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Córrego do Abacaxi ainda está de luto

Laércio Portela / 30/05/2022

O pedreiro Pedro Hipólito perdeu a irmã e o cunhado em deslizamento de barreira. Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

No morro do Córrego do Abacaxi, em Olinda, onde um desabamento de barreira na madrugada da quarta-feira (25) soterrou duas das primeiras vítimas fatais das fortes chuvas que atingem o Grande Recife desde a semana passada, o clima ainda é de apreensão.

Muitos vizinhos do casal que morreu soterrado não acreditam que a lona que a Prefeitura colocou no local após o deslizamento de terra possa garantir a segurança das famílias e vão deixando suas casas para morar de aluguel em outras comunidades.

Na tarde dessa segunda (30), o pedreiro Pedro Hipólito de Oliveira, 48 anos, retirava montes de barro de dentro da residência da mãe Maria José da Silva, de 89 anos, no Abacaxi. Ela teve que deixar o Córrego e está morando na casa de parentes.

Pedro e Maria estão de luto. São irmão e mãe de Rosemary Oliveira da Silva, 44, morta com seu esposo Sérgio Pimentel dos Santos, 56, na queda da barreira.

Na madrugada do desabamento, Pedro correu de Paratibe, em Paulista, onde mora, até o local para tentar socorrer a irmã e o cunhado. Por conta dos alagamentos, não havia condição de se deslocar de moto ou carro. Foi mais de 1 hora e meia de agonia pelas ruas até chegar ao Córrego.

Os corpos dos dois só seriam encontrados pelo Bombeiros no dia seguinte.

Moradora do alto do morro, Marluce Maria Vicente, 50, acordou com o barulho do desabamento. Ela e o marido ainda correram para tentar socorrer o casal de vizinhos, mas quando chegaram lá embaixo a terra já tinha coberto tudo.

A casa de Marluce ficou na beira do abismo e foi interditada pela Defesa Civil. Marluce, o marido, a filha e duas netas, de 9 e 2 anos, tiveram que deixar o local e estão morando de aluguel em outra região. “É triste, muito triste”, lamenta pela morte do casal de amigos e por ter que sair do lugar onde viveram por mais de 20 anos.

Se a casa de Marluce cair, o mais provável é que os escombros atinjam a residência onde moravam onze pessoas até a semana passada. Os últimos moradores estavam saindo nessa segunda.

André Belarmino, 57, que mora no local há 25 anos, subia os móveis no caminhão com a ajuda de vizinhos. “Se tivesse uma política de prevenção não tinha acontecido isso. Eles só vêm colocar o plástico depois que a barreira cai”.

A Prefeitura de Olinda informou que os moradores do Córrego do Abacaxi foram atendidos pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social, da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos de Olinda. “Cadastros foram efetuados e equipes do Creas têm ido ao local com frequência para suporte às vítimas. Outra visita está agendada para esta terça (31)”.

Todos os moradores ouvidos pela reportagem da Marco Zero disseram que não houve apoio e acompanhamento por parte da Prefeitura depois da instalação da lona.

“O que fizeram foi vir aqui colocar as lonas plásticas e mais nada. Não veio mais ninguém, nem pra dar apoio psicológico às famílias. E as barreiras continuam caindo. O perigo tá grande. Se não tirar as casas lá de cima, elas vão cair aqui embaixo”, alerta a comerciante Laureci Pereira, 57.

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AUTOR
Foto Laércio Portela
Laércio Portela

Co-autor do livro e da série de TV Vulneráveis e dos documentários Bora Ocupar e Território Suape, foi editor de política do Diário de Pernambuco, assessor de comunicação do Ministério da Saúde e secretário-adjunto de imprensa da Presidência da República