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por André Frej Hazineh*
Neste mês de junho o Coletivo Aliança Palestina Recife completa dez anos de militância em favor da causa palestina. Amanhã, o Comitê de Solidariedade à Palestina/Pernambuco realiza mais um ato contra o genocídio do povo palestino e pelo cessar-fogo imediato, na praça Oswaldo Cruz, a partir das 9h. Mais um tempo de denúncia, mas também um tempo de reconhecimento do papel da Aliança na divulgação da história da Questão Palestina e no exercício da solidariedade ao povo palestino.
Nascida no seio do Movimento Ocupe Estelita, uma marco na luta pelo direito à cidade e a favor da utilização dos espaços urbanos de forma coletiva e democrática, a Aliança Palestina Recife teve como elemento impulsionador, inicialmente, o massacre promovido pelo estado de israel na Faixa de Gaza em 2014, num período em que no Brasil as atenções se voltavam à Copa do Mundo de futebol masculino.
Meu primeiro contato com o coletivo aconteceu em evento ocorrido na praça do Arsenal da Marinha, contra àquela carnificina, num sábado de junho. Naquele dia eu peguei o microfone e falei, falei, falei… …e nunca mais larguei o dito cujo, pois encontrei naquele grupo de ativistas – vozes proféticas que se levantaram contra a injustiça – o amor que eu sentia pela causa palestina.
Com o passar dos anos, a Aliança Palestina Recife construiu um histórico de lutas, passando a ser referência na defesa da causa em Pernambuco.
Dos tantos eventos, tantas atividades e ações, possível destacar o Simpósio “A Questão Palestina e os Direitos Humanos”, realizado na UFPE e que contou com a presença do cartunista Carlos Latuff; o lançamento do documentário “Five Broken Cameras” no Cinema da Fundação, que teve roda de diálogo com o cineasta Emad Burnat, a inauguração da praça da Palestina, o jantar árabe vegano, o Festival Palestina Livre, bem como lançamento dos livros Palestina – do mito da Terra Prometida à Terra da Resistência, de Sayid Marcos Tenório; Al Nakba – um estudo sobre a catástrofe palestina, de Soraya Misleh”; e, mais recentemente, Contra o Sionismo: Retrato de uma doutrina Colonial e Racista, do jornalista judeu, Breno Altman, editor do Opera Mundi.
A Aliança Palestina Recife também me encheu de orgulho quando nas Eleições 2018, diante da possibilidade de ascensão do fascismo no Brasil, extrapolou os limites de sua atuação em defesa do direito inalienável do povo palestino à sua Terra Sagrada, manifestando e publicizando seu apoio à candidatura de Fernando Haddad.
Por sinal, aquela eleição serviu de divisor de águas para estabelecer o real compromisso das pessoas com as causas humanísticas, demasiadamente humanitárias. No âmbito de minhas relações familiares e pessoais me senti traído por quem escolheu apoiar o candidato do ódio e o consequente endosso incondicional à necropolítica implementada pelo estado sionista de israel na Palestina, em que pese nossos apelos, nossos clamores, nossas súplicas alertando para o risco de o Brasil se tornar um financiador do nazisionismo, o que de fato se confirmou.
Registre-se, também, que nas comunidades islamitas, árabes e palestinas a traição à causa prevaleceu, o que me levou a cada vez mais se engajar na Aliança aqui de Recife, pois o coletivo não se omitia em exercer seu papel relevante de apoio ao povo palestino.
Nos anos seguintes, a Aliança promoveu, em parceria com o mandato do vereador psolista Ivan Morais – sempre a exalar o perfume de humanidade -, audiências públicas que discutiram a limpeza étnica na Palestina, que já dura 76 anos, denunciando os crimes de lesa humanidade cometidos pelo estado genocida de israel e seu projeto colonial sionista, trazendo diretamente de Bethlehem, em 2019, o ativista Baha Hilo, oportunidade de conhecermos a realidade de quem vive sob a opressão de um regime racista, supremacista e de apartheid, que desrespeita os direitos humanos mais basilares.
Nesse ínterim, cumpre destacar, graças à pressão exercida pela Aliança Palestina Recife, houve o cancelamento de um pretenso “diálogo sobre o Oriente Médio (sic)” na Universidade de Pernambuco, tendo como palestrante um representante do lobby sionista que atua numa organização sabidamente defensora da ocupação, denominada “Stand With Us”.
Particularmente, considero um dos momentos mais significativos da história do coletivo a manifestação ocorrida em frente a Assembleia Legislativa quando uma parlamentar da extrema direita, pasmem, promoveu uma Sessão para celebrar os 70 anos da limpeza étnica continuada, sob o pretexto de festejar a autoproclamação da entidade sionista como Estado. Estávamos lá demonstrando nossa indignação diante de aviltante “comemoração” da “nakba” do povo palestino.
Das vezes em que ocupamos as ruas, em duas oportunidades o Governo do Estado, de forma truculenta, arbitrária e antidemocrática enviou o aparato repressivo policial (inclusive o Batalhão de Choque) para reprimir nossas manifestações ora denunciando a tentativa de transferência da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém em 2019 e ora o financiamento estadunidense ao atual genocídio, revelando servilismo aos interesses do imperialismo transnacional.
Nesse diapasão, há de se ressaltar a posição vanguardista da Aliança Palestina Recife e sua militância incansável em solidariedade ao povo palestino. Angélica Reis, cofundadora do coletivo, bem antes da pseudo polêmica – estimulada pela mídia hegemônica porta voz do nazisionismo – a partir da declaração do Presidente Lula comparando o genocídio em Gaza ao holocausto da Segunda Guerra, em entrevista ao Diário da Causa Operária afirmava categoricamente que o regime sionista ultrapassara o nazismo em crueldade, proporcionalidade e desumanidade, enterrando no lixo da história os parcos resquícios civilizatórios.
Dez anos, dezenas de pessoas passaram pela Aliança Palestina Recife e cativaram nossos corações; idas e vindas; gargalhadas e lágrimas; afetividades em meio à dor e à tragédia; um caleidoscópio de sentimentos amalgamados pela própria resistência histórica e heroica do povo palestino me transformaram, enquanto filho da diáspora e enquanto militante dos universais direitos humanos, a ponto de eu ousar afirmar de forma visceralmente espiritualizada, parafraseando o apóstolo São Paulo: neste junho de 2024 do ano da Graça de nosso Libertador Jesus Cristo, já não sou eu quem vive, mas a Palestina vive em mim.
Por fim, apesar de celebrarmos os dez anos passados, nosso desejo para os próximos dez anos, ou bem menos – oxalá e inshalá -, é que desvaneça a razão da existência da Aliança Palestina Recife (assim como do Comitê de Solidariedade), para celebrarmos a utopia do real, o estabelecimento do estado palestino livre, laico, soberano e democrático, um lar nacional para todas as crenças, todas as etnias, todas as gentes que se dispuserem a viver em paz e harmonia no futuro estado da Palestina, desde o Rio Jordão até o Mar Mediterrâneo.
Recife, 07 de junho de 2024
Aliança Palestina Recife falando para o mundo!
*Jornalista e integrante do Coletivo Aliança Palestina Recife
É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.