Apoie o jornalismo independente de Pernambuco

Ajude a MZ com um PIX de qualquer valor para a MZ: chave CNPJ 28.660.021/0001-52

Com pandemia, bibliotecas comunitárias assumiram a missão de matar a fome nas periferias

Kleber Nunes / 25/05/2021
Biblioteca Multicultural Nascedouro

Com 20 anos de existência, a Biblioteca Multicultural Nascedouro, localizada em Peixinhos, na divisa entre o Recife e Olinda, garante apoio alimentar a 250 famílias cadastradas da comunidade. Crédito: Arquivo Biblioteca do Nascedouro

Criadas para diminuir a distância entre a favela e a educação, as bibliotecas comunitárias sentiram o impacto da pandemia do coronavírus. Os livros não deixaram de ser o atrativo, mas as obras passaram a dividir a atenção com cestas básicas e kits de limpeza. A crise transformou esses espaços de atividades culturais em núcleos de solidariedade, que estão ajudando a matar a fome e salvar vidas.

O ano de 2020 era muito aguardado pelos gestores e frequentadores da Biblioteca Multicultural Nascedouro, localizada em Peixinhos, bem na divisa entre o Recife e Olinda. Afinal de contas, o espaço, que surgiu a partir da necessidade de oferecer ações permanentes de acesso gratuito à cultura como literatura, artes visuais e música, estava completando duas décadas de “existência e resistência”.

Antes da chegada do coronavírus, a biblioteca funcionava de segunda a sexta durante o dia com projetos de incentivo à leitura como o Quinta do Ler. À noite, eram realizados grupos de estudos e formações internas. O espaço com quase 6 mil títulos atuava também como uma editora, onde eram confeccionados livros artesanais com o selo “Boca do Lixo”.

“Todas as ações eram presenciais, hoje fazemos à distância, como a mediação de leitura por meio de vídeos enviados pelo WhatsApp. Além disso, pela primeira vez começamos a distribuir cestas básicas diante da necessidade da comunidade. São 250 famílias cadastradas, mas chegamos a atender até 300”, explica Rogério Bezerra, membro da equipe gestora da Biblioteca Multicultural Nascedouro.

Biblioteca Multicultural Nascedouro

As leituras compartilhadas e os grupos de estudos que enchiam o espaço da biblioteca do Nascedouro agora acontecem à distância. Crédito: Arquivo Biblioteca do Nascedouro

Além da arrecadação de alimentos, a biblioteca também está recebendo doações de smartphones e tablets. Os aparelhos serão usados para empréstimos às famílias cadastradas nos grupos de mediação de leitura para que possam acompanhar as atividades de casa.

Com a reabertura do comércio e a implantação de um novo plano de convivência com a covid-19, mais brando, mesmo em meio ao pior momento da pandemia, as doações despencaram. A estratégia da Biblioteca Solar de Ler, do Centro de Cultura Luiz Freire, em Olinda, é trabalhar em conjunto com a rede periférica da cidade em busca de novas fontes de recursos.

“As doações acabaram, literalmente. Com a Rede Orgânica Periférica estamos tentando fazer novas parcerias e participar de editais públicos e privados e de fundos de ONGs, mas geralmente são recursos que variam de R$ 3 mil a R$ 10 mil, perto da demanda que temos não dá para atender nem a metade”, explica a coordenadora executiva da Solar de Ler, Rafaela Lima.

A biblioteca está aberta ao público desde 2016 ofertando mais de 5.500 títulos. Antes da pandemia, o espaço tinha um projeto contínuo com 42 crianças moradoras da comunidade V8. Após o coronavírus, a biblioteca ampliou o atendimento para 240 famílias levando literatura por meio da Malateca – projeto itinerante de leitura – e alimentos e itens de limpeza também para moradores de outras localidades como a Ilha do Maruim e da Portelinha.

Implantar a Malateca também foi a alternativa da Livroteca Brincante do Pina, zona sul do Recife, para manter o vínculo com os frequentadores. Mas, aliadas ao projeto de leitura, estão iniciativas de socorro em segurança alimentar, estímulo à economia solidária e ações de conscientização e prevenção ao vírus. Ao todo, já foram distribuídas mais de mil cestas básicas, máscaras de proteção e kits de higiene pessoal e limpeza, impactando 300 famílias.

A Livroteca do Pina há 25 anos atua com uma série de atividades culturais e ambientais como o Cine Bode, o cortejo com música e poesia, a gincana ecológica e a horta comunitária, por exemplo. A biblioteca, que nasceu em uma palafita, hoje é uma referência para a comunidade.

