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Qual a influência da mídia na crise institucional brasileira? O jornalismo praticado no país tem contribuído para fortalecer ou comprometer os valores da democracia? Ainda faz sentido falarmos em objetividade e imparcialidade da imprensa? Em que medida a instantaneidade digital, a pós-verdade e o entretenimento ditam os rumos do jornalismo pós-industrial?
Essas são perguntas sobre as quais os jornalistas não gostam de refletir, muito menos responder. Para muitos deles é pura perda de tempo. Discute-se mais o novo modelo de negócio do que o negócio do jornalismo. Mas num mundo tomado por uma quantidade infindável de informações e desinformações, o debate sobre a ética jornalística não é apenas um detalhe.
“É uma verdade incontestável, embora não reconhecida, que, assim como você é o que você come, o que você pensa ou a maneira como pensa dependem da informação a que estiver exposto. Como você ouve as vozes dos líderes políticos? De quem é a dor que você sente? De onde vêm suas aspirações, seus sonhos de uma vida melhor? Tudo isso provém de um ambiente de informação”, já alertava o pesquisador e professor norte-americano Tim Wu, da Columbia Law School, autor do livro Império da Comunicação (Zahar, 2010).
Para entender melhor em qual ambiente de informação nós vivemos no Brasil de hoje, a Marco Zero Conteúdo, em parceria com a Zanzar Coletivo, irá realizar no início de outubro o curso Crítica de Mídia: um arsenal para a democracia, com o jornalista Laércio Portela.
Dividido em quatro módulos e 12 horas-aulas ao todo, o curso vai abordar os aspectos teóricos do jornalismo (o que distingue o jornalismo de outros saberes, como ele enquadra a notícia e influencia o debate público); os códigos e os meios de fiscalização da ética profissional (censura, auto-censura e a separação entre redação e comercial); traçar um mapa de quem são os donos da mídia no Brasil e o que a legislação define e omite sobre propriedade e direito à comunicação no país; além de contextualizar o momento do jornalismo pós-industrial neste início de século XXI, inserido no universo das bolhas digitais e da pós-verdade.
Para que serve o jornalismo?
As teorias do jornalismo e o processo produtivo das notícias. Reflexões sobre verdade, objetividade, enquadramento, agendamento do debate nacional, imparcialidade e isenção. As teorias do Espelho, Gatekeeper, Organizacional, Construcionista, Estruturalista e Interacionista. O campo profissional do jornalismo, o que distingue o “saber jornalístico” de outros saberes, os critérios de noticiabilidade. A teoria da espiral do silêncio. A influência sobre a opinião pública.
A ética no papel e o papel da ética
Os princípios éticos que norteiam os códigos de conduta escritos pelas empresas de comunicação e pelos jornalistas. O que dizem. O que omitem. O tabu da discussão pública sobre o tema. Reflexões sobre censura e auto-censura, separação entre Igreja e Estado, sensacionalismo, entretenimento, diversidade. O conceito e as experiências de responsabilização da mídia (accountabillity): conselhos de imprensa, ombudsman, revista crítica, manuais de jornalismo humanizado, o Manchetômetro, preceitos do ensino de Jornalismo.
Os Donos da Mídia e a lei
O mapa da concentração da propriedade dos meios de comunicação no Brasil. O modelo de cabeça de rede na radiodifusão. O negócio da mídia. Políticos e igrejas no comando. A ideia de democracia e pluralidade de meios. O que diz a Constituição Federal e o Código Brasileiro de Telecomunicações? Reflexões sobre regulação da mídia, propriedade cruzada, publicidade, financiamento, sistema de comunicação pública, rádios e imprensa comunitária. A comunicação como um direito fundamental.
Imediatismo e pós-verdade na Era Digital
O debate sobre jornalismo pós-industrial. Acuidade, independência e equilíbrio no mundo multimídia. As fronteiras entre jornalismo e entretenimento. O que sobrevive do “ velho jornalismo” no novo mundo. Reflexões sobre transparência, fake news, pós-verdade e filtros-bolha O jogo jogado pelos donos da rede (Facebook, Google, Amazon, Aplle, Microsoft). Privacidade, liberdade de expressão e neutralidade: o Marco Civil da Internet no Brasil. A contra-agenda do jornalismo independente, ativismo digital e fact-checking.
Laércio Portela é formado em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco. Tem curso de aprofundamento em Comunicação e Política pela Universidade de Brasília – UNB. Foi repórter de Polícia do Jornal do Commercio; repórter, editor e colunista de Política do Diário de Pernambuco. Coordenou a área de comunicação social do Ministério da Saúde e ocupou os cargos de diretor de mídia regional e secretário-adjunto de Imprensa da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. É co-autor do livro Vulneráveis – entre a emergência da vida e a incerteza do futuro, Editora Bagaço, 2015. É integrante do coletivo de jornalismo independente Marco Zero.
Professor: Laércio Portela
Carga Horária: 12 horas
Quando: 2, 3, 4 e 5 de outubro
Horário: 19h às 22h.
Local: Zanzar Coletivo. Edifício Santalice (ao lado do cinema São Luiz), Rua da Aurora, número 127, bairro da Boa Vista.
Valores: R$ 110,00 para estudante e R$ 220,00 para profissional.
Desconto de 15% para profissionais que sejam assinantes da Marco Zero.
Bibliografia
ABRAMO, Perseu. Padrões de manipulação na grande imprensa. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003.
BERTRAND, Claude-Jean. O Arsenal da Democracia: Sistemas de Responsabilização da Mídia. São Paulo: Editora Edusc, 2002.
BERTRAND, Claude-Jean. A Deontologia das Mídias. São Paulo: Editora Edusc, 1997.
BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo. Companhia das Letras, 2000.
JUDESNAIDER, Elena; LIMA, Luciana; POMAR, Marcelo; ORTELLADO, Pablo. Vinte Centavos – a luta contra o aumento. São Paulo: Veneta, 2013.
KARAM, Francisco José. A ética jornalística e o interesse público. São Paulo. Summus Editorial, 2004.
KOVACH, Bill; ROSENSTIEL, Tom. Os Elementos do Jornalismo. São Paulo: Geração Editorial, 2003.
LIMA, Venício A. (org). Em defesa de uma opinião pública democrática – conceitos, entraves e desafios. São Paulo. Paulus, 2014.
PARISER, Eli. O Filtro Invisível – o que a Internet está escondendo de você. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
ROBINSON, Andy. Um repórter na montanha mágica. Rio de Janeiro. Editora Apicuri, 2013.
SAKAMOTO, Leonardo. O que aprendi sendo xingado na Internet. São Paulo. Leya Editora, 2016.
SNYDER, Timothy. Sobre a tirania – vinte lições do século XX para o presente. São Paulo. Companhia das Letras, 2017.
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo – Volume II: A tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional. Florianópolis. Insular, 2005.
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo – Volume I: Por que as notícias são como são. Florianópolis: Insular, 2012.
WU, Tim. Impérios da Comunicação – do telefone à internet, da AT&T ao Google. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor, 2011.
É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.