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Atingidos pelas Renováveis vão para o confronto contra os parques eólicos

Movimento social rebate pressão da Abeeólica por normas ambientais mais flexíveis

Jeniffer Oliveira / 01/07/2024
A imagem mostra uma turbina eólica em silhueta contra um céu crepuscular. O gradiente do céu varia de tons quentes de laranja e amarelo próximo ao horizonte a azuis mais escuros mais acima, indicando o nascer ou o pôr do sol. A turbina eólica está centralizada na composição, com suas pás se estendendo pela imagem. Abaixo do horizonte, parece haver uma paisagem com corpos d’água e formas terrestres, também em silhueta devido às condições de pouca luz.

Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero

A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, partiu para a ofensiva exigindo normais ambientais ainda mais flexíveis para facilitar a construção dos complexos de energia eólica, principalmente em alto mar, no estado do Rio Grande do Norte, como nessa entrevista ao jornal Tribuna do Norte. Foi a deixa para que o Movimento dos Atingidos pelas Renováveis (MAR) decidisse rebater os argumentos, emitindo uma nota apontando todos os que consideram críticos nas “reivindicações” da empresária.

Segundo dados da Abeeólica, o Brasil possui 1043 complexos eólicos, sendo 303 deles no Rio Grande do Norte, o segundo maior do país, ficando atrás apenas da Bahia. Isso ocorre pela característica dos ventos do estado, como ressaltou Gannoum em entrevista. “O recurso eólico do estado é um dos melhores recursos do País, toda região Nordeste é muito boa em termos de ventos. Os melhores recursos do País estão aqui na região Nordeste e com muito destaque para o para o Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará e o Piauí”, destaca.

No entanto, o MAR atribui um outro fator para este sucesso: “o RN se destaca como o estado que tem a legislação ambiental mais flexível e favorável à expansão volátil do capital financeiro que envolve o mercado de eólica nacional e internacional. Por outro lado, o principal produtor da fonte eólica nacional não tem legislado em favor de processos que aliem sustentabilidade, mitigação e justiça socioambiental em seu território, que já configura mais de 15 anos de exploração contínua dessa fonte energética”.

Entre as afirmações, a gestora falou sobre investimentos, legislação e geração de emprego, reforçando o potencial do RN para a implantação das offshores, sistema de energia eólica gerada em alto-mar. E também reforçou a corrida entre os estados para saber quem iniciará nestes complexos atrelados à exploração de hidrogênio verde. Atualmente existem 95 projetos eólicos offshores no país.Os ativistas do movimento ressaltam que a representante das empresas, em nenhum momento, os impactos ambientais, nem conflitos com a população do território e as consequências que um empreendimento eólico pode causar.

“O MAR tem travado uma luta exaustiva, exigindo maior regulação socioambiental, queremos garantias de segurança e manutenção do equilíbrio da sociobiodiversidade aqui existente. Temos, inclusive, cobrado o reconhecimento dos nossos povos e comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas, caatingueiros, pescadores, marisqueiras e ciganos) e o cumprimento da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), no que diz respeito à consulta livre, prévia e informada às comunidades que estão com seus territórios especulados pela indústria das energias renováveis”, continua a nota.

Por este motivo, o MAR também faz críticas ao governo potiguar, comandado atualmente pela governadora Fátima Bezerra (PT), e ao poder político, que estariam considerando apenas as demandas das empresas e endossando o discurso da “energia limpa”. Na quinta-feira, 27 de junho, Bezerra recebeu as reivindicações dos atingidos pelas renováveis no encerramento do Grito da Terra, mobilização dos trabalhadores rurais potiguares.

“Afirmamos que não é limpa, uma vez que causa diversos impactos ambientais, sociais, culturais e na saúde das pessoas do entorno dos empreendimentos, sendo necessário olhar para toda a sua cadeia produtiva e não apenas para o seu produto final”, destacam.

A Marco Zero acompanha o impacto das eólicas há muitos anos. Em uma dessas coberturas, a repórter Giovanna Carneiro, contou um pouco da experiência ao visitar o estado, começando pela comunidade de Enxu Queimada, no município de Pedra Grande. Nela, é possível compreender os impactos causados pelos aerogeradores nas comunidades do sertão ao litoral do Rio Grande do Norte.

AUTOR
Foto Jeniffer Oliveira
Jeniffer Oliveira

Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.