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por Elismarcia Tosta e Josyclaudia Gomes*
A exposição Lá vêm elas, em cartaz no Museu do Homem do Nordeste até o próximo domingo, dia 1º de junho, é um marco no reconhecimento da arte como um meio de empoderamento e expressão das mulheres com deficiência. A mostra revela a força criativa do audiovisual de oito artistas brasileiras de diferentes estados: Amanda Lyra (SP), Ana do Vale (PB), Carolina Teixeira (RN), Daisy Souza (BA), Kilma Coutinho (PE), Moira Braga (RJ), Mona Rikumbi (SP) e Rayssa Tiger (PA). O conjunto de suas obras enfatiza a importância da arte na luta por direitos e visibilidade.
O título da exposição tem uma origem significativa, proveniente da experiência da jornalista e curadora Lucília Machado. A frase, utilizada de forma pejorativa por gestores ao se referirem a ela durante suas abordagens profissionais, é transformada em um símbolo de resistência e força. Essa escolha reforça a ideia de que a arte pode ser uma poderosa ferramenta de reivindicação, fazendo ecoar as vozes que muitas vezes são silenciadas.
Nos nove vídeos apresentados na exposição cada artista traz uma abordagem única, refletindo a diversidade de experiências e perspectivas. A combinação de elementos visuais e sonoros cria uma atmosfera envolvente, desafiando o espectador a repensar suas percepções sobre deficiência.
A curadoria valoriza a diversidade e a interseccionalidade, apresentando artistas de diferentes estados e linguagens — dança, poesia, artes visuais e teatro. Essa variedade não apenas enriquece a experiência estética, mas também aborda as múltiplas dimensões da exclusão social enfrentadas pelas mulheres com deficiência. A proposta é transgressora e anticapacitista, usando a arte para expor suas realidades.
Continuando nessa proposta transgressora e anticapacitista, tivemos um desafio como pessoa com deficiência visual total quando fomos entrevistar umas das artistas, no caso a Kilma Coutinho que é uma pessoa com deficiência auditiva. Nos comunicamos mais por meio de áudios, por ser mais cômodo e prático, porém não tínhamos essa opção, outra coisa que fazemos é escrever muito, então tivemos que nos policiar para ser claras, objetivas e anticapacitistas em nossas falas. Foi uma experiência e aprendizado que levaremos conosco ao longo da carreira como jornalistas.
Outra experiência foi ouvir os nove vídeos que compõem a exposição, pois nos sentimos representadas e abraçadas, além de ter ficado admiradas com as diferentes formas de expressar a arte que essas artistas trouxeram.
Entretanto como uma pessoa com deficiência visual total, uma de nós, Elismarcia teve dificuldades em alguns vídeos, o que pode deixar o público com uma sensação de “desconexão”. Em algumas obras, a mensagem parece se perder em meio à estética exuberante, uma maior contextualização poderia ter enriquecido ainda mais a experiência do espectador, tornando a mostra mais acessível e compreensível para diferentes públicos.
Um aspecto louvável da exposição é seu compromisso genuíno com a inclusão. Recursos como audiodescrição, Libras e textos em braille garantem que todos tenham acesso à arte e às histórias contadas. Lá vêm elas se posiciona como um espaço acessível onde as vozes das mulheres com deficiência são não apenas ouvidas, mas celebradas.
“Para mim, o impacto positivo da exposição Lá vêm elas será profundo e transformador. Ela oferece uma oportunidade única de visibilidade para as mulheres com deficiência, mostrando suas experiências, suas lutas e, principalmente, suas potências criativas. A exposição pode ajudar a quebrar estigmas e preconceitos, promovendo uma maior compreensão sobre a diversidade e as várias formas de ser e viver no mundo”, declara Kilma Coutinho.
Em suma, Lá vêm elas transcende o conceito de exposição, tornando-se um convite profundo à reflexão sobre as diversas facetas da vivência feminina com deficiência. Os nove vídeos apresentados não apenas destacam talentos artísticos excepcionais, mas também desafiam narrativas limitadoras e promovem uma discussão necessária sobre inclusão e representatividade no mundo da arte.
*Estudantes de Jornalismo, estagiárias do convênio entre a Marco Zero Conteúdo e a Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat).
É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.