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Crédito: Helena Dias/MZ Conteúdo
A presença da religião na política significa um projeto de poder de viés conservador que está muito bem estruturado no Brasil. Neste contexto, a mídia tradicional tem exercido um papel que reforça estereótipos e normaliza o não cumprimento da laicidade do Estado, garantida na Constituição de 1988. As narrativas de combate a esse projeto foram o assunto da roda de diálogo “Direito à expressão religiosa x Defesa do estado laico”, que aconteceu na manhã deste sábado (31) no colégio João Barbalho, na Boa Vista.
A conversa fez parte da programação do último dia do Ocupa Política e contou com a presença da deputada estadual Mônica Francisco (PSOL-RJ), da integrante do Coletivo de Juristas Negras de Pernambuco Ciani Neves e do jornalista e cofundador do movimento SP Invisível, Vinícius Lima. A mediação ficou a cargo da pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (Iser), Carô Evangelista.
“Como nós, enquanto esquerda, pretendemos lidar com o racismo?”, essa foi a pergunta de Ciani Neves, após explicar as diversas formas de expressão do racismo na política e sobre o quanto ele se fortalece no discurso religioso de muitos políticos que exercem cargos públicos no país. Para ela, tem sido cada vez mais difícil tratar do assunto frente ao atual cenário político conservador, em que a “perseguição e demonização” das religiões de matriz africana estão ainda mais evidentes.
Na visão da Ciani, o campo político da esquerda precisa estabelecer estratégias de enfrentamento mais firmes e pautar o assunto como prioridade. Os movimentos negros e de religiões afro têm buscado se fortalecer internamente de diversas maneiras. “Dentro dessa linha, a gente tem atuado nos terreiros com formações política e jurídica dos direitos e do estado laico propriamente dito. É por causa dos recentes tipos de práticas racistas que essas formações vêm acontecendo com intensidade”.
Dar prioridade ao assunto também é uma peça-chave na visão da deputada estadual Mônica Francisco. Segundo ela, o embate entre os campos progressista e o “neofascismo” expresso nas manifestações mais conservadoras dos grupos evangélicos é uma questão de disputa de narrativas. Não dá para desconstruir a demonização das religiões africanas, sem entender os meios pelos quais o racismo tem se fortalecido no contexto atual.
“O nosso desafio é colocar essa narrativa como centro da luta política institucional. Disputando a narrativa da linguagem e da estética. Porque Bolsonaro aparece sendo batizado no Rio Jordão e Magno Malta rezando na televisão, enquanto os ministros de Trump vêm ao Brasil”. Mônica é enfática quando diz que nada é em vão quando se trata de misturar religião com política.
Estas disputas de narrativas de linguagem e estética passam também pela abordagem midiática sobre o racismo, as religiões afro e o estado laico. O jornalista e cofundador do movimento SP Invisível, Vinícius Lima, se posicionou como evangélico que não respalda a onda conservadora e falou sobre a importância da comunicação na desmistificação desse enfrentamento.
Para ele, dar visibilidade ao tema é uma solução. “Na igreja, a luta é bem difícil. A igreja sempre silenciou mulheres. Sempre silenciou negros e negras”, disse. E a questão seria “como contar essas histórias”. Vinícius considera a disputa narrativa como o primeiro passo para a garantia dos direitos humanos.
Jornalista atenta e forte. Repórter que gosta muito de gente e de ouvir histórias. Formou-se pela Unicap em 2016, estagiou nas editorias de política do jornal impresso Folha de Pernambuco e no portal Pernambuco.com do Diario. Atua como freelancer e faz parte da reportagem da Marco Zero há quase dois anos. Contato: helenadiaas@gmail.com