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As perguntas sobre o ataque da PM que o governo de Pernambuco não responde

Governador Paulo Camara recebe o Coronel Roberto Santana novo comandante da PM05_

Governador Paulo Câmara ladeado pelo secretáido de Defesa Social, Antônio Pádua (e) e o novo comandane da PM José Roberto Santana (d). Crédito: Hélia Scheppa/SEI

Depois da ampla repercussão negativa do ataque da PM de Pernambuco, no sábado (29), o Palácio do Campo das Princesas corre para reduzir os danos à imagem do governador Paulo Câmara (PSB) e as pressões sobre seu governo. Nas últimas 24 horas, houve a troca do comando geral da polícia e uma entrevista ao vivo e exclusiva do governador para a Rede Globo.

O estopim para a exoneração do coronel Vanildo Maranhão teria sido a publicação de postagem exaltando o Batalhão de Choque no perfil oficial do Instagram da PMPE, na tarde da terça, 1º de junho. A postagem irritou ainda mais o governador e ficou apenas 29 minutos no ar antes de ser retirada. O governador determinou que a Corregedoria da PM apure o caso. A Marco Zero deu com exclusividade a notícia com os prints da página.

Apesar das recentes iniciativas do Governo, as principais perguntas para esclarecer quem deu a ordem do ataque e como foi montada a operação permanecem sem resposta. Na terça, a Marco Zero encaminhou sete questões sobre o assunto para as secretarias de Defesa Social (SDS) e de Imprensa, esta é responsável pela assessoria direta a Paulo Câmara.

São perguntas que não exigem uma investigação de fundo e para as quais o Governo já deve ter as respostas. No entanto, nenhuma delas foi respondida. Aliás, não houve qualquer tipo de retorno ao e-mail enviado.

Na entrevista ao telejornal NETV, o governador confirmou que a cúpula da Defesa Social estava na central de monitoramento de imagens durante a manifestação e afirmou que o secretário Antônio de Pádua teria lhe dito que mandou parar a ação assim que tomou conhecimento do fato. Segundo o relato de Pádua ao governador, a ordem para a realização do ataque não saiu da central.

A certeza é que, 40 minutos após o início dos disparos de bomba de gás e balas de borracha pelo Batalhão de Choque e enquanto o tumulto continuava nas ruas do centro do Recife, Pádua concedia entrevista ao vivo à Globo em frente aos monitores, falando sobre a fiscalização do cumprimento do distanciamento social no calçadão e na praia de Boa Viagem. Naquele momento não foi questionado nem deu uma única palavra sobre a ação da PM que acontecia na ponte Duarte Coelho e arredores.

A maior parte das perguntas enviadas para a SDS e para a área de comunicação do Palácio do Campo das Princesas dizem respeito exatamente às circunstâncias da inação em relação ao ataque da PM, mesmo com a presença de todo o staff da Defesa Social na central de monitoramento, com imagens enviadas em tempo real por câmeras de segurança espalhadas por todo o Recife.

Questionado sobre quem deu a ordem para a ação da PM, o governador tergiversou, dizendo que é preciso saber quais informações haviam sido disponibilizadas para as pessoas responsáveis. “Tem toda uma rede de comando da PM. É isso que as investigações estão apurando. Não é só a ordem direta, tem que saber o que foi repassado para as pessoas responsáveis pela ação no contexto do que estava ocorrendo na passeata no centro do Recife. Pelo que temos de informações, não há nada que justifique uma ação dessa da polícia, mas precisamos da investigação para termos a condições de fazermos as deliberações e punições necessárias”.

Além da pergunta óbvia que se repete sobre quem deu a ordem para o ataque, há outras questões capazes de elucidar a cadeia de responsabilidades.

A seguir, transcrevemos a íntegra das perguntas sem resposta enviadas à equipe de comunicação do Governo do Estado:

A equipe da Marco Zero Conteúdo está produzindo matéria sobre aspectos do ataque à PM na manifestação de 29 de maio que continuam sem resposta (alguns deles já mencionados em reportagens anteriores de outros veículos ou da própria Marco Zero). Solicito que a resposta seja enviada, se possível, até amanhã às 13h.

1) O secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, disse em entrevista à Rede Globo que o Governo do Estado estava monitorando a manifestação do último sábado do início ao fim. As cúpulas da Secretaria de Defesa e da Polícia Militar acompanhavam esse monitoramento?

2) O secretário estadual de Defesa Social, Antônio de Pádua, estava em reunião na sala da central de monitoramento no momento da ação do Batalhão de Choque, concedeu inclusive entrevista ao vivo à Rede Globo, quando exatamente ele tomou conhecimento do fato, quando comunicou ao governador Paulo Câmara e quais medidas tomou para interromper a ação?

3) Se a ação não era do conhecimento antecipado do governador ou da cúpula da SDS e da PM, por que, quando as câmeras registraram o deslocamento do Choque e a formação do bloqueio da Guararapes, essa movimentação não foi cancelada ou desmobilizada?

4) Por que o Governo do Estado não divulgou os nomes do comandante e dos policiais militares afastados? Com base em que ordenamento legal essas informações não foram repassadas para a sociedade?

5) Em nota, a Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco disse que os PMs estavam protegendo o Palácio do Campo das Princesas. Que tipo de mobilização e aparato foram solicitados à Polícia Militar de Pernambuco no sábado para a proteção do Palácio? O Batalhão de Choque fazia parte dessa mobilização? Por quê?

6) Por que o suposto aparato de proteção ao Palácio, mencionado na nota da Associação de Cabos e Soldados, foi montado na avenida Guararapes, ocupando toda sua largura, e não em torno da praça da República?

7 ) A operacionalização de um aparato tão grande de policiais envolvendo os batalhões de Choque, Radiopatrulha e da área para o bloqueio da região não necessita do conhecimento e aprovação antecipada do comandante geral da PM e dos comandantes dos respectivos batalhões? Isso aconteceu? Em que termos?

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AUTORES
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Laércio Portela

Co-autor do livro e da série de TV Vulneráveis e dos documentários Bora Ocupar e Território Suape, foi editor de política do Diário de Pernambuco, assessor de comunicação do Ministério da Saúde e secretário-adjunto de imprensa da Presidência da República

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Inácio França

Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.