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O ano está prestes a acabar, as prévias de Carnaval em Olinda já começaram, mas diversos grupos artísticos, que precisam se preparar para 2025, ainda não receberam o cachê completo da festa de 2024. Após a denúncia feita pelo Clube Carnavalesco Misto Elefante de Olinda, fundado em 1952, outras agremiações e artistas engrossaram o coro da cobrança ao prefeito Professor Lupércio (PSD), que, no último ano da sua segunda gestão e às vésperas do segundo turno, tenta eleger sua aliada Mirella Almeida (PSD).
“Esse dinheiro do cachê vai para pagar costureiras, aderecistas, artesãos, gente que fez fantasia das alas de desfilantes, abre alas, destaques. A gente precisa começar a fazer as fantasias do ano que vem. Mas como a gente vai mandar fazer se a gente nem pagou nossas costureiras pelo desfile deste ano?”, protesta a vice-presidente do Elefante, Juliana Serretti.
“É importante destacar que somos uma organização sem fins lucrativos, e que, portanto, este valor é integralmente direcionado ao pagamento dos trabalhadores e trabalhadoras da cultura. Pessoas que fazem do seu ofício a preservação da arte, do nosso patrimônio imaterial cultural, da nossa alegria e da nossa identidade como povo. Essa situação absolutamente desrespeitosa prejudica diretamente o planejamento do Carnaval 2025”, diz um trecho da nota pública do clube.
A mais antiga troça carnavalesca de Olinda, o Cariri Olindense, fundado em 1921, também aguarda o pagamento da prefeitura. O diretor, Hilton Santana, explica que, este ano, por causa de questões internas da eleição da nova diretoria, o grupo entregou a prestação de contas com atraso. “Porém, isso não justifica o não pagamento dos cachês, pois, no ano passado, entregamos tudo dentro do prazo e, ainda assim, só recebemos o Carnaval no mês de novembro. Isso mostra que o atraso é uma prática da gestão”, comenta Hilton, lembrando que a prefeitura havia se comprometido este ano a priorizar as agremiações tradicionais.
Como consequência, o Cariri está na incerteza sobre a produção do baile do dia 23 de novembro. “Estamos de mãos atadas, não sabemos se o nosso baile será pequeno, médio ou grande, porque dependemos do pagamento desses recursos. Estamos na incerteza”, lamenta.
Oito meses após a folia, o Bongar, um dos mais importantes grupos de coco do Brasil, da comunidade Xambá do Quilombo do Portão do Gelo, também não recebeu o pagamento da única apresentação que fez no Carnaval deste ano.
Há 31 anos promovendo cultura popular, o bloco lírico Eu Quero Mais também aguarda o dinheiro cair na conta. “Infelizmente falta uma ‘tocata’. Fizemos uma no dia 17 de fevereiro, durante o Carnaval, e outra no dia 12 de março, no aniversário de Olinda. Recebemos uma até agora, e nada mais”, afirma a fundadora e presidente do bloco, Leone Correia.
O cantor Pablitto, com 18 anos de carreira, está numa situação semelhante: “Eu fiz uma apresentação, na terça de Carnaval, puxando o Trio do Bloco O Marajá de Rio Doce, e até agora não recebi o cachê”, denuncia.
Nesta terça (15), o bloco lírico Flor da Lira, que completa 50 anos de tradição em 2025, emitiu uma nota informando que “encontra-se em uma situação difícil para quitar seus débitos do Carnaval 2024 com a sua orquestra (músicos), contaroas, apoio e demais trabalhadores” porque ainda não recebeu o pagamento do município. Segundo o Flora da Lira, o atraso está “prejudicando profundamente os preparativos das comemorações dos 50 anos do bloco”.
Em nota, a Prefeitura de Olinda, através da Secretaria de Cultura, informou que “já efetuou o pagamento de cerca de 90% dos valores relativos aos cachês referentes ao Carnaval 2024” e que, “em relação ao Clube Carnavalesco Misto Elefante de Olinda, foram realizadas três ‘tocadas’ e dois cachês já foram feitos pela gestão. O cachê da terceira deverá ser pago nos próximos dias”. A prefeitura não justificou o motivo dos atrasos.
Juliana, do Elefante, porém rebate a informação oficial: “A informação da Prefeitura está incorreta. Nós tivemos uma participação e duas saídas (“tocadas”) oficiais no Carnaval este ano. Por que esse detalhe é importante? Porque pela participação a gente não recebe cachê completo, a gente recebe menos de um terço do cachê. Então o que a prefeitura pagou foi apenas a participação e uma tocada. Uma das tocadas é um valor cheio que está faltando e está afetando bastante nosso planejamento do Carnaval 2025. Na prática, é como se eles tivessem pago pouco mais da metade do total, ou então, uma outra forma de dizer é que eles não pagaram nenhum centavo referente ao desfile oficial do domingo. Vale salientar que a gente precisou sair com duas orquestras e que o cachê não paga sequer uma unidade delas”.
Matéria atualizada em 16/10/2024, às 16h44
Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com