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A quem deve servir um sindicato de professores públicos federais?

Marco Zero Conteúdo / 01/12/2024
Esta é uma foto de grupo composta por oito pessoas sorridentes posando juntas. São sete mulheres e um homem, Paulo Rubem Santiago. Todas parecem estar em um ambiente interno, como uma sala de reunião, com uma parede clara ao fundo. Algumas delas seguram faixas e bandeiras com mensagens escritas, enquanto outras usam adesivos em suas roupas. As mensagens nas faixas e adesivos dizem: Chapa 2: Retomar a Luta - Adufepe em Defesa da Universidade Pública. As cores das faixas são variadas, incluindo branco, laranja e roxo, com o texto em destaque em vermelho, preto e branco.

Crédito: Chapa 2/Adufepe
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Nos próximos dias 9 e 10 de dezembro, vai acontecer a eleição da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (Adufepe). Antes do último debate entre os representantes das chapas que disputam o comando da entidade que representa os professores da maior universidade pernambucana, marcado para a terça-feira (3), no auditório Professor Paulo Rosas, na UFPE, publicamos artigos de opinião de apoiadores de cada uma das duas chapas inscritas.

Este é o artigo em defesa da Chapa 2, presidida por Paulo Rubem Santiago, professor do departamento de Educação Física.

por Felix Santos*

Hoje em dia, as relações de trabalho são regidas por leis amplas e complexas, mas não impedem que estas relações persistam como relação pessoal e subordinada. As regras do estado não são suficientes para fornecer proteção e segurança adequadas ao trabalhador e, frequentemente, elas deixam deliberadamente de fazê-lo. Assim, um dos principais papéis do sindicato é romper esta relação entre indivíduo e empregador para torná-la uma relação entre um coletivo de trabalhadores e um coletivo de empregadores. Para isto, torna-se central o estabelecimento de percepções e determinações coletivas, de onde sairão as reivindicações e a própria disposição da luta para obtê-las. Desta forma, o sindicato é dotado de uma potência para influenciar a vida econômica, social e política de um país que o coloca no centro de interesses poderosos.

Grupos organizados que representam o capital, os governos e os partidos políticos de vários matizes ideológicos se esforçam em ações antagônicas ou articuladas para influenciar a atividade dos sindicatos e de suas lideranças. Esta complexidade de relações força o sindicato a sair do seu suporte corporativo e observar o cenário político, para que possam construir relações duradouras com a sociedade. Frequentemente, estas relações possuem um corte de classe social marcado, que introduzem questionamentos e ações mais abrangentes sobre as escolhas das orientações sociais, econômicas e políticas que afetam a população como um todo. Portanto, torna-se natural que sindicatos tenham que se relacionar intensamente com todos os poderes constituídos do estado ou fora dele, como os poderes jurídico, parlamentar, executivo e as representações dos setores empresariais.

Esta complexidade da atuação dos sindicatos estimula a presença na vida sindical de correntes de pensamento e de ação muito distintas e com diferentes vínculos com o resto da sociedade. Isto é traduzido em disputas muito acirradas entre os trabalhadores, principalmente nas eleições para as diretorias dos sindicatos ou nas decisões de se entrar ou sair de greves. Neste processo intenso de formação política, o trabalhador é chamado a se informar sobre a conjuntura da sua categoria e do seu país em seus mais diversos aspectos, fazendo com que o ecossistema sindical se constitua como um ambiente político-pedagógico ao longo de toda a sua existência.

Logo, não é tão fácil responder a uma pergunta tão simples quanto “a quem deve servir um sindicato ?”. Do ponto de vista do professor e da professora – sobre quem se coloca a enorme responsabilidade de colaborar com a formação de cidadãos, incorporando ao ensino da técnica o pensar sobre seus usos e suas consequências – esta pergunta torna-se ainda mais significativa. Se este professor e esta professora atuam na educação pública, a resposta transborda dos contornos profissionais, para abranger ainda a atuação do estado e suas responsabilidades e prioridades, escapando-se ainda mais de visões meramente corporativas.

