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Articulação Semiárido Brasileiro entrega mais de 30 mil cisternas em 2025

Marco Zero Conteúdo / 22/12/2025
Três pessoas estão em frente a uma cisterna branca em uma área rural, sorrindo e segurando copos com água, com vegetação, casas simples e céu claro ao fundo. Há uma jovem, uma mulher e um homem adultos.

Crédito: Arnaldo Sete/AP1MC

Organizações da sociedade civil que compõem a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) construíram, este ano, um total de 30.466 cisternas de placas e barragens subterrâneas que passaram a garantir segurança hídrica para mais de 150 mil pessoas que vivem no interior do Nordeste e de Minas Gerais. Essas são tecnologias sociais de captação e armazenamento de água nos territórios mais vulneráveis à emergência climática no Brasil.

Somando a capacidade máxima de armazenamento das cisternas construídas, em apenas um ano famílias do semiárido brasileiro conquistaram a estrutura necessária para estocarem juntas mais de 580 mil litros de água. Isso seria equivalente a uma barragem considerada de pequeno a médio porte no contexto das grandes infraestruturas hídricas do país ou a mais de 300 mil piscinas olímpicas.

A ASA retomou o Programa Cisternas, do Governo Federal, em 2023. Desde então, já constriu 71.275, sendo 43.419 somente entre 2023 e 2024. Antes do início das construções, as organizações realizam toda uma preparação com oficinas e visitas nos territórios. Em 2025, através de um novo contrato, a ASA estabeleceu uma nova meta: construir mais 50 mil cisternas. Segundo a Articulação, são necessárias 300 mil cisternas para que todas as famílias que necessitam tenham acesso à água.

“Estou radiante pela oportunidade de ter ganhado a cisterna porque a dificuldade de água aqui é muito grande. Eu amo meu lugarzinho, mas é difícil olhar para os quatro cantos e não ter água. Agora estou feliz por mim e por meus vizinhos que também foram contemplados”, declarou, emocionada, à ASA a agricultora Maria Conceição Nascimento da Silva, 63 anos, da comunidade Maria Salona, no município de Saúde (BA).

Felicidade também é o sentimento compartilhado por Maria Adriana Ribeiro Silva, 32 anos. Moradora da comunidade da Serra do Simões, em Araripina (PE), que agora tem uma cisterna para água destinada ao consumo humano. “Estou muito feliz que até me faltam palavras para explicar o quanto é bom ter essa cisterna, uma coisa que eu não tinha condições (financeiras) de fazer e, graças a Deus, hoje nós temos”, comemora.

Política pública de acesso à água

Os reservatórios de Maria Conceição, Maria Adriana e dos mais de 30 mil beneficiários foram implementados por meio do Programa Cisternas, do Governo Federal. A ação, que existe como política pública desde 2003, foi incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e é coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). São parceiros da iniciativa o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Fundação Banco do Brasil.

Essa política pública de democratização da água no semiárido é dividida pelas organizações executoras da ASA em duas frentes de atuação: o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e o Programa Uma Terra Duas Águas (P1+2).

O P1MC garante a implementação de reservatórios com capacidade para 16 mil litros destinados ao consumo humano (chamada “primeira água”) das famílias e de 52 mil litros para abastecer unidades de ensino por meio do projeto Cisternas nas Escolas. Já o P1+2 é responsável pela construção de tecnologias de 52 mil litros para irrigação da produção agrícola e criação de animais (chamada “segunda água”).

Desde a retomada do Programa Cisternas, em 2023, além das cisternas de segunda água ou barragens subterrâneas, as famílias contempladas pelo P1+2 também recebem recursos do Programa Fomento Rural. A iniciativa garante um repasse de R$ 4,6 mil para o desenvolvimento de um projeto produtivo de agricultura familiar como, por exemplo, instalação de apiários, plantios de hortas e estruturação de apriscos, que geram emprego e renda no campo.

“Essas tecnologias fortalecem a autonomia das famílias, permitem que elas convivam com o semiárido com mais dignidade e segurança e mostram que é possível enfrentar a desigualdade hídrica com soluções simples, eficazes e construídas junto às comunidades. Cada tecnologia representa mais justiça social”, afirma a coordenadora executiva da ASA, Jardenes Matos.

Esse resultado da ASA em 2025, além de representar um avanço concreto na democratização do acesso à água também expressa a força da luta coletiva construída pela rede ao longo de quase três décadas e já garantiu mais de 1,2 milhão de cisternas no semiárido. Segundo Jardenes, a ASA entende a tecnologia não apenas como uma solução técnica, mas como parte de um processo de mobilização e transformação social.

“Além disso, ter um governo que coloca em pauta a convivência com o semiárido possibilita que ações como o Programa Cisternas tenham competência para atender as demandas das famílias rurais que historicamente foram deixadas de fora das políticas públicas”, reforça.

Uma mulher grávida sorri ao lado de uma grande cisterna branca ao ar livre, em um ambiente rural, com casas, árvores e céu parcialmente nublado ao fundo. Ela é uma mulher branca, de cabelos lisos e presos vestindo um vestido de listras grossas marrom claro e brancas.

Nos últimos dois anos, foram 77.757 tecnologias sociais de segurança hídrica implementadas pela Rede ASA, o que significa que são quase 390 mil pessoas com acesso à água para beber, cozinhar e produzir alimentos no semiárido brasileiro.

Em 2026, as organizações da ASA começarão a construir mais 50 mil cisternas de primeira e segunda água e a restaurar 2,5 mil antigos reservatórios. De acordo com o contrato assinado pela Associação Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC) – personalidade jurídica da ASA – e o MDS, o investimento total será de R$ 500 milhões.

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Marco Zero Conteúdo

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