácil. Escuto logo gritos de ‘Aqui é Bolsonaro’ e ‘Luladrão’. Como é fácil me reconhecer na rua com esse cabelo e com a flor, isso acontece com muita frequência”.

Dani informa que, há uma semana, uma eleitora que havia colado um adesivo de sua campanha no carro, teve o para-brisas quebrado, mas ela não quis prestar queixa para evitar se expor ainda mais. “Percebemos que a procura por adesivos de carro diminuiu muito. Tudo isso gera medo, nas não podemos deixar que esse medo nos paralise, não podemos dar nenhum passo atrás”, assegurou a candidata.

PT cobra apuração

Pelo Partido dos Trabalhadores, quem se pronunciou foi o senador Humberto Costa, coordenador da campanha de Lula em Pernambuco. Com um fio no Twitter, ele responsabilizou Jair Bolsonaro por pregar a intolerância, mas cobrou com ênfase as autoridades estaduais de segurança.:”Exigimos das autoridades uma investigação séria e célere do ato e que os responsáveis sejam punidos com o rigor da lei. Estamos solidários à família vítima do atentado e aos moradores da localidade”. O senador descartou a hipótese dos disparos contra o apartamento de um eleitor de Lula ser um caso isolado.

Em seguida, o presidente estadual da legenda, deputado estadual Doriel Barros, também se posicionou sobre o episódio com uma nota de repúdio que segue na mesma linha: “Casos como esse vêm acontecendo de forma cada vez mais frequente. Repudio veementemente esse crime que foi cometido, não só contra essa família, mas contra todos/as os/as brasileiros/as que devem ter a sua liberdade de expressão garantida, sem medo de represálias. Seguirei cobrando das autoridades a celeridade das investigações e a punição dos responsáveis.”

O orgulho perdido dos CACs

Em tratamento médico na capital paulista, o ex-deputado estadual Clodoaldo Torres, ferido com três tiros a queima-roupa no mais famoso caso de violência política da história recente do estado, afirmou não ser possível afirmar que os disparos tenham sido obra de um CAC (sigla de Colecionador, Atirador e Caçador Esportivo, autorizados por lei a manter coleções de armas de fogo).

“Pelas informações disponíveis, é prematuro afirmar que o autor desse crime foi um CAC, mas é sobre a categoria que imediatamente recaem todas as suspeitas em razão da política do Governo Federal. Antes, nós CACs éramos 13 mil em todo o país, hoje são quase 700 mil. Tínhamos orgulho de possuirmos armas de fogo e sempre estar distantes de qualquer episódio de violência, mas Bolsonaro acabou com esse orgulho”, explicou Torres, que é colecionador e atirador desde os anos 1990 e já presidiu o Clube de Tiro do Recife.

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AUTOR
Foto Inácio França
Inácio França

Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.