Diretor do Espaço Ciência soube da exoneração por recado
Crédito: Ademar Filho/SEE
O decreto de Raquel Lyra que exonerou todos os cargos comissionados de uma só vez, suspendeu as licenças e cortou as gratificações de todos os servidores estaduais continua a gerar situações inusitadas na administração pública de Pernambuco. A mais recente tem como protagonista o diretor do Espaço Ciência, Antônio Carlos Pavão, que recebeu o comunicado de que não permaneceria exercendo a função por meio de uma funcionária administrativa do Espaço. A servidora teve de ir à Secretaria de Ciência e Tecnologia para participar de uma reunião, nesta quinta-feira, e recebeu o recado: “Fala pro professor que ele tá fora”.
Pavão, que fundou o Espaço Ciência e o dirige desde 1995 na condição de professor cedido pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), explicou que nem ficou chateado com a falta de cortesia. “O problema é que um afastamento feito dessa forma prejudica a instituição, pois eu sequer poderei fazer a transição, ou seja, repassar informações para o próximo diretor ou diretora”, explicou.
No caso do Espaço Ciência, a transição seria fundamental, pois a maior parte das atividades realizadas naquele centro de inclusão e formação científica não utiliza recursos do Governo do Estado, mas verbas captadas por meio de editais em nome do próprio Pavão, já que o Espaço não possui CNPJ próprio. “Eu teria de transmitir para os novos gestores detalhes sobre quatro novos projetos, todos com verba assegurada, no valor de quase R$ 1,8 milhão. Seria um prazer fazer isso, pois meu interesse é que o Espaço cresça ainda mais”, contou.
Como a transição não acontecerá, o diretor ou diretora a ser escolhido pela secretária Mauricélia Vidal terá de descobrir sozinho como o projeto foi pensado, qual o nome do técnico do CNPq que acompanhará a execução das ações, com quem negociar para acelerar a liberação das parcelas, cuidados a serem tomados na contratação de fornecedores e na prestação de contas, por exemplo. Além disso, terá articular para que, mesmo sem Pavão, titular dos projetos, o Governo Federal libere o dinheiro.
O maior projeto aprovado prevê R$ 800 mil a serem repassados pelo CNPq para custear atividades do Espaço; outro projeto, de R$ 300 mil, diz respeito a realização da 29ª feira Ciência Jovem, uma das maiores do país; R$ 230 mil foram captados por Pavão para o Torneio Virtual de Ciência; por fim, um projeto de R$ 400 mil garantiu a aquisição de um ônibus para a iniciativa Ciência Móvel, que deverá levar experiências e laboratórios às escolas públicas e comunidades.
Direito da governadora
Pavão explicou que, a cada mudança de governo, ele se prepara para um eventual afastamento da diretoria, mas até mesmo quando Miguel Arraes foi sucedido pelo adversário Jarbas Vasconcelos, em 1998, acabou sendo convidado a permanecer. “A governadora está no direito dela, não tenho queixas em relação a isso. O Espaço Ciência foi construído de maneira que possa caminhar pelas próprias pernas, sem minha presença”, assegurou.
Questionado se a exoneração está ligada ao fato de, nas últimas semanas de 2022, ter mobilizado a sociedade civil para impedir que 8 mil m2 do terreno do Espaço Ciência fosse doado pelo governo Paulo Câmara para uma empresa privada, ele responde de maneira cautelosa: “Não posso dissociar uma coisa da outra, mas não tenho o direito de afirmar que foi por essa razão”.
Nesta sexta-feira, dia 6 de janeiro, ele irá se apresentar à UFPE para reassumir suas funções como professor de Química.
A Marco Zero procurou a assessoria de comunicação da secretaria estadual de Ciência e Tecnologia para saber quem assumiria a direção do Espaço Ciência, mas não conseguiu fazer contato.
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Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.
