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Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo
Dois anos depois, finalmente os últimos resíduos de petróleo serão retirados da praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho. O material, considerado bastante poluente, está enterrado em três valas com profundidade média entre 30 centímetros e meio metro, espalhadas em 1.300 metros quadrados do terreno à beira mar. A área é ocupada pelas instalações da ONG Onda Limpa, que há 13 anos realiza a coleta seletiva de lixo reciclável nas praias do Paiva, Itapuama e Pedra de Xaréu. A remoção será feito pela prefeitura do município e pela Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH).
O óleo foi enterrado no local na manhã do dia 23 de setembro de 2019, quando as centenas de voluntários começaram a retirar o petróleo da água e dos arrecifes, mas as autoridades não sabiam o que fazer com aquilo. Mesmo sob os protestos de Estevão Santos da Paixão, da Onda Limpa, e dos técnicos de outra ONG, o Instituto Meu Mundo Mais Verde, as escavadeiras da prefeitura levaram o petróleo misturado com areia para as valas recém-abertas. A operação só foi interrompida quando chegaram os caminhões caçamba mobilizados pelo Governo do Estado para levar o óleo para a Central de Tratamento de Resíduos de Igarassu.
Desde aquele dia, retirar o óleo do terreno onde trabalha diariamente se tornou uma obsessão para o coordenador da Onda Limpa. Ele fez denúncias tanto públicas quanto formais em relação a falta de iniciativa da prefeitura para remover o material. “Depois que fui ao Ministério Público cobrar que a prefeitura retire o óleo que deixaram enterrado aqui, começaram a me perseguir, cobrando licenças ambientais para que a Onda Limpa continue a fazer o trabalho ambiental e querendo demolir o prédio que usamos para armazenar nossos equipamentos de trabalho”, queixa-se Estevão da Paixão. O prédio em questão são as ruínas do hotel inacabado que marca a paisagem na extremidade sul da praia.
Durante dois anos, Estevão teve de conviver com o mau cheiro dos gases tóxicos produzidos pelo petróleo, a exemplo do benzeno e tolueno, mas em maio deste ano o problema ficou mais evidente. Com as fortes chuvas, o óleo começou a escorrer em direção à areia da praia. Pesquisadores e professores do departamento de Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) foram ao local e comprovaram que o solo estava viscoso e liberando os hidrocarbonetos, substâncias químicas que podem provocar câncer.
Na sexta-feira, dia 10 de setembro, Estevão recebeu a notificação de que teria de retirar o trailler da ONG e outros objetos do terreno para que a equipe pudesse escavar e retirar os vestígios de óleo, o que vai acontecer na quinta-feira, 16. O secretário-executivo de Meio Ambiente do Cabo de Santo Agostinho, Geraldo Miranda, confirmou a data e deu detalhes da operação. “Finalmente obtivemos as autorizações necessárias junto à CPRH e ao Ministério Público. Com ajuda da equipe que estava presente na época em que o óleo chegou ao litoral, vamos fazer o procedimento para limpeza. Já sabemos em quais trechos do terreno estão as valas e que são superficiais, ou seja, não são muito profundas”, explicou Miranda.
De acordo com o secretário, “como haverá movimentação de muitos profissionais e circulação de veículos, avisamos previamente ao responsável pela ONG”. Ontem, Estevão reclamou que afastou o trailler, mas que os fiscais da prefeitura foram lá para dizer que ele teria de retirar tudo do terreno. Geraldo Miranda admite a tensão que existe entre os funcionários da prefeitura e Estevão, mas que “vai fazer o possível para apaziguar os ânimos”.
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Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.