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Disputa por cargos de 2º escalão é decisiva para garantir base de apoio para Lula no Congresso Nacional

Marco Zero Conteúdo / 11/05/2023
Foto do prédio do Congresso Nacional, com as cúpulas do Senado e da Câmara ao entardecer, com por do sol ao fundo e espelho d'água em primeiro plano.

Crédito: Pedro França/Senado Federal

por Jorge Cavalcanti*

Enquanto o noticiário gerado em Brasília debate o projeto de lei das Fake News e os juros altos impostos pelo Banco Central, longe da atenção da maioria da população, há uma movimentação de bastidor acompanhada minuciosamente pela classe política: a disputa pelas indicações para os cargos e órgãos de segundo escalão do governo federal. Em Pernambuco, a decisão mais recente foi Rosano Carvalho, do PT, como superintendente estadual do Ministério da Saúde.

Psicólogo e advogado, Rosano é ligado ao senador Humberto Costa e tomou posse no cargo na segunda-feira (8), em cerimônia realizada no auditório de um sindicato, no Recife. Um dia depois, integrantes do partido se reuniram , em tom de preocupação, para tratar do restante das indicações da legenda. Em reserva, há a percepção de que o PT deve ser “sacrificado”, ocupando menos espaço no governo federal do que gostaria, em função da necessidade do presidente Lula de formar uma base de apoio no Congresso.

A maioria das indicações para o segundo escalão ainda está travada na Casa Civil justamente em função da dificuldade de delimitar o espaço de cada liderança partidária. “É mais complexo do que um quebra-cabeça. Não basta apenas encaixar a peça certa, precisa também lidar com a insatisfação de quem foi preterido. É o jogo de achar o ponto entre o programático e o pragmático”, conta um político experiente, que já participou da formação de governos.

Uma gigante chamada Codevasf

A superintendência de Petrolina da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) ficou com o deputado federal Silvio Costa Filho. Também presidente do Republicanos no Estado, Silvinho, como é chamado, emplacou seu ex-chefe de gabinete Samuel Andrade para o posto sediado na “capital do Sertão” que, no governo Bolsonaro, foi controlado pela família Coelho. 

A indicação foi fechada numa reunião do parlamentar na Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República e ecoou nos bastidores entre políticos e militantes de partidos. O deputado federal Carlos Veras (PT) chegou a declarar que o PT não abria mão da regional.

Com 12 superintendências em funcionamento, a Codevasf é um dos espaços de poder e decisão mais cobiçado pela classe política. Os números da estatal são superlativos e explicam o porquê: orçamento de R$ 2,7 bilhões no ano passado e área de atuação que extrapola as fronteiras do Nordeste e chega a 2.675 dos 5.568 municípios brasileiros. 

A Codevasf esteve no centro do escândalo do orçamento secreto, prática legislativa que – após ser revelado pelo jornal Estadão – foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal em dezembro do ano passado. Contratos da estatal com uma empreiteira foram alvo de investigação da Polícia Federal por suspeita de corrupção.

Samuel Andrade tem uma trajetória singular na política. Em dois anos, deixou a Câmara Municipal de Condado, município da Mata Norte pernambucana, onde está vereador licenciado em seu terceiro mandato, para sentar-se numa das cadeiras mais afortunadas do governo federal no Nordeste. O voo contou com uma escala: em maio de 2021, foi empossado secretário executivo de Desenvolvimento Urbano pelo então governador Paulo Câmara (sem partido), como mostra a imagem que Samuel fez questão de fixar no topo do seu perfil no Instagram, ladeada por fotos com o presidente Lula e a família Costa.

Na ponta do lápis

“Ele (Silvinho) tem dito que é porque tem trabalhado e garantido 25 votos da bancada do Republicanos com o governo”, conta um deputado de Pernambuco. Para construir uma base forte no Congresso, o governo precisa ter ao lado três quintos dos deputados e deputadas – exatamente 308 dos 513. Este é o quórum, por exemplo, para a aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC). 

De acordo com a projeção do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), hoje o governo do presidente Lula tem o apoio consistente de 140 parlamentares e o apoio condicionado de outros 206. Compõem o bloco dos “independentes” as siglas União Brasil, PSD, MDB, Republicanos, Podemos + PSC e Patriota.

Além da Codevasf, há outros postos valiosos definidos. Na presidência da Fundação Joaquim Nabuco, a doutora em Educação Márcia Ângela Aguiar foi empossada numa cerimônia no Cinema do Museu, no Recife, que contou com a presença do ministro Camilo Santana (Educação) e da governadora Raquel Lyra (PSDB). A indicação partiu da senadora Teresa Leitão (PT).

A um mês e 15 dias na presidência do Banco do Nordeste, o ex-governador Paulo Câmara teve a indicação preterida pelo seu agora ex-partido, o PSB, mas foi escolhido por indicação do próprio presidente. Lá atrás, Lula teve em Paulo Câmara uma ponte para a reaproximação entre PT e PSB.

Marília e Danilo sem nada, até agora

Os dois candidatos ao governo do Estado que defenderam, ano passado, o palanque da candidatura de Lula a presidente – até o momento – não foram nomeados ou patrocinaram indicações para o segundo escalão do governo federal. Marília Arraes (Solidariedade) e Danilo Cabral (PSB) concluíram os mandatos na Câmara dos Deputados no final de 2022 e, por ora, ainda não reposicionaram a atuação na vida pública. 

Nos bastidores, tanto Marília quanto Danilo trabalharam para assumir a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Ambos encontraram resistência no PT. 

Contra Danilo, pesou ainda o fato do PSB ter sido bem representado, com três ministérios e dois ex-deputados federais também pernambucanos em postos relevantes: Tadeu Alencar no comando da Secretaria de Segurança Nacional do Ministério da Justiça, e Milton Coelho na Secretaria de Micro e Pequenas Empresas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

*Jornalista com 19 anos de atuação profissional e especial interesse na política e em narrativas de garantia, defesa e promoção de Direitos Humanos e Segurança Cidadã.

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