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Crédito: Acervo pessoal/Marcelo Mário de Melo
O jornalista, poeta e escritor Marcelo Mário de Melo, de 78 anos, com vasta experiência na luta contra a ditadura militar nos anos 1970 e de militância cultural após a redemocratização, tirou do seu próprio bolso o dinheiro para imprimir 500 panfletos com seu manifesto-proposta para que as organizações de esquerda invistam pesadamente naquilo que ele chama de “enraizamento nas bases”. O material impresso será distribuído para a militância petista que estará presente na festa do Coletivo 13, em Casa Amarela, no próximo sábado.
Marcelo antecipou o conteúdo para a MZ e explicou que “nós, da esquerda, não podemos ficar esperando Lula resolver todos os problemas do Brasil. Ele será chefe de Estado e de Governo numa coalizão ampla de forças e precisa ficar à vontade para desempenhar essa função. O papel de organizar e mobilizar é nosso”.
Leia a íntegra do manifesto-proposta de Marcelo Mário de Melo:
1- O presidente Lula assumirá a função de chefe de Estado, representando um amplo leque de forças políticas que assumiram uma posição antifascista. Sua vitória se deu por reduzida margem. Ele encontrará uma Constituição mutilada por emendas constitucionais de cunho antinacional e antipopular. Os resultados do pleito revelam o fortalecimento parlamentar do neofascismo, além da eleição de uma expressiva quantidade de governadores que lhe são afins. Defrontamo-nos no Brasil com o neofascismo munido de uma liderança expressiva, uma militância ativa, apoio empresarial e uma malha de comunicação significativa. Sem falar no apoio dos evangélicos enraizados nas comunidades, realizando trabalhos assistenciais onde não chega a ação do Estado. Presentes em todos os presídios do país e com forte participação na televisão, no rádio e nas mídias sociais.
2- Mais do que nunca, os democratas, os cidadãos de esquerda, os militantes de partidos políticos, movimentos sindicais e sociais, precisam ter a clareza e a consciência do papel específico que lhes cabe no
no movimento de massas. Em lugar de ficarem à espera das melhorias que o governo Lula for implantando, para propagandeá-las, é necessário alargar e aprofundar as raízes no seio do povo. Acima de tudo, desenvolvendo um trabalho no sentido de marcar presença e fincar raízes nas comunidades, assim como fazem os evangélicos, os cabos eleitorais, os bandidos e os milicianos. Procurando comunicar-se com o povo em linguagem simples e demonstrativa, despojada dos dialetos militantes e das professorais “colocações”. Procurando falar para ser entendido, e não para ser decifrado.
3 – Para discutir estas questões cruciais, propomos a constituição do grupo de debates “Fortalecer a democracia nas bases”. Seu objetivo é aprofundar questões e encontrar alternativas para suprir as deficiências da militância quanto ao seu enraizamento nas bases da sociedade. Não se trata de uma nova tendência política nem de algo contrário ao que existe. Mas de um grupo de discussões aglutinador e unitário, buscando alternativas práticas em matéria de formas de luta e de organização. O objetivo é subsidiar a militância nos diversos níveis, envolvendo-a nas discussões. Com os olhos voltados para novas realidades econômico-sociais, culturais e comunicativas, especialmente, as mudanças que ocorrem na organização da força de trabalho em diversas áreas. Tudo isso exigindo novas formas de mobilização.
4 – O governo Lula precisará contar com o suporte da mobilização popular articulada pelos partidos políticos, os movimentos sindicais e sociais e os democratas em geral. Sendo exigido o esforço máximo para se romper com a velha rotina de ficar esperando e aplaudindo as ações do governo É preciso buscar novos caminhos de inserção e mobilização social. O tão decantado e tão pouco praticado “trabalho de base”. Ressaltando-se a necessidade de as campanhas eleitorais bienais incluírem as tarefas voltadas para esse enraizamento. Não se restringindo à unilateralidade do eleitoralismo que vem predominando, em que os partidos políticos se amesquinham à condição de agências eleitorais. Salientando que quando mais houver enraizamento entre as massas, mais fortes serão as representações parlamentares democráticas e progressistas em todos os níveis.
5 – Contribuímos para dar um passo no sentido desse enraizamento, lançando este Manifesto, convocando às adesões e contribuições. Para, em seguida, dinamizarmos os debates. Enquanto se dá a transição de governo, discutamos as nossas responsabilidades sociais e militantes nos partidos e movimentos, no sentido de um redirecionamento, atentos à urgência que é exigida pelo grave momento político por que passa o Brasil.
A hora é agora.
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