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Biblioteca Popular do Coque faz campanha para arrecadar livros de autores negros e indígenas

Kleber Nunes / 15/05/2021
Biblioteca popular do Coque

Projeto visa revelar diversidade étnico-racial e despertar o senso crítico das crianças e dos moradores para quebrar estereótipos e preconceitos. Crédito: Divulgação

A Biblioteca Popular do Coque, no bairro de Joana Bezerra, área central do Recife, está realizando uma campanha para arrecadar livros que tratam de questões étnico-raciais e tenham como autores e autoras pessoas negras, quilombolas ou indígenas. O objetivo é que esse acervo subsidie o “Clube de Leitura: eu sou porque nós somos”, novo projeto da instituição que estreia no dia 7 de junho.

Para participar da campanha, os interessados podem doar os livros na sede da biblioteca – rua Ibiporã, número 260. O atendimento funciona de segunda a sexta, das 8h às 17h. Se o doador não puder comparecer ao local, tem a opção de enviar os livros por meio de serviços de entrega por aplicativos ou agendar a coleta dos exemplares pelo WhatsApp (81) 99684-1276.

“Trabalhar com autores e autoras negras, quilombolas e indígenas é revelar essa representatividade e despertar o senso crítico, que com certeza os moradores do Coque já têm, para quebrar os estereótipos colocados sobre esses grupos”, afirma a universitária e idealizadora das ações, Luara Seridó.

Biblioteca popular do Coque

Criada há quase 14 anos, a Biblioteca Popular do Coque é referência na mobilização cidadã da comunidade. Crédito: Divulgação

O Coque é a região do Recife com o maior número de indígenas. A Associação Indígena em Contexto Urbano Karaxuwanassu (Assicuka) estima que a comunidade abrigue 3.645 membros de povos originários. Para Luara, indígena descendente do povo Seridó do Rio Grande do Norte e do Ceará, essa maioria numérica é invisibilizada pelo preconceito.

“A Biblioteca Popular do Coque atende crianças e adolescentes indígenas que não se sentem seguros em comentar suas origens ou nem sabem a que povo pertencem, isso porque boa parte da sociedade ainda define que indígena tem que estar nas aldeias. O clube de leitura quer despertar a curiosidade e fazer essa retomada para quebrar esses estereótipos e para que todos entendam que o indígena está na cidade e pode ser professor, médico ou artista, por exemplo”, explica Luara.

O coordenador da Biblioteca Popular do Coque, Rafael Andrade, conta que, nos quase 14 anos de existência da instituição, os temas étnico-raciais sempre fizeram parte das atividades, mas precisavam de um trabalho específico e mais direcionado. “Já ouvimos de frequentadores da biblioteca a dificuldade de lidar com a cor da pele ou com o cabelo, sempre nos posicionamos, mas precisava ter algum lugar de fala para estabelecer esse diálogo e agora podemos ter com o Clube de Leitura: eu sou porque nós somos”, diz.

Andrade explica ainda que o clube de leitura com os moradores do Coque, devido às restrições impostas pela pandemia de coronavírus, será realizado mensalmente por meio da internet. O primeiro encontro vai debater o livro “Quarto de despejo”, escrito por Carolina Maria de Jesus. “Já estamos colhendo bons frutos com quase 30 inscritos, o que mostra o interesse da comunidade pelo projeto”, afirma.

O Clube de Leitura: eu sou porque nós somos faz parte do programa de extensão da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), “Bibliotecas Comunitárias na UFPE e UFPE nas Bibliotecas Comunitárias”.

Esta reportagem é uma produção do Programa de Diversidade nas Redações, realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo Representativo, com o apoio do Google News Initiative”.

AUTOR
Foto Kleber Nunes
Kleber Nunes

Jornalista formado pela Unicap e mestrando em jornalismo pela UFPB. Atuou como repórter no Diario de Pernambuco e Folha de Pernambuco. Foi trainee e correspondente da Folha de S.Paulo, correspondente do Estadão, colaborador do UOL e da Veja, além de assessor de imprensa. Vamos contar novas histórias? Manda a tua para klebernunes.marcozero@gmail.com