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No Nordeste, 82% das mulheres consideram a segurança pública o principal problema do Brasil. É o que revela a pesquisa Mulheres em Diálogo, realizada pelo Instituto Update em parceria com o Instituto de Pesquisa IDEIA, que investigou percepções femininas em diferentes regiões do país. O dado reforça a gravidade do tema especialmente entre as nordestinas, que também demonstram forte preocupação com a saúde pública e a falta de acesso a serviços essenciais.
Considerando o levantamento nacional da pesquisa, 77% das mulheres do Brasil apontam a segurança como a maior preocupação. A aflição é mais forte entre mulheres de 35 a 44 anos e acima dos 60, com mais de 80% desses grupos destacando o tema. De acordo com o estudo, a preocupação atinge mulheres de diferentes classes sociais, faixas etárias e aspectos políticos ideológicos.
“Questões como igualdade salarial e segurança refletem preocupações universais entre as mulheres brasileiras e podem ser a base para ações que promovam avanços nos direitos das mulheres”, afirma Carolina Althaller, diretora executiva do Instituto Update.
A saúde também é prioridade para boa parte das entrevistadas — principalmente no Nordeste (57,5%) e Centro-Oeste (56,9%). Entre as nordestinas, destaca-se o engajamento com pautas relacionadas à melhoria da infraestrutura e do acesso ao atendimento médico.
O consenso mais forte revelado pela pesquisa diz respeito à igualdade salarial: 94% das mulheres concordam total ou parcialmente que homens e mulheres devem receber a mesma remuneração por cargos equivalentes. Já a saúde figura entre as três maiores preocupações para 47% das brasileiras. A desinformação (fake news) aparece como preocupação relevante para mulheres com maior escolaridade, sobretudo no Sul do país.
A representatividade feminina na política também conta com apoio expressivo: 72% das entrevistadas defendem o aumento da presença de mulheres em cargos políticos.
Apesar dos diversos pontos de consenso, a pesquisa revela divisões marcantes em temas morais e ideológicos. Apenas 48% das entrevistadas se identificam como feministas, enquanto 43% rejeitam essa identidade. A adesão ao feminismo é maior entre jovens de 16 a 44 anos, com ensino médio ou superior e pertencentes às classes AB e C. Já entre mulheres mais velhas, evangélicas e de classes D/E, o termo é amplamente rejeitado.
A descriminalização do aborto enfrenta ampla rejeição: somente 16% das mulheres apoiam a medida. Mesmo entre as que se consideram progressistas, 61% são contrárias à legalização. Entre as conservadoras, esse índice chega a 82%. O índice sobe ainda mais entre mulheres que são mães — 85% rejeitam a legalização. Apesar disso, a maioria das entrevistadas é contrária à prisão de mulheres que realizam o procedimento fora das exceções legais.
Outro ponto de divergência é a influência religiosa nas decisões políticas. Para 53% das mulheres, valores religiosos devem orientar decisões políticas; 43% discordam. Evangélicas e católicas praticantes tendem a apoiar essa influência, enquanto mulheres sem religião e católicas não praticantes são majoritariamente contrárias.
Para a diretora do Instituto Update, os dados revelam tanto caminhos para as possibilidades de diálogo quanto a complexidade da realidade feminina. “Compreender como idade, religiosidade e classe social moldam as percepções é essencial para promover um diálogo respeitoso e produtivo a fim de construir soluções que representem verdadeiramente a diversidade de experiências femininas no Brasil”, analisa Carolina Althaller.
A pesquisa Mulheres em Diálogo contou também com a colaboração da cientista política Camila Rocha e da cientista social Esther Solano, e está disponível na íntegra no site do Instituto Update.
Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.