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Com recorde de casos de covid, Pernambuco não adotará mais restrições nem recomendações do Conselho Estadual de Saúde

Raíssa Ebrahim / 06/05/2021

Crédito:

Nesta quinta-feira, 6 de maio, Pernambuco bateu recorde de novos casos de covid-19 desde o início da pandemia. Foram 3.074 confirmações em apenas 24 horas. A taxa de ocupação das UTIs públicas – acima de 90% desde fevereiro – está em 97%, tendo atingido 100% em Caruaru, no Agreste. A média móvel de óbitos está em crescimento há uma semana. O Governo de Pernambuco, no entanto, acredita que “ainda não é o momento” de adotar novas medidas restritivas. A gestão também antecipou que não seguirá as recomendações do Conselho Estadual de Saúde, que defende a suspensão imediata das aulas presenciais e quarentenas localizadas. 

Em coletiva de imprensa no final da tarde, com a presença dos secretários de Saúde, André Longo, e da executiva de Desenvolvimento Econômico, Ana Paula Vilaça, foi anunciada a prorrogação das medidas atualmente vigentes por mais 15 dias, até 23 deste mês. Veja quais são no final da matéria. 

O governo diz estar atento e que não hesitará em decretar ações mais rígidas, inclusive regionais, porém somente se houver uma nova aceleração de casos. Pernambuco encontra-se hoje em um cenário que é considerado de estabilidade, mas num platô bastante elevado de casos e óbitos, com forte pressão no sistema de saúde e equipes de profissionais da linha de frente sobrecarregadas e exaustas.    

Usando como referencial somente os impactos dos setores econômicos, o secretário de Saúde voltou a dizer que as medidas em vigor “não são brandas”. “Pergunte ao dono do restaurante, ao dono do setor de eventos se as medidas são brandas. Pergunte às pessoas que fazem uma série de atividades econômicas se as medidas são brandas. As medidas não são brandas, são proporcionais”, afirmou, sem se referir aos profissionais dos serviços de saúde.

“Uma medida restritiva mais intensa, mais severa, serve para impedir o processo de aceleração exponencial de casos. A gente sabe dos impactos negativos sobre a economia que essas medidas têm. A gente sabe da resistência de vários setores, de várias pessoas a essas medidas. Elas precisam ser adotadas sim, mas de forma proporcional, de forma equilibrada, para que a gente tenha um controle adequado da pandemia, mas também tenha essa preocupação com o bem-estar social, econômico, biopsicossocial, o conjunto de toda a nossa sociedade”, comentou Longo.

O secretário chegou a dizer que “o comportamento das pessoas é mais importante do que a medida restritiva”. Eis o trecho de sua fala em que ele disparou essa frase: “O cuidado é necessário, mais do que a medida restritiva. A medida restritiva é importante e a gente continua adotando. Mas o comportamento das pessoas é mais importante do que a medida restritiva. Eu não tenho dúvida. Se as pessoas se comportam, têm um comportamento de cuidado, a gente tem um resultado melhor do que a adoção de medidas restritivas que sejam desrespeitadas de forma solene pela população. Então nós precisamos ter um equilíbrio entre medidas restritivas e comportamento adequado da população prezando pelo cuidado  de si e dos outros”.

Segundo os dados apresentados por Longo, houve uma “flutuação dentro da estabilidade, algo considerado comum dentro do platô”. Foram 1.583 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) na semana passada, 17 a mais que na semana anterior e 14 a menos na comparação com duas semanas atrás. As solicitações de leitos de UTI, por sua vez, tiveram um aumento de 76 pedidos na comparação semanal. As de enfermaria, de 65, no mesmo período.

Pernambuco tem hoje mais de 1,6 mil doentes em UTIs da rede pública. Nas palavras dele, “a situação ainda é preocupante e maio será um mês difícil porque historicamente é um período de alta nas ocorrências de doenças respiratórias, não necessariamente só por covid-19”.

