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A arte que transcende: resenha crítica da mostra “Lá vêm elas” feita por duas mulheres com deficiência visual

Marco Zero Conteúdo / 29/05/2025
Imagem na cor roxa, escrito Lá Vem Elas na cor laranja do lado superior esquerdo, mais a direita também na parte superior está escrito, Resistência e existência das mulheres com deficiência, Projeto de exposição, em fonte na cor branca, na parte inferior direita ao fundo tem imagens de mulheres na cor roxa com braços levantados em expressão de luta e resistência gritando e a frente mulheres brancas, pardas e uma mulher negra, em cadeiras de rodas, usando próteses e uma com síndrome de Down, no canto inferior esquerdo o símbolo da folguedo e o nome a frente.

Crédito: Folguedo/Divulgação

por Elismarcia Tosta e Josyclaudia Gomes*

A exposição Lá vêm elas, em cartaz no Museu do Homem do Nordeste até o próximo domingo, dia 1º de junho, é um marco no reconhecimento da arte como um meio de empoderamento e expressão das mulheres com deficiência. A mostra revela a força criativa do audiovisual de oito artistas brasileiras de diferentes estados: Amanda Lyra (SP), Ana do Vale (PB), Carolina Teixeira (RN), Daisy Souza (BA), Kilma Coutinho (PE), Moira Braga (RJ), Mona Rikumbi (SP) e Rayssa Tiger (PA). O conjunto de suas obras enfatiza a importância da arte na luta por direitos e visibilidade.

O título da exposição tem uma origem significativa, proveniente da experiência da jornalista e curadora Lucília Machado. A frase, utilizada de forma pejorativa por gestores ao se referirem a ela durante suas abordagens profissionais, é transformada em um símbolo de resistência e força. Essa escolha reforça a ideia de que a arte pode ser uma poderosa ferramenta de reivindicação, fazendo ecoar as vozes que muitas vezes são silenciadas.

Nos nove vídeos apresentados na exposição cada artista traz uma abordagem única, refletindo a diversidade de experiências e perspectivas. A combinação de elementos visuais e sonoros cria uma atmosfera envolvente, desafiando o espectador a repensar suas percepções sobre deficiência.

A curadoria valoriza a diversidade e a interseccionalidade, apresentando artistas de diferentes estados e linguagens — dança, poesia, artes visuais e teatro. Essa variedade não apenas enriquece a experiência estética, mas também aborda as múltiplas dimensões da exclusão social enfrentadas pelas mulheres com deficiência. A proposta é transgressora e anticapacitista, usando a arte para expor suas realidades.

Continuando nessa proposta transgressora e anticapacitista, tivemos um desafio como pessoa com deficiência visual total quando fomos entrevistar umas das artistas, no caso a Kilma Coutinho que é uma pessoa com deficiência auditiva. Nos comunicamos mais por meio de áudios, por ser mais cômodo e prático, porém não tínhamos essa opção, outra coisa que fazemos é escrever muito, então tivemos que nos policiar para ser claras, objetivas e anticapacitistas em nossas falas. Foi uma experiência e aprendizado que levaremos conosco ao longo da carreira como jornalistas.

Outra experiência foi ouvir os nove vídeos que compõem a exposição, pois nos sentimos representadas e abraçadas, além de ter ficado admiradas com as diferentes formas de expressar a arte que essas artistas trouxeram.

Entretanto como uma pessoa com deficiência visual total, uma de nós, Elismarcia teve dificuldades em alguns vídeos, o que pode deixar o público com uma sensação de “desconexão”. Em algumas obras, a mensagem parece se perder em meio à estética exuberante, uma maior contextualização poderia ter enriquecido ainda mais a experiência do espectador, tornando a mostra mais acessível e compreensível para diferentes públicos.

Um aspecto louvável da exposição é seu compromisso genuíno com a inclusão. Recursos como audiodescrição, Libras e textos em braille garantem que todos tenham acesso à arte e às histórias contadas. Lá vêm elas se posiciona como um espaço acessível onde as vozes das mulheres com deficiência são não apenas ouvidas, mas celebradas.

“Para mim, o impacto positivo da exposição Lá vêm elas será profundo e transformador. Ela oferece uma oportunidade única de visibilidade para as mulheres com deficiência, mostrando suas experiências, suas lutas e, principalmente, suas potências criativas. A exposição pode ajudar a quebrar estigmas e preconceitos, promovendo uma maior compreensão sobre a diversidade e as várias formas de ser e viver no mundo”, declara Kilma Coutinho.

Em suma, Lá vêm elas transcende o conceito de exposição, tornando-se um convite profundo à reflexão sobre as diversas facetas da vivência feminina com deficiência. Os nove vídeos apresentados não apenas destacam talentos artísticos excepcionais, mas também desafiam narrativas limitadoras e promovem uma discussão necessária sobre inclusão e representatividade no mundo da arte.

*Estudantes de Jornalismo, estagiárias do convênio entre a Marco Zero Conteúdo e a Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat).

AUTOR
Foto Marco Zero Conteúdo
Marco Zero Conteúdo

É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.