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Primeiro parque alagável do Recife resiste às chuvas, mas enfrenta críticas sobre manutenção e alcance

Jeniffer Oliveira / 07/08/2025

Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero

No primeiro inverno após sua inauguração, o parque alagável do Rio Tejipió, localizado entre os bairros de Areias e Ipsep, tem uma avaliação positiva entre os moradores do seu entorno. O parque, que traz referências de projetos urbanísticos de cidades da China, Estados Unidos e Chile, foi inaugurado em novembro de 2024 com a proposta de minimizar alagamentos e atenuar o histórico problema de drenagem na região.

Em junho do ano passado, durante o seminário “Soluções e Inovações para Comunidades Ribeirinhas do Recife”, promovido pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), em parceria com a UFPE e a Secretaria Nacional das Periferias, vinculada ao Ministério das Cidades, a Marco Zero acompanhou técnicos da Fase e representantes da sociedade civil em uma visita às obras do parque alagável.

À época, os especialistas se preocupavam com os cálculos utilizados pelos engenheiros para delimitar em qual nível o rio poderia chegar em caso de enchentes, já que apenas a cota mais alta da maré de 2023 teria sido considerada para o projeto, sem levar em conta um eventual grande volume de chuvas no futuro.

Apesar da desconfiança inicial, até o momento o parque tem cumprido com seu objetivo, mesmo durante o período de chuvas intensas e maré alta, segundo a Autarquia de Urbanização do Recife (URB). A autarquia afirma que “até o momento, não foram registradas ocorrências significativas de alagamentos, apenas situações pontuais de manutenção, como furtos de lixeiras e descarte irregular de resíduos”.

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A obra do parque custou R$ 2,5 milhões para estruturar uma área de 3,9 mil m², com intervenções que envolveram o alargamento da calha do Rio Tejipió, que passou de 7 para 30 metros, a pavimentação da Rua Vitória da Conquista e a instalação de equipamentos públicos de lazer

Mesmo com esse resultado, a arquiteta, urbanista e pesquisadora do Inciti, Ana Raquel Meneses, reforça que fica difícil avaliar o êxito do parque quanto à drenagem, já que se trata só de um pequeno trecho e o volume de águas do rio em eventos extremos é muito grande.

Segundo a especialista, “é importante lembrar que a solução só vai chegar com um conjunto de ações funcionando como um sistema. Como, por exemplo, a remoção de algumas casas naquele trecho. Mas em caso de chuvas muito fortes e também para resolver o problema de inundações em outros trechos do rio, seria preciso implementar outros pontos/ações do projeto”.

Ana Raquel ainda afirma que para uma solução realmente efetiva, seria necessário uma série de ações que podem contribuir para mitigar os alagamentos da região. Nesse rol, ela cita exemplos como: a replicação de ações de liberação das margens ao longo do rio e recuperação da vegetação ciliar nativa, que poderiam dar espaço para o espraiamento das águas do rio e auxiliar na infiltração e retenção das águas pluviais; a implantação de sistemas de drenagem com uso de Soluções Baseadas na Natureza (SBN), como canteiros de chuva e/ou biovaletas associadas a lagoas ou tanques de retenção; ampliar a arborização urbana; ampliar o incentivo à captação, armazenamento e reuso de águas pluviais; despavimentação de áreas próximas, entre outros.

“É muito importante destacar a necessidade de respeitar o espaço de cada um, tanto das pessoas, como dos elementos naturais. Os rios vêm sendo sufocados há muito tempo, mas necessitam de seu espaço de espraiamento”, reitera Ana Raquel. Ela também alerta para a necessidade de olhar para as camadas afetadas por este tipo de obra com cuidado e respeito, sejam pessoas, infraestruturas ou elementos naturais.

Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero

Moradores fazem a manutenção básica

Moradora da rua Vitória da Conquista há 30 anos, a confeiteira Margareth Maranhão vê o parque com bons olhos. Segundo ela, o projeto veio em boa hora e melhorou a qualidade de vida dos moradores, apesar de sentir pelos vizinhos que foram retirados para que a obra pudesse ser realizada. No processo, a Prefeitura do Recife desapropriou 100 imóveis.

Entretanto, pouco mais de seis meses depois da entrega da obra, Margareth afirma que nem tudo é perfeito. “Aqui tá tão bom pra gente, pra todo mundo. A praça foi ótima, o problema é que eles não estão fazendo manutenção”.

A moradora afirma que os funcionários da prefeitura vão ao local para capinar a grama, mas o lixo das lixeiras quem recolhe são os próprios moradores. Pior: são os moradores que realizam a compra das sacolas plásticas para realizar a troca. Além disso, parte desses equipamentos já estão quebrados, inclusive a porta que dá acesso ao minicampo. Ela reforça, que esse minicampo também fica alagado e não possui um sistema de drenagem.

No local, é possível ver rachaduras na pista de caminhada, além de diversos tijolos da calçada fora do lugar. “Disseram que a empresa responsável tinha um contrato de cinco anos. Já vai fazer um ano e só vieram uma vez. Quando vieram eu até falei dos tijolos se soltando, mas justificaram que é por causa da maré que enche. Quando a água sobe o tijolo solta”, afirma.

Em nota, a URB informou que: “a empresa responsável pela construção realizará uma vistoria no parque alagável do Rio Tejipió para verificar o piso do local. Caso sejam identificados vícios construtivos, os reparos necessários serão executados, considerando que a obra possui garantia de cinco anos”. Já a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), afirmou que “ações de limpeza e capinação também são executadas periodicamente”. Uma equipe de limpeza teria ido ao local na última sexta-feira (01).

Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero
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Foto Jeniffer Oliveira
Jeniffer Oliveira

Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo (UNIAESO), mestranda pelo Programa de Pós-graduação e Inovação Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)/Campus Agreste. Contato: jeniffer@marcozero.org.