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Exposição Faces do HIV mostra retratos contra o estigma

Maria Carolina Santos / 12/12/2023

Crédito: Will Souza/Gestos

Quando a pandemia da Aids eclodiu, no início dos 1980, a face da doença eram os rostos das pessoas adoecidas com marcas do sarcoma de Kaposi, um câncer oportunista que deixava a pele coberta por manchas arroxeadas. Mais de 40 anos após a descoberta do vírus HIV, causador da doença, ainda não existe cura, nem vacina. Mas o tratamento é altamente eficaz e gratuito, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A “cara” do HIV mudou: são pessoas que podem ser saudáveis e nunca chegar a desenvolver a Aids, se seguirem à risca o tratamento.

Mas algo do início da pandemia ainda permanece: o estigma que os soropositivos enfrentam. De acordo o Índice de Estigma e Discriminação em Relação às Pessoas Vivendo com HIV/Aids, que foi uma pesquisa de 2019 realizada em cinco capitais brasileiras (Recife, Salvador, Porto Alegre, São Paulo e Manaus), pelo menos seis em cada dez pessoas (64,1%) que vivem com HIV e Aids já sofreram estigma ou discriminação.

O preconceito acaba prejudicando o tratamento. De acordo com a pesquisa, no Recife, 28% demoraram e/ou não iniciaram o tratamento antirretroviral por medo de que familiares e pessoas conhecidas descobrissem. Outras 24,7% tiveram medo de que profissionais de saúde e médicos revelassem suas sorologias sem seu consentimento.

Para mostrar que é possível ter uma vida plena sendo soropositivo, a ong Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero, em parceria com a International Aids Society (IAS), promove até o a próxima sexta-feira (15), das 9h às 17h, a exposição “Faces do HIV” no primeiro andar da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Rua da União, 397 – Boa Vista).

A exposição de fotos mostra rostos felizes de pessoas de idades e raças diversas, mas todas vivendo com o HIV. As fotos são assinadas por Nina Luna e por Helder Ferrer.

Os retratados são pessoas que encontraram no ativismo também uma forma de ajudar outras pessoas. É o caso da aposentada Sônia Borba, de 62 anos, que convive com o HIV há 17 anos. Ela participa de dois grupos de apoio para pessoas soropositivas. “É bem melhor ser acolhida por alguém que sabe exatamente o que você está passando. Quando você recebe um teste positivo é difícil”, diz.

Foi por acaso que Sônia, que era casada na época, descobriu que estava com o vírus. Estava em um posto de saúde e a nora a chamou para fazer o teste. Chorou todos os dias por um ano inteiro, achando que ia morrer. “Quando vi que não ia morrer, parei de chorar e vi que tinha que seguir a vida”, conta. Iniciou o tratamento com retrovirais: são um pela manhã e dois à noite. Nunca desenvolveu a doença. “Meu médico diz que só se morre de Aids se não fizer o tratamento ou se começar o tratamento muito tarde”, diz.

Sônia transformou o medo em razão para viver. Crédito: Maria Carolina Santos/MZ Conteúdo

E é nessas duas frentes, tratamento e acolhimento, que Sônia tem dedicado o seu ativismo. No governo Bolsonaro, por exemplo, os remédios atrasaram e chegaram até a faltar. Ela lutou para que fossem restabelecidos os estoques e também hoje luta para que o atendimento seja ampliado. “É muita gente que segue chegando no posto para atendimento dos médicos. Antes, eu tinha consulta a cada três meses. Hoje, em Olinda, chega a seis meses, nove meses, é tempo demais e apenas dois infectologistas”, diz ela, que entrou no Conselho Municipal de Saúde de Olinda para ser ouvida.

No Brasil, é estimado que mais de 1 milhão de pessoas vivam com o HIV, sendo 731 mil em tratamento (81%), segundo o mais recente boletim do Ministério da Saúde, que contém dados de 2022. São 650 mil homens e 350 mil mulheres. Desde 2015 (com exceção de 2020, por conta da covid-19) foram mais de 40 mil novos casos, a cada ano. De 2021 para 2022. Em Pernambuco, há mais ou menos 6 mil casos todos os anos, mas houve uma discreta diminuição de 5,5% entre 2021 e 2022.

Para Sônia Borba, o HIV ainda carrega um estigma por ser um vírus que está, também, relacionado ao sexo. E isso também afasta a prevenção. “Temos visto aumento entre os jovens. Falta mais conscientização, mais campanhas. É necessário que o assunto seja discutido sem preconceitos”, afirma.

  • Serviço:

    Faces do HIV
    Quando: Até o dia 15 de dezembro, das 9h às 17h
    Onde: Na galeria do Edf. Governador Miguel Arraes de Alencar (Rua da União, 397 – Boa Vista, Recife/PE), sede da Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE).

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AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org