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“Ouçam Mirtes, mãe de Miguel”: campanha marca 3 meses de luta por justiça por Miguel

Débora Britto / 02/09/2020

Três meses depois da morte do menino Miguel, a família, instituições a sociedade civil e do movimento negro lançam a campanha “Ouçam Mirtes, a mãe de Miguel”, com objetivo de amplificar a voz de Mirtes Renata, mãe da criança, e cobrar da Justiça de Pernambuco que o caso seja concluído com isenção e rapidez.

De acordo com os movimentos, há o temor de que o poder financeiro e a influência política de Sarí influenciem no julgamento do caso.

Nesta quarta-feira, dia 2, às 18h, será transmitido ao vivo pelo Facebook da Articulação Negra de Pernambuco (Anepe), um vídeo gravado com a participação de Mirtes e apoiadores. A campanha reuniu diversas figuras públicas, atrizes, cantoras, ativistas, parentes de Mirtes e também não famosos que vestem camisas com frases ditas por Mirtes nos últimos meses, em busca de justiça. Lia de Itamaracá, Erika Januza, Mariana Ximenes e Angélica são algumas das mulheres que compõem o movimento.

A importância de Mirtes Renata, mãe de Miguel, e sua família não estarem sozinhas nesse processo é algo que ela sempre repete. “Isso mostra que a gente não está só, graças a Deus estamos tendo apoio de muita gente. Eu só tenho agradecer por se unirem à minha luta”, conta Mirtes. Toda a mobilização tem renovado as esperanças de que a justiça será feita.

“Tenho esperanças que vai impactar muita gente porque vai ser uma campanha muito forte. A gente não vai ter só essa, tem outras que já estão sendo articuladas para os próximos meses. Para eles verem que a gente está se movendo, que não vamos desistir, nem deixar cair no esquecimento. Para mostrar a Sarí que o Brasil quer justiça”, continua.

Miguel tinha cinco anos quando, no dia 2 de junho, morreu depois de cair do nono andar de um prédio de luxo no Recife, quando estava sob responsabilidade de Sarí Corte Real, patroa de Mirtes Renata, mãe de Miguel, e primeira-dama de Tamandaré. Sarí foi acusada por “abandono de incapaz resultando em morte” com agravante de que o crime aconteceu “em meio a uma conjuntura de calamidade pública”. Ela estava fazendo as unhas no apartamento e deveria cuidar da criança enquanto Mirtes caminhava com a cadela da família.


“Ela não trataria assim o filho de uma amiga”

A campanha coloca em evidência algumas frases ditas por Mirtes e que chamam atenção para a gravidade do caso desde que a ex-patroa pôde pagar uma fiança de 20 mil reais e ser liberada para responder em liberdade, até o momento em que o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) apresentou a acusação por abandono de menor com agravante de Sarí.

A cirandeira Lia de Itamaracá, as atrizes Maeve Jenkins e Mariana Ximenes e Ju Colombo e outras fazem parte da campanha por justiça por Miguel. Fotos: Divulgação

“A fala de Mirtes precisa ser ouvida. Ela quer Justiça por amor ao filho. Essa narrativa tem o poder de mover as estruturas”, destaca a artista plástica Mana Bernardes, responsável pela concepção artística das camisetas. Segundo Mirtes, Mana foi uma das pessoas que a procurou para prestar solidariedade após perder o filho. Mirtes disse que o apoio que ela precisava era para fazer ecoar seu clamor por justiça.

Assim, frases como “Se é lei, é para todos”, “Ela não teve paciência para cuidar” estampam camisas com cores azul cobalto e branco, fazendo referência à fé católica da família de Miguel, é o que explica a artista plástica.

“Eu pedi para me ajudar a fazer alguma coisa para não deixar cair no esquecimento. Ela topou me ajudar, se juntou com o pessoal da Anepe, do Gajop, do Audiovisual, da Rede de Mulheres Negras. Se uniram e fizeram a campanha, que não deixa de ser um pedido de justiça”, conta Mirtes.

“A forma como a vida de Miguel foi ceifada é mais um exemplo das consequências das profundas desigualdades que marcam o Brasil. Todas as pessoas precisam pensar sobre isso e se posicionar”, defende Mônica Oliveira, da Articulação Negra de Pernambuco (Anepe).

O vídeo foi realizado pela Articulação Negra de Pernambuco, Mana Bernardes e a família de Miguel, em parceria com o Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop), o Coletivo Negritude do Audiovisual em Pernambuco e outros movimentos sociais.

Matéria atualizada em 03/09, às 08h20, para inserir o vídeo da campanha.

AUTOR
Foto Débora Britto
Débora Britto

Mulher negra e jornalista antirracista. Formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), também tem formação em Direitos Humanos pelo Instituto de Direitos Humanos da Catalunha. Trabalhou no Centro de Cultura Luiz Freire - ONG de defesa dos direitos humanos - e é integrante do Terral Coletivo de Comunicação Popular, grupo que atua na formação de comunicadoras/es populares e na defesa do Direito à Comunicação.