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Crédito: Manoel Teixeira
Dois peixes-boi fêmeas foram encontrados mortos no estuário do rio Tracunhaém, divisa dos estados de Pernambuco e Paraíba. Ainda não se sabe o que provocou a morte dos animais, que não tinham ferimentos aparentes e foram encontrados por pescadores na altura do local chamado Porto Congaçari, na margem paraibana do rio, região que faz parte da Reserva Extrativista Acaú-Goiana.
Quem encontrou os corpos dos animais foram pescadores e catadores de caranguejo que vivem na região. Um dos animais, já em estágio avançado de decomposição, estava encalhado no manguezal e foi encontrado no sábado, 17 de junho. A outra fêmea flutuava no rio na quinta-feira, dia 15. O presidente da Associação dos Catadores de Caranguejo de Caaporã, na Paraíba, Manoel Teixeira, não se recorda de mortes de peixe-boi no estuário. “Tenho 35 anos de idade e nunca vi isso acontecer aqui, ninguém nunca viu peixe-boi morrer de Congaçari até Goiana”, garantiu.
Logo depois de cada descoberta, equipes do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, da Fundação Mamíferos Aquáticos, foram até o local, fizeram as necrópsias, recolheram amostras de tecidos que foram encaminhadas para laboratórios públicos de análises patológicas e levaram os cadáveres dos mamíferos. “Foram dois eventos, mas pela condição de decomposição das carcaças, ambos aconteceram na mesma ocasião”, explicou João Gomes Borges, coordenador do projeto Viva o Peixei-Boi Marinho.
De acordo com Borges, as mortes ocorreram, provavelmente, na manhã ou madrugada da quarta-feira, por essa razão o animal encontrado na quinta-feira estava em melhores condições e possibilitou uma avaliação mais adequada. Apesar disso, ele disse que será necessário esperar quatro semanas pelos resultados dos exames laboratoriais das amostras biológicas para se ter certeza da causa das mortes, mas advertiu que “nenhuma hipótese está descartada”. Os animais mortos não eram monitorados pelo Projeto.
O coordenador do projeto confirmou o que disse o pescador Teixeira sobre a raridade desse tipo de incidente no litoral da Paraíba e de Pernambuco. “O que nós tivemos neste ano, há uns três meses, foi um filhote encontrado vivo, encalhado numa praia relativamente próxima, ali no entorno de Acaú, mas morto faz bastante tempo que a gente não tem casos nessa localidade”, explicou, classificando como “preocupantes” os dois óbitos.
Se João Gomes Borges demonstrou cautela, os pescadores da região suspeitam que as duas fêmeas morreram envenenadas. “A questão é envenenamento”, acusa, com ênfase, Manoel Teixeira, da Associação dos Catadores de Caranguejo.
Para o representante da comunidade, a origem da substância que matou os peixes-boi pode ser alguma das fazendas de camarão vizinhas à Reserva. No entanto, Teixeira tem uma suspeita mais forte: agrotóxico usado pelas usinas de cana-de-açúcar da região pode ter chegado ao local onde vivem os peixes-boi. “Há pouco tempo um drone foi fazer aplicação de veneno, saiu da da rota e passou o veneno aqui, pegando as lavouras de inhame e de macaxeira dos agricultores. Inclusive até foi feito um B.O. [boletim de ocorrência] na delegacia de Caaporã [município paraibano, a 20 quilômetros de Goiana]”, contou.
João Gomes Borges, do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, considera essa possibilidade, mas fez algumas ressalvas: “considerando que o peixe-boi é um animal bastante resistente, é muito provável que também houvesse no ambiente outras evidências de mortandade de organismos mais sensíveis, como peixes e caranguejos mortos, mas a princípio a nossa equipe não identificou nada nesse sentido”.
O Trichechus manatus, nome científico da espécie, pode viver até 60 anos. Trata-se de uma animal de grande porte que chega a pesar 800 quilos e alcança quatro metros de comprimento. Ameaçado de extinção, a estimativa é que a população de peixes-boi marinho na faixa de litoral entre Alagoas e Piauí seja de 1.100 exemplares, de acordo com pesquisas da Fundação Mamíferos Aquáticos, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal do Rio Grande (FURG). No mundo, seriam 130 mil indivíduos, segundo o site do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho.
(colaborou Inácio França)
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Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com