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Assembleia do CIMI reafirma teimosia em manter a esperança

Joel Santos Guimarães / 31/10/2017

Para o Conselho Indigenista Missionário, o Cimi, a reconstrução ética do país exige a formação de alianças entre todos que se dispõem em dar voz aos povos indígenas e aos pobres e a lutar pela afirmação da vida humana. “Não nos deixemos oprimir pela falácia do “fim da utopia”, o que significaria jogar os nossos mártires no lixo de uma história sem memória.”

Essa seria a síntese da XXII Assembleia Geral, o Cimi, organismo vinculado à CNBB, quando foi divulgado o documento O Cimi a serviço dos Povos Indígenas: teimosia e esperança na afirmação da vida.

Durante os quatro dias do evento os participantes da assembleia fizeram duras críticas ao governo Temer, a que acusam de contribuir para o genocídio dos povos indígenas promovido pelos ruralistas, com a cumplicidade do Senado e Câmara dos Deputados que, de acordo com o Cimi, transformaram o parlamento brasileiro em um “congressso anti-indígena.”

Diante desse quadro, o Cimi, no documento divulgado no final da tarde da última sexta-feira, reafirma sua opção pelos povos indígenas num momento em que “a democracia em nosso país mostra sua fragilidade por causa da corrupção e do clientelismo”.

“O Cimi se coloca ao lado dos defensores de uma democracia purificada por uma ética de solidariedade”, explica o documento acrescentando que “dado que o direito por vezes se mostra insuficiente devido à corrupção – nos diz o Papa Francisco- requer uma decisão política sobre pressão da população”.

Voz, luta e aliança

Para o Cimi,“a reconstrução ética do país exige a formação de alianças entre todos que se dispõem em dar voz ao povos indígenas, aos pobres e a  lutar pela afirmação da vida humana”.

Realizada no Centro de Formação Vicente Canas, na cidade goiana de Luziânia, o encontro contou com a participação de lideranças indígenas, missionários, colaboradores e convidados.

Durante quatro dias os participantes do encontro debateram a conjuntura, as lutas dos índios na defesa de seus direitos e os retrocessos que, há séculos, foram impostos a eles, com destaque com o que vem acontecendo no governo de Michel Temer, contou o geógrafo Gilberto Vieira dos Santos, integrante do Conselho. Segundo ele, o presidente “é o grande fiador de todas as pautas que atentam contra os direitos desses povos em tramitação no Congresso Nacional e que ainda contam com o respaldo de setores do judiciário”.

Pajelança na assembleíaP

 O maître do agronegócio

No artigo, que escreveu para o site do Cimi, Vieira do Santos qualifica o presidente Temer de o “o maître do agronegócio, em razão das benesses e sinecuras do seu governo em favor do agronegócio. Entre outros exemplos das relações não republicanas de Temer com os ruralistas, o geógrafo lembra que, recentemente, o presidente participou de um almoço, promovido  pela Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), ocasião em que, segundo ele, “os ruralistas negociaram com Temer o perdão da dívida de R$ 5,4 bilhões de proprietários de terras com a previdência rural”. E mais:  ‘’Para salvar-se das denúncias de corrupção e garantir sua permanência no governo, Temer foi generoso: autorizou o pagamento de dívidas rurais até 2032, com redução de 100% dos juros e de 25% das multas”, afirmou.

O geógrafo disse ainda que o abono resultou que dos 263 votos pelo arquivamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente, 129 foram dados por deputados da FPA.

 Teimosia e esperança

Os participantes da XXII Assembleia do Cimi reconhecem que “entre os muitos desafios a serem enfrentados é necessário dar importância às diferentes formas de luta e resistência dos povos indígenas pela garantia de seus direitos e no enfrentamento das injustiças e violências cometidas contra eles”.

O documento deixa claro que o conselho continuará lutando em favor dos índios. E é nesta perspectiva, que as lideranças indígenas, os missionários e missionárias, bispos e representantes de entidades e instituições presentes à Assembleia afirmaram no documento  “as razões de sua esperança num Brasil dividido entre ricos, corruptos e pobres cuja vida nos fala de razões de desespero”.

Por sua vez, o líder indígena Cicero Jeripanko, que participou ativamente dos debates que aconteceram durante a assembleia, disse que a palavra teimosia marcou essa assembleia. É que em seu entender ela é a mais perfeita definição do ‘’trabalho de formiguinha do Cimi,  na defesa do nosso povo. E meu povo tem uma relação antiga com o Cimi. Minha avó o chamava de Sino, lá nos anos 1970. É insistente e teimoso quando se trata de defender nossos direitos fundamentais. Esteve ao nosso lado nos momentos mais duros, de mais perigo.  Nos ajudou a montar nossas organizações de base, nosso empoderamento”, recordou Jeripanko.

No sonho e na utopia

Em tom de manifesto, os participantes incluíram n documento final o reconhecimento de que “aqueles que militam em favor da causa indígena sabem que, se em nossa sociedade não há esperança para os povos indígenas nem para as classes desfavorecidas, tampouco haverá esperança para as elites! O nosso lugar, neste contexto, é o de estar ao lado dos povos indígenas e no meio deles”.

De acordo com o Cimi, “num momento em que a democracia em nosso país mostra toda a sua fragilidade por causa da corrupção e do clientelismo, nós somos decididos defensores de uma democracia purificada por uma ética de solidariedade”.

A Assembleia concluiu que a “a nossa esperança está na construção de uma nova sociedade na qual convivam culturalmente diferentes e socialmente iguais. A existência dos 45 anos do Cimi já representa uma antecipação dessa sociedade alternativa no sonho e na utopia. Não nos deixemos oprimir pela falácia do ‘fim da utopia’, o que significaria jogar os nossos mártires no lixo de uma história sem memória”.

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AUTOR
Foto Joel Santos Guimarães
Joel Santos Guimarães

Jornalista especializado em economia solidária, agricultura familiar, política e políticas públicas. Trabalhou na "Folha de Londrina" e "O Globo", onde esteve por mais de 20 anos exercendo diversas funções, entre elas a de chefe de redação da sucursal de São Paulo. Em 2003, fundou a Agência Meios e a Agência de Notícias Brasil-Árabe (ANBA), com Paula Quental. Foi coordenador do projeto por dez anos. Sob sua gestão, a agência conquistou 11 prêmios de jornalismo web e alcançou 1,2 milhão de acessos mensais.