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Armazém do Campo no Recife. Crédito: MCS/MZ
Bem no centro do Recife, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) abriu um espaço com mais de 120 produtos à venda, oriundos de assentamentos e de parcerias com agricultores familiares. O Armazém do Campo começou a funcionar na quinta (30), na Rua Imperador Dom Pedro II, 387. Vai abrir todos os dias da semana (confira o serviço ao final do texto) com frutas, legumes, cafés, grãos, queijos, carne de bode, pães e outros alimentos. Além do modo de produção, o diferencial é que são produtos orgânicos, sem o uso de agrotóxicos.
Este é o primeiro Armazém do Campo no Norte e Nordeste, o quinto no Brasil, e levou um ano e meio para ser organizado. As frutas e verduras das prateleiras chegam ao Recife de assentamentos de várias partes do estado e do Brasil. Do alto Sertão pernambucano, vem uva, maracujá, laranja, mamão. Sucos, de Santa Catarina. Mel, do Rio Grande do Sul e do interior pernambucano. De Glória do Goitá, os folhosos. Os queijos são de Saloá.
Macaxeira e inhame embalados a vácuo, jerimum, carne de bode e outros produtos são da Cooperativa Normandia, em Caruaru. “É onde funciona uma central de abastecimento dos assentamentos. Eu arriscaria dizer que hoje temos dez assentamentos do MST fornecendo diretamente para o armazém por meio de Normandia. Mais de 70% do que vendemos é produzido em Pernambuco”, conta Raminho Figueiredo, coordenador do Armazém.
Grãos, como arroz e feijão, vieram de São Paulo e do Rio Grande do Sul – com cerca de 27 mil toneladas por safra, o MST é o maior produtor de arroz orgânico na América Latina. “A maior parte do arroz é produzida no Rio Grande do Sul, mas vamos começar a produzir também na Bahia. E no Maranhão também temos um histórico de produção de arroz vermelho”,detalha Raminho.
Agora vamos aos preços. São competitivos, lembrando que são alimentos orgânicos. O arroz (integral ou branco) é vendido por R$ 5,49, o quilo. Um quilo de feijão preto sai por R$ 11,98. O fubá, que vem de uma parceria com agricultores familiares da Bahia, sai por R$ 5,98, meio quilo. Há vários tipos de cafés – começando nos R$ 10,98. A banana (prata ou comprida) é R$ 0,98 a unidade. Abacaxi, R$ 2,98. Uva, R$ 6,98, o quilo. Feijão verde, R$ 5,98. Melancia, R$ 1,49.
Há também bolos e pães (deliciosos!) da Rede Produtiva de Mandioca e Milho da Agricultura Familiar de Caruaru. Os pães são feitos com abóbora, beterraba, batata doce ou leite, de forma artesanal. Os bolos são de sabores nordestinos, como o de macaxeira e de banana (R$ 14,49/500gr).
Para completar, o Armazém conta com um café/bar bem convidativo e uma livraria que também vende merchandising do MST. As duas operações funcionam o tempo todo enquanto o mercado está aberto. A ideia é que também sirva almoço, em breve.
Com entrada também pela Av. Martins de Barros, o que traz uma brisa sempre bem-vinda, o café/bar do MST tem tudo para virar um novo point da esquerda festiva recifense. Só trabalha com cervejas puro malte, com a longneck saindo a R$ 5 (tem Eisenbhan, Devassa, entre outras) e chopp artesanal recifense Turvalina por R$ 7. Para quem é dos destilados, a dose da cachaça é R$ 2 – o mercadinho tem garrafa de cachaça mineira Vidas Secas/Lula Livre por R$ 32,98. Para fechar a conta, o café expresso (orgânico!) sai por R$ 2.
Em apenas cinco meses no poder, o governo Bolsonaro aprovou o uso de mais de 160 novos agrotóxicos nas lavouras brasileiras. O ritmo de mais de um pesticida por dia causa um estrago silencioso na alimentação do brasileiro. De acordo com um levantamento do site De Olho nos Ruralistas, 47% dos agrotóxicos aprovados até abril eram classificados como extremamente ou altamente tóxicos.
Usado até na confecção de bombas químicas, o agrotóxico 2,4-D já foi banido de países como a Austrália e o Canadá, mas está sendo usado no Brasil para matar a buva – planta invasora que já adquiriu resistência ao fortíssimo glifosato, pesticida mais usado no Brasil e que é associado a um tipo de linfoma (e que rendeu um processo de US$ 2 bilhões contra a Monsanto nos Estados Unidos).
Além dos perigos do consumo e manuseio, esses tipos de agrotóxicos também contaminam o solo, o lençol freático e as águas dos rios e açudes.
Desde 2016 as liberações de novas fórmulas cresceram no Brasil, com o lobby da bancada ruralista. As liberações neste atual governo, porém, não têm paralelo. Um levantamento do Greenpeace mostrou que nos quatro primeiros meses foram 166 liberações, um aumento de 922% em relação a 2010.
E um dado assustador: 28% do que foi liberado já é proibido em países da Europa. Com o 2,4 D, por exemplo, ogoverno Bolsonaro aprovou três novas formulações. Assim como o glifosato, ele é associado ao câncer, a alterações genéticas, doenças neurodegenerativas, entre outros males.
Em um cenário tão adverso para a alimentação saudável, o MST acredita que comprar alimentos orgânicos se torna, também, um ato político. “O Armazém representa uma aliança entre o campo e a cidade, entre os que lutam pela reforma agrária e produzem no campo, e aqueles que fazem a luta na cidade. Se a alimentação é um ato político, temos a tarefa de oferecer para as pessoas que vivem na cidade o resultado da nossa luta na roça. As pessoas vão poder escolher se alimentar de um produto cheio de veneno ou de um que tem uma origem, que tem uma relação política com o campo”, afirma Jaime Amorim,líder do MST em Pernambuco e membro da diretoria nacional.
Armazém do Campo
Onde: Rua Imperador Dom Pedro II, 387, Santo Antônio. Recife-PE
Horário de funcionamento: de segunda a quarta-feira: 9h às 20h; quinta e sexta-feira, 9h às 23h; Sábado, de 9h às 22h; e domingo de9h às 16h.
Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org