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Coletivo Enegrecer a Política lança dossiê sobre como vota o eleitorado do Recife

Maria Carolina Santos / 30/03/2023
Grupo de mulheres durante passeata carregam faixa branca com as letras pretas com a inscrição As mulheres negras movem o mundo

Crédito: Débora Britto/MZ

O que pensa o eleitorado sobre a participação de pessoas negras na política? É para dar um horizonte para esse e outros questionamentos que o coletivo de movimentos Enegrecer a Política lança, nesta quinta-feira (30), o dossiê Como você vota – Análise do comportamento eleitoral do Norte e Nordeste. O evento acontece a partir das 19h na sede do coletivo Caranguejo Uçá, na Ilha de Deus, na Imbiribeira. Também vai ter transmissão online pelo YouTube.

Este é o terceiro dossiê lançado pelo Enegrecer a Política que explora a participação negra na política institucional. Os outros dois foram realizados em 2020 e 2021, analisando as candidaturas de pessoas negras nas eleições de 2016 e 2020.

“Nestes dois primeiros dossiês, vimos que muitas pessoas negras estavam se candidatando. Então nesta terceira pesquisa fomos atrás de outra perspectiva: se tem tantas candidaturas negras, comprometidas com a defesa dos direitos humanos, por que elas não estão sendo eleitas? Essa terceira pesquisa focou no comportamento do eleitorado”, conta Marília Gomes,co-fundadora do Observatório Feminista do Nordeste e coordenadora de pesquisa do Enegrecer a Política.

Para elaborar o dossiê, o coletivo fez pesquisas quantitativas e qualitativas em três capitais brasileiras: Belém (PA), Fortaleza (CE) e aqui no Recife. A primeira etapa da pesquisa contou com a formulação e aplicação de 100 questionários por cidade em espaços públicos e centrais. A segunda etapa da pesquisa foi feita com três grupos focais, para aprofundar os dados coletados na etapa inicial. No Recife, o grupo focal contou com a participação de 11 pessoas, de perfis diversos.

A pesquisa traz achados interessantes sobre o eleitorado recifense. Quando perguntado sobre o espectro político, por exemplo, a maioria, nas três capitais, optou por não responder. Recife foi a cidade com maior percentual de pessoas que não quiseram responder a pergunta (56%) e a menor com pessoas que disseram de esquerda, com 21% (veja gráfico abaixo). Mas entre as três cidades pesquisadas, Recife foi a com o maior número de pessoas que declararam já ter votado em pessoas negras (69%).

Representatividade sim, mas com comprometimento

Entre os deputados estaduais eleitos em 2022 em Pernambuco, há políticos conservadores de direita como Joel da Harpa (PL), William Brígido (Republicanos) e Cleiton Collins (PP) que se autodeclaram pretos ou pardos.

Porém, é uma representatividade que não está atrelada à luta antirracista, destaca Marília. “Mesmo que no documento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se declarem como negros, são pessoas que não defendem a pauta de defesa dos direitos humanos nem se posicionam como antirracistas”, afirma Marília Gomes.Na eleição passada, houve uma vitória: duas mulheres negras, militantes dos direitos humanos foram eleitas para a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe): Dani Portela (PSOL) e Rosa Amorim (PT).

Na pesquisa qualitativa, com um grupo focal de 11 pessoas no Recife, as imagens de mulheres negras pontuaram alto em quesitos como credibilidade e competência. “Foi uma opinião unânime: as mulheres negras inspiram confiança e demonstram força. O principal motivo que os eleitores apontaram para não votar nessas candidaturas foi o desconhecimento da existência delas”, diz a coordenadora da pesquisa.

Marília Gomes. Foto: Thiago Paixão/ Divulgação

O conjunto dos três dossiês revela que as candidaturas de pessoas negras, especialmente de mulheres negras, têm aumentado, mas falta investimento. “O que vimos nesta pesquisa de agora é que as pessoas têm interesse e se sentem motivadas para votar em pessoas negras, mas ao mesmo tempo não sabem que essas candidaturas existem”, avalia Marília. “As iniciativas e candidaturas negras, de esquerda, não estão conseguindo chegar a esse eleitorado. É o que já intuíamos: são candidaturas que estão em uma bolha ainda muito restrita de pessoas que estão a par da política, com nível universitário, com conhecimento de movimentos sociais. Temos um cenário propício para que mais mulheres negras sejam opção de voto e é preciso furar essa bolha”, diz.

E para uma candidatura se tornar conhecida é necessário, principalmente, investimento. “Sem dinheiro não tem como percorrer as periferias, pagar gasolina, contratar uma boa equipe de comunicação, rodar panfletos. E as candidaturas negras recebem menos. Principalmente as mulheres negras”, diz Marília, que aponta uma solução. “O que é primordial hoje é fazer com que os partidos políticos cumpram de fato as leis de cotas da distribuição do fundo eleitoral e repassem os recursos em tempo hábil para que as candidaturas possam fazer uma boa campanha. Há muitos relatos de promessa de partidos e repasses que são só feitos às vésperas da eleição. Falta comprometimento dos partidos”, afirma.

Um trabalho importante, frisa Marília, e que também precisa de mais apoio, são as iniciativas que apoiam e divulgam as candidaturas de pessoas negras. Entre elas estão as plataformas Eu Voto em Negra e Mulheres Negras Decidem e o Instituto Marielle Franco.

Serviço:
Lançamento da pesquisa: Como vota o eleitorado no Norte e no Nordeste
Quando: Quinta-feira (30), das 19h às 21h
Onde: Sede do Ação Comunitária Caranguejo Uçá – Rua São Geraldo, 96 – Ilha de Deus/ Imbiribeira, Recife-Pernambuco.

Imagem: Enegrecer a Política/ Reprodução

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AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com