Sobre os números, o gestor informou que Pernambuco tem a quarta menor taxa de mortalidade do Brasil, analisando os dados de 2020 e 2021, e a segunda menor do País, quando comparados os estados em 2021. “Não é obra do acaso, só foi possível graças aos planejamentos e investimentos do Governo de Pernambuco, ao apoio de grande maioria da sociedade às medidas não farmacológicas e a adoção das medidas restritivas em tempo oportuno, que continuam sendo necessárias neste momento e continuarão sendo adotadas em nosso estado por indicações do nosso comitê”, defendeu Longo. Ele não mencionou a taxa de letalidade (porcentagem de mortes entre aqueles que testam positivo), que é a segunda maior do país.

Mais uma vez, estado não seguirá recomendações do conselho

Como antecipou a Marco Zero Conteúdo na última sexta (30), o Conselho Estadual de Saúde (CES) aprovou e publicou, nesta quarta (5), uma nova nota em que recomenda três pontos principais: suspensão imediata das aulas presenciais; construção de uma estratégia local caso haja um lockdown nacional; e quarentenas pontuais localizadas nas áreas com dados de casos e óbitos mais críticos. O estado, porém, não seguirá as recomendações.

“A gente respeita muito o conselho, eu sou o presidente do conselho, mas não participei dessa reunião. O conselho tem autonomia para fazer recomendações, tem um comitê que faz o acompanhamento, são os dados que a gente apresenta. Mas a decisão é da autoridade sanitária e a decisão neste momento é pela manutenção das medidas restritivas”, sentenciou o secretário de Saúde, André Longo.

Ele disse que é possível que se atenda à recomendação em relação às medidas pontuais de quarentena, específicas e localizadas nas regiões mais críticas, mas somente se for detectada, por duas semanas consecutivas, um comportamento numa determinada região que aponte para essa necessidade, o que não é o caso agora, na avaliação do Comitê de Enfrentamento da Covid-19 em Pernambuco.

“(O Comitê) recebe recomendações de várias instituições, pesquisadores, epidemiologistas, a gente tem muitas pessoas e instituições que dão opinião, e cabe ao Comitê fazer essa avaliação. Neste momento, não vamos seguir a recomendação que foi expressa por essa comissão do conselho”, frisou. 

Sobre as escolas, Longo acredita que “as aulas presenciais nas escolas públicas e privadas têm seguido o protocolo  e se comportado como um ambiente seguro, essa é a avaliação que a Saúde faz”. “A parada da educação é muito mais grave do que o fato de você manter as atividades funcionando”, completou. O gestor lembrou que o ensino presencial não é obrigatório. Na prática, porém, é sabido que pais e familiares não têm muita opção, uma vez que precisam ir trabalhar e não têm com quem deixar as crianças. Muitos estudantes e profissionais da educação precisam pegar transporte público, o que sobrecarrega ainda mais o sistema.

Leia aqui a íntegra das recomendações do Conselho Estadual de Saúde

Confira o que pode e o que não pode

Desde o dia 26 de abril, o funcionamento do comércio de praia está permitido de segunda à sexta, das 9h às 16h. A proibição está mantida nos finais de semana. As atividades de maneira geral podem funcionar, nos finais de semana, até as 18h, para quem iniciar às 10h. Os estabelecimentos que abrirem às 9h só podem funcionar até as 17h. Nos dias de semana, as atividades econômicas em geral continuarão com permissão para funcionar das 10h às 20h.

Neste fim de semana do Dia das Mães, os horários de funcionamento do varejo em Pernambuco serão alterados. “A dinâmica de operação das lojas de comércio de bairro, de centro e dos shoppings será diferente nos dias 7, 8 e 9 de maio. Os estabelecimentos poderão funcionar das 8h às 20h na sexta-feira e no sábado. Já no domingo, das 8h às 18h”, detalhou Ana Paula Vilaça na coletiva.

De acordo com ela, a ampliação do horário é por conta da previsão de expansão do fluxo de pessoas em busca dos presentes. “O objetivo da medida é diluir o fluxo por um horário maior e evitar aglomeração seguindo os protocolos de varejo”, defende. Vilaça também disse que a fiscalização será intensificada.

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AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com