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Entre a quarta-feira (16) e quinta-feira (17) mais duas escolas de referência do governo do Estado foram ocupadas por estudantes secundarista em protesto contra a PEC 55 e a Medida Provisória 746 que reforma o ensino médio. Tanto no Ginásio Pernambucano quanto na Erem Porto Digital, o acesso às dependências é controlado pelos secundaristas, que se dividem em equipes de trabalho e turnos para organização, limpeza, segurança e comunicação. É preciso estar em uma dessas ocupações para se compreender que, ao contrário do que diz o presidente Michel Temer, os jovens sabem bem do que se tratam as medidas que poderão alterar a formação básica de milhões de brasileiros.
A reportagem da Marco Zero esteve na manhã dessa quinta-feira na Escola de Referência Porto Digital, poucos minutos depois dela ser ocupada pelos secundaristas. O movimento foi organizado pelo Grêmio ‘Revolucionários’. “Nós percebemos que a direção da escola havia convocado alguns representantes da Secretaria de Educação, pois eles perceberam a preparação que vínhamos fazendo para a ocupação. Diante disso, resolvemos antecipar a ação que estava planejada para a segunda-feira”, relata Demi, uma das integrantes do Grêmio.
Demi, outros integrantes do Grêmio e diversos alunos da Erem Porto Digital anteciparam a ocupação com receio de que a Polícia Militar fosse chamada pela direção escola e “tocasse o terror”, como o fez na tentativa de ocupação da Escola de Referência Dom Sebastião Leme, no Ibura. “A gente quis se antecipar a essa possibilidade”, relata Giovanni, também integrante do Grêmio.
Depois do grito de ocupação, boa parte dos 358 alunos saíram da escola. Os cerca de 100 que ficaram deram início de imediato a uma nova assembleia, definindo os integrantes das comissões de comunicação, limpeza, segurança e organização. Em meio a muitas falas sobre as razões de tomar a escola, uma se destacou: era a voz suave de Felipe, que lembrava como está sendo em outras escolas ocupadas: “a escola fica melhor ocupada, a gente tá aqui para deixar a escola melhor do que era antes e isso inclui limpar e manter”.
Os “grandões” se voluntariaram de pronto para manter a segurança do espaço, em turnos de oito horas durante o dia e de 4 horas à noite. Um deles se prontificou a dar uma oficina de Defesa Pessoal a quem tiver interesse. “Tô dentro disso aí”, respondeu Camila, uma loira muito magrinha com cara de coragem que se meteu entre a equipe de segurança coletiva.
Até o momento em que a reportagem da Marco Zero esteve no local, estava sendo encaminhada uma extensa lista de atividades. Os estudantes tinham dúvidas se poderão contar com os professores, ou mesmo se os querem nessas atividades. “O ensino aqui é muito quadrado, meio careta. Além disso, os professores vivem outro mundo, eles apoiam com reticências e com receios”, explica Demi, entre uma entrevista para a Folha de Pernambuco e outras orientações na assembleia.
Eles também definiram que não irão usar nada da estrutura de cozinha da unidade: fogão, geladeira e mantimentos virão tudo de fora, com a ajuda das respectivas famílias. “A gente não quer usar e vamos ver como trazemos de fora”.
Já no emblemático Ginásio Pernambucano, os ocupantes estão articulados desde a tarde de ontem (16/11). Com comissões formadas, iniciaram uma agenda interna de atividades e diálogos sobre a crise política e como interferir no processo. Quem passa pela rua Aurora, onde fica a unidade, percebe uma intensa atividade interna e cartazes colocados nas janelas. Como em outras ocupações, o grupo se fechou por motivos de segurança e para uma compreensão daquilo que estão fazendo – embora haja uma compreensão geral dos efeitos da PEC 55 e da Medida Provisória 746, ela não é homogênea.
Desde o início da ocupação do GP um grupo de advogados vem dando assessoria e acompanhando o caso. “A gente sabe que aqui eles (a PM) não vão chegar perto, porque é central. Mas isso não justifica que a gente reduza a nossa segurança”, explicou Janaina, que cuidava com mão de ferro do entra e sai de estudantes no portão principal de sua escola.
Nas duas ocupações, assim como nas demais no Grande Recife, estão sendo requisitados alimentos secos, água, colchões, gás de cozinha. Os interessados em ajudar só precisam chegar ao local e se identificar.
* Por motivos de segurança, todos os nomes são fictícios
Luiz Carlos Pinto é jornalista formado em 1999, é também doutor em Sociologia pela UFPE e professor da Universidade Católica de Pernambuco. Pesquisa formas abertas de aprendizado com tecnologias e se interessa por sociologia da técnica. Como tal, procura transpor para o jornalismo tais interesses, em especial para tratar de questões relacionadas a disputas urbanas, desigualdade e exclusão social.