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Crédito: Iggor Gomes/PCR
Nas últimas semanas, a sensação foi que a pandemia regrediu em Pernambuco. Dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES) confirmam, em parte, esse otimismo: as solicitações por leitos de UTI tiveram um recuo de 30% em uma semana e de 34% em 15 dias. A taxa de ocupação de terapia intensiva, que já esteve acima de 80%, caiu para 67%. Atualmente, Pernambuco não tem fila de espera para vagas de UTI em leitos para síndrome respiratória aguda grave (Srag), segundo a SES.
Mas há outra forma de ver esses dados. Ainda que as reduções sejam motivo de comemoração, as internações ainda estão em um patamar muito alto. Em números absolutos, em 2020, no primeiro ano da pandemia, Pernambuco contou com no máximo 2,2 mil leitos para Srag. Agora, está com 2.176 leitos, sendo 1073 de UTI e 1103 de enfermaria. “A porcentagem tem caído, fato, mas o número absoluto é muito alto. São 2.176 leitos de UTI para uma única doença! Estamos no máximo de leitos que tínhamos em 2020”, comenta o epidemiologista de dados Jones Albuquerque, do Instituto para Redução de Riscos e Desastres e Desastres de Pernambuco (IRRD-PE) e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Outro fator preocupante é que os números de casos de infecções não estão apresentando melhoras. Até agora, o pico foi registrado na semana passada com 34.548 casos confirmados. Na semana anterior, foram 31.030 casos. Antes dela, 33.424. Ou seja, já são três semanas acima dos 30 mil casos. Até esta quinta-feira, já são 21.565 casos acumulados na semana, de acordo com os boletins epidemiológicos.
Os casos chegaram perto dos 28 mil em 23 de janeiro. De lá para cá, um mês depois, ainda não apresentam sinais de queda. “Não gosto da palavra platô, porque parece que a situação está tranquila. Mas estamos em um platô de casos muito alto. Subimos e estacionamos lá em cima”, comenta Jones. No final de outubro, antes da ômicron, a situação era bem mais favorável, como mostram os mapas acima.
Para Jones, a situação só deve de fato melhorar quando passar a temporada de casos de vírus respiratórios, que começa agora em março e geralmente diminui no mês de maio. “Vamos emendar a alta da ômicron com o nosso ciclo de Srag. Parece que por aqui não temos ondas, subimos e ficamos por lá por meses”, afirma o cientista, que defende a manutenção de medidas restritivas. “Achar que a pandemia vai acabar em março, que não vamos precisar de máscaras e que não vai ter novas variantes é irreal diante do alto número de casos que temos hoje no mundo todo”, disse.
Durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira, o secretário de saúde André Longo também advertiu sobre o início da sazonalidade de vírus respiratórios. “Ainda não podemos baixar a guarda. O vírus continua circulando. Mais de 700 pacientes estão internados, atualmente, em leitos de UTI e os óbitos continuam em patamar elevado, o que é reflexo de duas a quatro semanas atrás”, alertou André Longo, afirmando também que “já passamos pelo pior momento desta onda”.
Os dados da Secretaria Estadual de Saúde, divulgados nesta quinta, apontam que foram registrados 593 casos de casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag) na semana passada – uma queda de 28% em relação à semana anterior e de 33% nos últimos 15 dias. A positividade entre os casos graves também caiu de 50% na semana passada para 37% atualmente.
O Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Infocruz), confirma a queda nas internações por Srag em Pernambuco e em grande parte do Brasil. Pernambuco é um dos 26 estados que apresentaram queda nas internações por Srag nas últimas três semanas. Apenas Roraima e Tocantins tiveram alta. Já na avaliação das capitais, o Recife se encontra em nível alto de transmissão comunitária, assim como outras 21 capitais.
O boletim também aponta que a covid-19 continua sendo a doença predominante entre os casos graves de vírus respiratórios. Nas últimas quatro semanas, a prevalência entre os casos de Srag foi de 90,8% para o Sars-Cov-2, enquanto outros vírus que também causam Srag tiveram percentuais ínfimos: 0,9% para Influenza A, 0,1% para Influenza B e 1,7% para vírus sincicial respiratório.
Entre os casos confirmados que evoluíram para óbito o Sars-Cov-2 deu positivo em 97% das vítimas nas últimas quatro semanas entre os casos avaliados pelo Boletim InfoGripe.
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Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org