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Crédito: Carlos Eduardo Ribeiro Jr/@InfoSãoFrancisco
A Bacia Hidrográfica do rio São Francisco, a mais importante do Nordeste, perdeu, entre 2019 e 2022, uma área de cobertura vegetal equivalente ao tamanho do município de Juazeiro, na Bahia. A área desmatada nos últimos quatro anos foi de 638.338 hectares, segundo levantamento concluído recentemente pela iniciativa MapBiomas.
No total, foram registrados 18.693 alertas de desmatamento. Em 2019, foram 1.087 alertas, enquanto em 2022 foram 7.028 – uma explosão de 546%. Os dados obtidos pelo MapBiomas no mês em que o rio São Francisco completa 522 anos do seu primeiro registro histórico são um alerta para a necessidade de revitalização da bacia.
A região do Submédio São Francisco, com 59% de sua área em Pernambuco, 40% na Bahia e 1% em Alagoas, registrou o maior crescimento do número de alertas de desmatamento, passando de apenas oito em 2019 para 2.359 em 2022.
O estudo mostra que os números relativos à perda de vegetação são proporcionais ao incremento dos sistemas de irrigação na região, evidenciando a conversão da vegetação nativa em área agrícola como uma das principais causas do desmatamento. No mesmo período (2019 a 2022), a área de sistemas de irrigação implantados subiu de 615.815 para 728.949 hectares, um incremento de 18%.
O avanço do desmatamento e dos sistemas de irrigação ocorre especialmente no Matopiba, acrônimo formado pelas sílabas iniciais dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, fronteira de expansão agropecuária sobre o Cerrado.
Além da questão do desmatamento, a maior parte da água do rio São Francisco não está mais no seu leito, e sim em hidrelétricas, reservatórios e até mineradoras. Um estudo do MapBiomas divulgado no ano passado, em parceria com o Plano Nordeste Potência mostrou que, descontando essas intervenções humanas, o São Francisco perdeu metade da superfície natural de água desde 1985.
Na avaliação da analista política do Plano Nordeste Potência, Fabiana Couto, um dos grandes desafios para reverter esse cenário são os recursos para execução de projetos de revitalização e conservação. Ela aposta que, com a retomada parcial do programa de conversão de multas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que havia sido suspenso no governo Bolsonaro, as ações de revitalização do rio podem ganhar um grande impulso.
Considerado o “Rio da Integração”, o Velho Chico passa por sete Estados brasileiros e três biomas (Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica). Destaca-se principalmente na produção de energia, agricultura, pesca, artesanato, turismo e grande papel principalmente na conservação da biodiversidade, qualidade da vida e questões culturais das regiões que atravessa.
“Diante das diversas pressões sobre esse ecossistema, é essencial que políticas públicas busquem preservação, reflorestamento e desenvolvimento sustentável em volta do rio, para que novas gerações possam conhecer as riquezas e belezas”, frisa. Entretanto, diz Fabiana, o aprimoramento do programa de conversão de multas é essencial, uma vez que a ampliação dos recursos destinados à revitalização do São Francisco serão de extrema importância para ampliação desse tipo de ação.
Segundo os números repassados pelo Plano Nordeste Potência, o Ibama conseguiu liberar R$ 104 milhões para o São Francisco e espera retomar o edital de 2018, em que estavam previstos R$ 850 milhões para a Bacia do São Francisco e mais R$ 200 milhões para a Bacia do Parnaíba.
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Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com