Parceria com a Malateca- Biblioteca Viva e Itinerante

Magda Alves, coordenadora de comunicação da Livroteca do Pina, diz que a campanha de arrecadação de alimentos é uma prioridade, assim como fazer circular na comunidade informações sobre prevenção ao coronovírus. Crédito: Fiona Forte



“A primeira necessidade que percebemos das pessoas é com a questão da fome, iniciamos imediatamente a campanha de arrecadação de doações. Com o dinheiro compramos alimentos como sururu e verduras de pescadores e comerciantes do bairro e doamos. Ao mesmo tempo, criamos a campanha Corona nas Periferias, fizemos um passinho para falar sobre a prevenção e fundamos a rádio de andada, que toda semana por meio de bicicleta e barco transmite poesia, música e notícias para a comunidade”, conta a coordenadora de comunicação, Magda Alves.

Referência para os moradores de Joana Bezerra, área central do Recife, a Biblioteca Popular do Coque foi surpreendida quando teve que fechar as portas por causa da pandemia, mas não estranhou que imediatamente pessoas procurassem o espaço para fazer doações para a compra de alimentos. De acordo com o coordenador da biblioteca, Rafael Andrade, a saída foi buscar parcerias e fornecer cartões-alimentação no valor de R$ 300 para cerca de 300 famílias.

“Quando começou o auxílio emergencial, as pessoas tiveram um pouco mais de qualidade de vida porque conseguiam comprar comida. Agora, a questão da segurança alimentar voltou ainda mais forte e. por isso, mantemos a campanha, porque tem muita gente precisando do básico para comer”, declara Andrade.

Doe para uma biblioteca

Biblioteca Multicultural Nascedouro
Endereço: Avenida Jardim Brasília, S/N – Nascedouro de Peixinhos, Recife/Olinda
WhatsApp: (81) 98839.2501
E-mail: movimentobocalixo@yahoo.com.br
Site: movimentobocalixo.wordpress.com

Biblioteca Solar de Ler
Endereço: Rua 27 de Janeiro, 181 – Carmo, Olinda
Telefone: 3439-9308
Doações: Nu Pagamentos S.A. | Ag. 0001 – Conta: 85544999-6 – Banco 260
Pix Nubank: 061.725.924-08
E-mail: bibliotecasolardeler@gmail.com
Site: cclf.org.br

Livroteca Brincante do Pina
Endereço: Rua Artur Lício, 291 – Pina, Recife
Whatsapp: (81) 98318-2510
Doações: Banco Caixa Econômica Federal
Agência 2193
Operação 013 (Poupança)
Conta 9339-2

Nome: José Ricardo Gomes Ferraz
CPF: 763.608.814-20
Chave PIX: livrotecab@gmail.com
Site: www.livrotecabrincantedopina.siteo.one

Biblioteca Popular do Coque
Rua Ibiporã, 260, Coque – Recife
Telefones: (81) 98830-3642 / 3448-2048
Site: www.bpcoque.com.br

Esta reportagem é uma produção do Programa de Diversidade nas Redações, realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo Representativo, com o apoio do Google News Initiative”.

Seja mais que um leitor da Marco Zero

A Marco Zero acredita que compartilhar informações de qualidade tem o poder de transformar a vida das pessoas. Por isso, produzimos um conteúdo jornalístico de interesse público e comprometido com a defesa dos direitos humanos. Tudo feito de forma independente.

E para manter a nossa independência editorial, não recebemos dinheiro de governos, empresas públicas ou privadas. Por isso, dependemos de você, leitor e leitora, para continuar o nosso trabalho e torná-lo sustentável.

Ao contribuir com a Marco Zero, além de nos ajudar a produzir mais reportagens de qualidade, você estará possibilitando que outras pessoas tenham acesso gratuito ao nosso conteúdo.

Em uma época de tanta desinformação e ataques aos direitos humanos, nunca foi tão importante apoiar o jornalismo independente.

É hora de assinar a Marco Zerohttps://marcozero.org/assine/
AUTOR
Foto Kleber Nunes
Kleber Nunes

Jornalista formado pela Unicap e mestrando em jornalismo pela UFPB. Atuou como repórter no Diario de Pernambuco e Folha de Pernambuco. Foi trainee e correspondente da Folha de S.Paulo, correspondente do Estadão, colaborador do UOL e da Veja, além de assessor de imprensa. Vamos contar novas histórias? Manda a tua para klebernunes.marcozero@gmail.com