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“A Conferência implodiu antes mesmo de começar os debates”.
“Está tão desorganizado que não pode ser má intenção, é puro amadorismo”.
“A bagunça começou já no credenciamento”.
“Quem veio do sertão viajou a madrugada toda pra só ficar sabendo que o estado não iria fornecer alimentação na hora do almoço”.
“Nem água tem”.
“A equipe da SEMAS tem boa intenção, mas tem pouca experiência com conferência e o primeiro erro começa pela escolha do local para a quantidade de pessoas”.
“Se a SEMAS não tinha experiência, contratava quem tivesse”.
Na tarde da quinta-feira, 13 de março, mensagens como essas começaram a chover nos celulares da equipe da MZ e, provavelmente, dos jornalistas de todos os veículos locais. As mensagens vinham de representantes de organizações da sociedade civil e delegados de vários municípios. Gente de oposição e até aliados do governo Raquel Lyra.
O volume de queixas era tanto que foi até difícil entender o que estava acontecendo ou deixando de acontecer na 5ª Conferência Estadual do Meio Ambiente, organizada pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Sustentabilidade e de Fernando de Noronha (Semas).
A conferência deveria ter começado às 9h, com o credenciamento começando uma hora antes. Mas, às 10h, quando começou a palestra de abertura, alguns delegados ainda buscavam seus nomes para receber a credencial. O atraso, porém, já é considerado normal nesse tipo de evento, principalmente porque ao menos uma delegação do interior, a de Afogados da Ingazeira, avisou que não chegaria a tempo para o café da manhã.
Sim, foi servido café da manhã. Mas não o almoço, o que acirrou os ânimos no início da tarde, após a palestra do vice-reitor da UFPE, Moacyr Araújo. Segundo uma gestora da Semas ouvida pela MZ, a comissão organizadora havia decidido que o estado forneceria duas refeições, mas não o almoço, o que era de amplo conhecimento. Foi durante o intervalo que a organização do evento propôs que, após uma hora e meia da parada para o almoço, fosse feita a leitura do regulamento da conferência.
De acordo com alguns ativistas que participaram do evento, a exemplo de Augusto Semente, do Movimento de Defesa da Mata do Engenho Uchoa, e Wellington Lima, da Unegro, começar o evento pela leitura e debate de pontos críticos do regimento (e não regulamento, pois a diferença dos nomes foi motivo para muita confusão) é praxe de conferências do tipo. “É esse documento que diz como será todo o processo, é a regra do jogo, sem leitura de regimento não tem regra acordada em plenário, e aí o governo pode fazer o que quer”, alfinetou Wellington Lima. Além disso, a validação do regimento é obrigatória.
Pois a leitura e consequente aprovação do regimento (ou regulamento) foi o pivô do tumulto após o almoço.
O que aconteceu antes do intervalo já não está disponível no YouTube. Mas a transmissão ao vivo foi retomada à tarde, depois que os 578 delegados voltaram da discussão em cinco grupos temáticos. O que se vê a partir daí é uma bagunça generalizada. Nitidamente, a equipe de organização perde o controle da situação no auditório 4 do Centro de Convenções, com locutores tentando fazer a leitura do regulamento e várias pessoas no palco, gritando palavras de ordem como “cadê o regimento?” e “impugnação”.
A gestora da Semas que aceitou conversar com a MZ pediu anonimato para evitar ter o nome exposto nas redes sociais. Ela rebateu algumas das críticas e garantiu que, sempre que foram consultados, a maioria dos participantes levantava a mão concordando com a continuidade dos debates.
Em relação ao atraso do credenciamento, a integrante da equipe da Semas explicou que o prazo foi ampliado para 11h para garantir que todas as delegações se inscrevessem. Apesar de não ter sido oferecido almoço, o Governo do Estado forneceu o café da manhã e um lanche bem servido no final da tarde. “Durante o processo ficou claro que os municípios custeariam suas respectivas delegações, todos sabiam disso”, afirmou a gestora, que, inicialmente, tentou realizar a leitura e aprovação do regulamento nos grupos temáticos e não no plenário, como é de praxe.
Para organizar o evento, a gestora explicou que a Semas contou com a ajuda da equipe do Ministério do Meio Ambiente durante todo o processo.
O que explicaria então tamanho tumulto? O clima de confronto político antecipado de 2026, entre o prefeito do Recife, João Campos, e a governadora Raquel Lyra. Os gritos e ameaças teriam partido, segundo essa gestora, dos representantes da delegação recifense.
Na véspera da reunião, inclusive, integrantes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente teriam procurado a titular da Semas, Ana Luiza Ferreira, pedindo os nomes dos delegados que já haviam se credenciado tanto do Recife quanto de outros municípios, principalmente do sertão do Araripe. A assessoria do secretário municipal de Meio Ambiente, Oscar Paes Barreto, foi procurada. A MZ aguarda posicionamento.
No final, por motivos políticos e desorganização, a 5ª Conferência não elegeu delegados nem escolheu propostas. Ou seja, não terminou. O departamento jurídico da SEMAS está estudando o que pode ser feito para garantir a participação de Pernambuco na Conferência Nacional do meio Ambiente, em maio, em Brasília.
A ministra Marina Silva está participando de algumas conferências estaduais, mas não veio para a de Pernambuco
Crédito: Rovena Rosa/Agência BrasilEm maio de 2024, os dois funcionários da Semas que assumiram a responsabilidade de organizar a conferência participaram de um curso específico para isso no Ministério do Meio Ambiente, em Brasília. Cinco meses depois, as duas pessoas pediram exoneração por diferentes motivos. A titular da Semas indicou outra equipe que assumiu em novembro, dez dias antes do fim do prazo para a realização, pois as regras da Conferência Nacional do Meio Ambiente estabeleciam que os municípios deveriam promover as conferências municipais entre junho e 25 de novembro.
O prazo não poderia ser pior: havia uma eleição para prefeito e vereador no meio.
Por causa da inadequação do calendário, até 13 de novembro só Garanhuns tinha feito a conferência em Pernambuco. O MMA, então, esticou o prazo para 15 de janeiro, reduzindo o tempo disponível para o estado promover a versão estadual. No final das contas, só 48 municípios pernambucanos elegeram delegados.
Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.