A multiplicidade de relações sociais, econômicas e políticas presente na vida sindical pode ser observada neste momento em que a Adufepe – seção sindical do Andes-SN na Universidade Federal de Pernambuco – se prepara para escolher sua direção para o biênio 2025/2026. O Andes-SN é o sindicato nacional que congrega a maioria absoluta dos docentes das universidades federais do Brasil. Duas chapas concorrem para a direção da Adufepe: a Chapa 1 (Adufepe Sindicato Democrático e Plural) e a Chapa 2 (Retomando a Luta – Adufepe em Defesa da Universidade Pública).

A Chapa 1, apoiada pela atual gestão da Adufepe, propõe a continuidade de suas prioridades, centradas em atividades de cunho assistencialista, como facilidades em um número variado de relações de consumo e entretenimento. No plano político este grupo estabeleceu relações com forças políticas que hoje tentam manietar os movimentos sociais, para que não perturbem as escolhas e orientações do governo federal. Seus membros rotulam como fascista qualquer grupo que queira questionar as determinações do governo, a despeito da situação em que se encontram as universidades federais do Brasil. No plano sindical, propõem retirar a Adufepe do Andes-SN, isolando-a do movimento docente nacional. Esta demarcação de terreno com o Andes-SN ficou evidente ao terem se posicionado contrários à greve dos docentes das universidades federais deste ano, apesar da força e adesão demonstrada por este movimento.

A Chapa 2 se estabelece com uma proposta de oposição, expondo um diagnóstico de deterioração sistêmica do financiamento de toda a atividade federal de ensino, pesquisa e extensão, que se intensificou a partir de 2013. A situação tornou-se tão insustentável, que os docentes filiados ao Andes-SN deflagraram a maior greve da história da educação federal, envolvendo a grande maioria das universidades federais e dos institutos federais por mais de sessenta dias. A Chapa 2 se propõe a organizar os docentes para produzir suas compreensões conjunturais e suas ações para que a comunidade universitária possa ser capaz de se sentar à mesa de negociações com o governo federal junto ao Andes-SN, para disputar as verbas do orçamento público que hoje vão alimentar subsídios bilionários dos setores mais poderosos da economia ou que vão diretamente compor a renda dos grandes especuladores.

Entre os países das Américas – incluindo os EUA – e da Europa, os governos que se descuidaram dos interesses populares como a educação, a saúde e a economia popular deram lugar ao fortalecimento das organizações fascistas. Assim, é importantíssimo que os movimentos sociais contraponham os interesses da população aos interesses dos rentistas que – através de seus representantes no estado e no parlamento – tentam sequestrar o orçamento público. Já não são somente as lições do século passado que nos ensinam que não se combate o fascismo destruindo os sistemas da saúde pública e da educação pública. Esta lição estamos aprendendo a duras penas na casa de nossos vizinhos e em nossa própria casa.

A Chapa 2 ainda chama a atenção da comunidade universitária para as consequências do acoplamento pernicioso entre a falta de recursos e a intensificação do trabalho docente através de um conjunto de mecanismos de exigências burocráticas. Os objetivos declarados pelos administradores é o de aumento da eficiência administrativa, mas para os docentes isto tem significado o aumento expressivo do stress profissional e o consequente aumento do risco de doenças cardiovasculares, transtornos mentais e mesmo doenças degenerativas de vários tipos. Assim, acrescentando as grandes perdas salariais da categoria, tem-se um quadro de precarização acelerada das condições de trabalho dos docentes e que deve ser endereçada por uma diretoria mais determinada e consciente de todos as consequências da redução do financiamento das universidades federais.

Assim, a quem deve servir um sindicato de professores e professoras das universidades públicas ? A Chapa 2 responde à esta pergunta se propondo a articular os pensamentos e ações dos docentes e das docentes na defesa da universidade pública, tanto localmente na UFPE, quanto nacionalmente junto ao movimento docente nacional representado pelo Andes-SN. Assim, a Adufepe estará servindo à população menos favorecida do Brasil, cuidando deste fantástico patrimônio que é a universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada.

À frente deste esforço político coletivo de muitos professores e muitas professoras, solidário e de grande significado na luta antifascista está Paulo Rubem Santiago, um amigo de luta política e sindical de quase quarenta anos, com uma presença incansável em todas as fronteiras em defesa da educação pública brasileira. Assim, admirando todas as pessoas que se dispuseram a colocar seus corpos e mentes neste desafio, que se situa muito além desta eleição, eu apoio a Chapa 2, também me inserindo como todos neste esforço.

*Ex-presidente da Adufepe e professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UFPE

AUTOR
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