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Halloween com fogos de artifício dentro de zoológico é motivo de críticas ao Parque de Dois Irmãos

Inácio França / 03/11/2025
A imagem mostra a entrada principal do Parque Dois Irmãos, no Recife. O portão é formado por duas pequenas construções simétricas, feitas de alvenaria pintada em tom rosado com detalhes que imitam tijolos vermelhos e molduras verdes. Entre elas, há um grande arco de ferro verde com um letreiro circular no alto, onde se lê “Parque Dois Irmãos” sobre um fundo vermelho. Os portões metálicos, também verdes, estão abertos, revelando uma via de paralelepípedos que segue entre árvores densas de mata nativa. O céu está parcialmente nublado.

Crédito: Divulgação

Uma festa de Halloween com fogos de artifício, efeitos sonoros, jogo de luzes e correria gerou discórdia e azedou o clima entre integrantes do conselho gestor do Parque Estadual de Dois Irmãos. As primeiras críticas internas à atividade promovida pela gestão do parque surgiram no grupo de whatsapp do conselho, mas logo se espalharam pelos perfis de Instagram que postaram vídeos mostrando como foi a festa.

Entre dezenas de comentários que criticaram o estresse provocado nos animais pelo barulho dos fogos, se destacaram os argumentos de Clemente Coelho Júnior, professor de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE) e integrante do conselho gestor do Parque. Ao embasar suas críticas públicas, ele transcreveu a legislação estadual que rege as unidades de conservação, entre elas um trecho da lei 15.736.

Esta lei, em vigor desde março de 2016, proíbe “a queima e a soltura de fogos de artifício e assemelhados, e de quaisquer artefatos pirotécnicos de efeito sonoro ruidoso com ou sem estampidos” a menos de dois quilômetros “de manguezais e zoológicos”. Houve quem atacasse o conselheiro. Educadores ambientais do parque atacaram o conselheiro, por “falta de informação”.

Na mesma postagem, o perfil oficial do parque rebateu as críticas, garantindo que “o evento acontece fora da área aonde fica [sic] os animais, toda movimentação é feita na zona de uso antrópica, que não é próximo [sic] ao zoológico. Da mesma forma que as zonas de susto estão localizadas dentro da nossa área de parque urbano, distante do zoo (…) Os monstros servem como um convidativo [sic] para realizarmos educação ambiental sobre os animais de hábitos noturnos, justamente em locais que não há presença [sic] de sustos ”.

O texto publicado pela equipe do parque não fez menção às explosões de fogos de artifício e à lei 15.736.

Outro conselheiro, o professor da UPE Filipe Aléssio explicou como os animais selvagens são impactados por uma atividade como este Halloween: “pelos vídeos que estão circulando nas redes sociais, os fogos foram lançados próximo ao prédio da administração do zoológico. Toda a área é muito arborizada. Os recintos mais próximos da administração são os dos répteis e das aves, mas além disso, podemos imaginar que existem muitas espécies de animais selvagens que vivem livremente na área do parque, como saguis, capivaras, pequenos mamíferos e inúmeras espécies de aves. A grande maioria das espécies de aves possuem hábitos diurnos e estariam, teoricamente, dormindo no momento em que o evento foi realizado, com pirotecnia, música alta e muita correria e gritaria de pessoas”.

Para Aléssio, que é doutor em Biocências pela Universidade de Provence, na França, “é uma mistura de estímulos visuais e sonoros que deixaria qualquer animal selvagem muito estressado”.

Regimento prevê consulta ao conselho

O conselheiro Clemente Coelho Júnior ressalta que Dois Irmãos não é um simples parque urbano, “mas uma unidade de conservação, protegido por leis e regimentos bem mais restritivos”. Segundo ele, “o que mais espanta nesse episódio é o fato do conselho gestor não ter sido consultado. Nas redes sociais, algumas pessoas defenderam o Halloween dizendo que os fogos foram estourados a distância segura, mas qual estudo aponta isso? Se um estudo existe, deveria ter sido apresentado ao conselho”.

O artigo quarto do regimento interno do Parque de Dois Irmãos estabelece que uma das atribuições do conselho é “manifestar-se sobre obra ou atividade potencialmente causadora de impacto, tanto dentro da unidade de conservação, como em sua zona de amortecimento”. Segundo ele, o conselho sequer foi ouvido para opinar sobre a novo logomarca do parque, que incluiria o desenho de um mico-leão-dourado, animal que sequer existe no parque.

A imagem mostra uma estampa colorida sobre um fundo azul. O desenho principal é um coração formado por um traço vermelho, dentro do qual há figuras estilizadas e geométricas representando elementos da fauna e flora nordestina: um tucano, um peixe, um jacaré, uma flor, uma borboleta e um macaco. As formas são simples, coloridas em tons de verde, amarelo, azul, vermelho e laranja. Em volta do coração, está escrito em letras brancas a frase: “O PARQUE DO CORAÇÃO DOS PERNAMBUCANOS”.

Crédito: Divulgação

Desde janeiro, o Parque de Dois Irmãos está sendo gerido por Sávia Florêncio, que além de “jornalista, advogada e pós-graduada em gestão pública”, é esposa do deputado estadual Wanderson Florêncio (Solidariedade).

A gestão do Parque não deu retorno à tentativa de contato da equipe da Marco Zero, mas a assessoria de comunicação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha enviou a seguinte explicação:

O Parque Estadual Dois Irmãos, por meio de sua gestão, vem a público esclarecer os pontos levantados em relação ao evento “Zoo Assombrado” e a eventuais atividades internas:
O “Zoo Assombrado” é um evento tradicional e de sucesso do Parque Estadual Dois Irmãos, reconhecido pela comunidade e pela mídia. Atualmente, o evento está em sua 11ª edição, acontecendo a mais de uma década.

O evento zoo assombrado, em nenhuma das suas 11 edições, foi apreciado pelo conselho, já que inexiste previsão legal para tanto.

A gestão do zoológico promove todas suas atividades com foco em educação ambiental e tem plena ciência das restrições legais e de bem estar animal, por isso, durante as apresentações teatrais os artefactos utilizados foram todos sem estampidos, em momento específico e em uma área sem a presença de animais.

O Conselho Gestor do Parque Estadual de Dois Irmãos tem caráter consultivo e participativo, conforme previsto em sua criação e na legislação ambiental vigente, o que significa que suas atribuições são de aconselhamento, acompanhamento e apoio às ações da gestão, mas não substituem nem limitam a autoridade administrativa da unidade de conservação

A gestão do Parque Estadual Dois Irmãos reafirma seu compromisso com a conservação ambiental, o bem-estar animal e o desenvolvimento de atividades de educação ambiental para a população, seguindo as diretrizes estabelecidas em seu plano.

AUTOR
Foto Inácio França
Inácio França

Jornalista e escritor. É o diretor de conteúdo da MZ.