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Uma festa de Halloween com fogos de artifício, efeitos sonoros, jogo de luzes e correria gerou discórdia e azedou o clima entre integrantes do conselho gestor do Parque Estadual de Dois Irmãos. As primeiras críticas internas à atividade promovida pela gestão do parque surgiram no grupo de whatsapp do conselho, mas logo se espalharam pelos perfis de Instagram que postaram vídeos mostrando como foi a festa.
Entre dezenas de comentários que criticaram o estresse provocado nos animais pelo barulho dos fogos, se destacaram os argumentos de Clemente Coelho Júnior, professor de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE) e integrante do conselho gestor do Parque. Ao embasar suas críticas públicas, ele transcreveu a legislação estadual que rege as unidades de conservação, entre elas um trecho da lei 15.736.
Esta lei, em vigor desde março de 2016, proíbe “a queima e a soltura de fogos de artifício e assemelhados, e de quaisquer artefatos pirotécnicos de efeito sonoro ruidoso com ou sem estampidos” a menos de dois quilômetros “de manguezais e zoológicos”. Houve quem atacasse o conselheiro. Educadores ambientais do parque atacaram o conselheiro, por “falta de informação”.
Na mesma postagem, o perfil oficial do parque rebateu as críticas, garantindo que “o evento acontece fora da área aonde fica [sic] os animais, toda movimentação é feita na zona de uso antrópica, que não é próximo [sic] ao zoológico. Da mesma forma que as zonas de susto estão localizadas dentro da nossa área de parque urbano, distante do zoo (…) Os monstros servem como um convidativo [sic] para realizarmos educação ambiental sobre os animais de hábitos noturnos, justamente em locais que não há presença [sic] de sustos ”.
O texto publicado pela equipe do parque não fez menção às explosões de fogos de artifício e à lei 15.736.
Outro conselheiro, o professor da UPE Filipe Aléssio explicou como os animais selvagens são impactados por uma atividade como este Halloween: “pelos vídeos que estão circulando nas redes sociais, os fogos foram lançados próximo ao prédio da administração do zoológico. Toda a área é muito arborizada. Os recintos mais próximos da administração são os dos répteis e das aves, mas além disso, podemos imaginar que existem muitas espécies de animais selvagens que vivem livremente na área do parque, como saguis, capivaras, pequenos mamíferos e inúmeras espécies de aves. A grande maioria das espécies de aves possuem hábitos diurnos e estariam, teoricamente, dormindo no momento em que o evento foi realizado, com pirotecnia, música alta e muita correria e gritaria de pessoas”.
Para Aléssio, que é doutor em Biocências pela Universidade de Provence, na França, “é uma mistura de estímulos visuais e sonoros que deixaria qualquer animal selvagem muito estressado”.
O conselheiro Clemente Coelho Júnior ressalta que Dois Irmãos não é um simples parque urbano, “mas uma unidade de conservação, protegido por leis e regimentos bem mais restritivos”. Segundo ele, “o que mais espanta nesse episódio é o fato do conselho gestor não ter sido consultado. Nas redes sociais, algumas pessoas defenderam o Halloween dizendo que os fogos foram estourados a distância segura, mas qual estudo aponta isso? Se um estudo existe, deveria ter sido apresentado ao conselho”.
O artigo quarto do regimento interno do Parque de Dois Irmãos estabelece que uma das atribuições do conselho é “manifestar-se sobre obra ou atividade potencialmente causadora de impacto, tanto dentro da unidade de conservação, como em sua zona de amortecimento”. Segundo ele, o conselho sequer foi ouvido para opinar sobre a novo logomarca do parque, que incluiria o desenho de um mico-leão-dourado, animal que sequer existe no parque.
                                            Crédito: Divulgação
Desde janeiro, o Parque de Dois Irmãos está sendo gerido por Sávia Florêncio, que além de “jornalista, advogada e pós-graduada em gestão pública”, é esposa do deputado estadual Wanderson Florêncio (Solidariedade).
A gestão do Parque não deu retorno à tentativa de contato da equipe da Marco Zero, mas a assessoria de comunicação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha enviou a seguinte explicação:
O Parque Estadual Dois Irmãos, por meio de sua gestão, vem a público esclarecer os pontos levantados em relação ao evento “Zoo Assombrado” e a eventuais atividades internas:
O “Zoo Assombrado” é um evento tradicional e de sucesso do Parque Estadual Dois Irmãos, reconhecido pela comunidade e pela mídia. Atualmente, o evento está em sua 11ª edição, acontecendo a mais de uma década.
O evento zoo assombrado, em nenhuma das suas 11 edições, foi apreciado pelo conselho, já que inexiste previsão legal para tanto.
A gestão do zoológico promove todas suas atividades com foco em educação ambiental e tem plena ciência das restrições legais e de bem estar animal, por isso, durante as apresentações teatrais os artefactos utilizados foram todos sem estampidos, em momento específico e em uma área sem a presença de animais.
O Conselho Gestor do Parque Estadual de Dois Irmãos tem caráter consultivo e participativo, conforme previsto em sua criação e na legislação ambiental vigente, o que significa que suas atribuições são de aconselhamento, acompanhamento e apoio às ações da gestão, mas não substituem nem limitam a autoridade administrativa da unidade de conservação
A gestão do Parque Estadual Dois Irmãos reafirma seu compromisso com a conservação ambiental, o bem-estar animal e o desenvolvimento de atividades de educação ambiental para a população, seguindo as diretrizes estabelecidas em seu plano.
Jornalista e escritor. É o diretor de conteúdo da MZ.