Ajude a MZ com um PIX de qualquer valor para a MZ: chave CNPJ 28.660.021/0001-52
Ser agredido ou ameaçado durante o exercício do seu trabalho é um dos riscos que jornalistas e comunicadores correm enquanto apuram denúncias no cotidiano da profissão. De acordo com o último Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, produzido pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), 144 jornalistas foram atacados em 2024. Esse número foi o menor em seis anos, tendo casos constantes desde o início do mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para combater essas violências, a Rede Nacional de Proteção a Jornalistas e Comunicadores oferece um serviço de atendimento e acolhimento psicológico e jurídico, além de orientações e dicas para prevenir novas ameaças ou ataques. Lançada oficialmente em 2021 pelo Instituto Vladimir Herzog e a organização Artigo 19, a Rede foi articulada em meio a um crescente número de ataques aos jornalistas e, hoje, já conta com mais de 270 atendimentos.
Gizele Martins, é jornalista e comunicadora comunitária há mais de 20 anos. Morou na favela da Maré no Rio de Janeiro por quase toda a vida e foi lá que construiu sua carreira e acabou ganhando alguns desafetos no poder público. Martins, sofre intimidações e assédios online há, pelo menos, dez anos. Ao longo desse tempo, tentou acolhimento por várias instituições, o que só aconteceu quando entrou em contato com o Instituto Vladimir Herzog.
“Sempre senti dificuldades em relação ao atendimento a quem é comunicador, ou seja, a quem é considerado um não jornalista, mesmo com diploma, pois existe uma questão de classe ainda muito nítida na nossa sociedade. Então, quando eu buscava apoio de organizações médicas ou de outro tipo, sempre sentia uma dúvida sobre os casos que relatávamos”, afirma a comunicadora.
Envolvida na Rede desde sua fundação, em 2018, Gizele foi de articuladora nacional à integrante da equipe de atendimento e acolhimento, cargo que ocupa hoje. Ela está na linha de frente para receber os casos denunciados pelos profissionais. O serviço funciona da seguinte maneira:
1. A rede possui uma plataforma segura que recebe as solicitações de atendimento dos comunicadores. Nela, é possível enviar fotos, prints, documentos, vídeos para relatar o que está sofrendo;
2. Quando o jornalista ou comunicador submete a denúncia, a equipe recebe uma notificação na mesma hora por um e-mail seguro;
3. Depois, a equipe analisa o caso e se divide para entrar em contato com a vítima e iniciar os atendimentos;
4. Para dar os encaminhamentos necessários, os atendimentos são feitos por e-mail;
5. A duração do acompanhamento acontece no tempo que for necessário, pois a organização acompanha as vítimas com orientações sobre segurança digital;
6. Quando os casos requerem encaminhamentos jurídicos, os acompanhamentos podem durar anos;
7. Para iniciar um atendimento, basta acessar a plataforma da rede.
Apesar de ter o lançamento oficial em 2021, as articulações para a criação da rede iniciaram em 2018, durante a campanha presidencial, sob o discurso inflamado do ex-presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas e comunicadores. O cofundador da rede Giuliano Galli, pontuou que esse discurso foi bem acolhido por parte da sociedade, assim, os ataques começaram a ser mais recorrentes. O primeiro encontro da Rede aconteceu no final de 2018 com aproximadamente 40 jornalistas e comunicadores.
“A gente diagnosticou uma espécie de terreno fértil que Jair Bolsonaro estava preenchendo para que a população se manifestasse, principalmente por meio de redes sociais, de maneira muito violenta contra jornalistas e comunicadores de forma geral”, afirma Giuliano.
A partir desse alerta, o Instituto Vladmir Herozg começou a dialogar com outras organizações e com alguns veículos locais para entender como os casos de violência ocorriam em cada região e se aprofundar nesse contexto.
“A gente percebeu que o Brasil, sempre foi e continua sendo até hoje, um país muito violento para jornalistas e comunicadores. Então, ainda que a gente não convivesse, até aquele momento, pré-Jair Bolsonaro, com agentes de Estado se sentindo completamente à vontade para atacar a imprensa de forma pública, quando a gente percorria o Brasil, a gente percebia que o jornalismo ainda era vítima de muitas formas de violência”, relembra Galli.
A Rede de Proteção se formou, então, como um mecanismo para intervir nessa realidade. E, hoje, atua com três diferentes frentes: articulação, formação e denúncia. Junto às organizações fundadoras, estão o coletivo Intervozes e o Repórteres Sem Fronteiras. Além deles, são 75 organizações entre coletivos de comunicação populares e independentes, organizações da sociedade civil, movimentos sociais e entidades de defesa dos direitos humanos.
Os números não mentem. De 2018 até 2024, foram 1.902 episódios de violência contra jornalistas, segundo Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil.Entre os tipos de violências mais recorrentes em 2024, se destacou assédio judicial como uma das práticas mais graves, com 15,97% dos casos registrados envolvendo o uso do sistema de Justiça como instrumento de
intimidação e censura.
O relatório também apontou 30 casos de agressões físicas e 27 ameaças diretas. Além de 11 casos de censura. O relatório também ressalta que políticos, assessores e apoiadores continuarem no topo da lista dos agressores de jornalistas no Brasil. “Entre esses agentes, a maioria se configura no campo ideológico da direita e extrema direita, respondendo por mais de 40% dos casos registrados neste relatório”, aponta o documento.
Fonte: Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil
Crédito: Reprodução
Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo (UNIAESO), mestranda pelo Programa de Pós-graduação e Inovação Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)/Campus Agreste. Contato: jeniffer@marcozero.org.