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Uma combinação de fatores como o aumento da temperatura do oceano Atlântico e fenômenos climáticos favorecem as tempestades que caem desde ontem no litoral de Pernambuco. No Grande Recife, o alerta feito pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é vermelho, de “grande perigo” até a tarde desta quarta-feira e laranja, de chuvas intensas, até amanhã (06). Já a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) emitiu alertas de inundação e várias ruas e bairros do Grande Recife estão debaixo d’água desde as primeiras horas da manhã.
Uma pessoa morreu no alagamento da rua Dom Bosco, na Boa Vista, com suspeita de ter sido eletrocutada, e, mais uma vez, as imagens de caos e desespero se espalham pelas redes sociais. Tanto a Prefeitura do Recife quanto o Governo do Estado afirmaram que estão monitorando a situação das chuvas.
O Centro de Operações do Recife (COP) da prefeitura do Recife emitiu o alerta mais grave e recomendou que os moradores não saiam de suas casas. “Permaneça em casa, exceto se houver risco de deslizamento, inundação ou desabamento. Uma ampla força-tarefa foi acionada para prevenir perdas e salvar vidas”, diz o comunicado do COP Recife. Todas as estações da Linha Centro do Metrô do Recife foram fechadas por conta do risco de inundações.
De acordo com a Prefeitura do Recife, neste momento quatro abrigos estão ativos e prontos para receber famílias e moradores de áreas de risco. São eles:
Igreja Batista Coqueiral – R. Alcântara, 176 – Coqueiral
Centro Social Bidu Krause – Tv. Onze de Agosto, s/n – Curado
Igreja Batista Do Caçote – R. Dona Ana Aurora, 2042 – Areias
Igreja Batista Nacional – Rua Coripós, 91 – Coqueiral, Recife
Em caso de necessidade, a Defesa Civil do Recife deve ser contatada através do número 0800.081.3400. Também é possível acionar a Defesa Civil de Pernambuco através do número 199 e o Corpo de Bombeiros no 193.
Toda esta quarta-feira deve ser de chuvas na Região Metropolitana do Recife. O Inmet afirma que há “grande risco de danos em edificações, corte de energia elétrica, de queda de árvores, descargas elétricas, alagamentos, enxurradas e grandes transtornos no transporte rodoviário” e que as chuvas mais fortes devem ocorrer até às 15h. Para o resto da semana, a previsão também é de chuvas, porém com menor intensidade e isoladas.
O meteorologista da Apac Thiago do Vale explicou que as chuvas que estão ocorrendo no litoral de Pernambuco são mais comuns nesta época no Sertão e no Agreste. Essa mudança em relação à intensidade das chuvas pode estar associada ao aquecimento global, mas, segundo Thiago do Vale, ainda são necessários mais estudos para determinar o impacto real das mudanças climáticas nesses eventos.
Por ora, o que se sabe é que ocorreu uma confluência de eventos climáticos. “Há fenômenos climáticos que estão ocorrendo, como a La Niña, que intensificam as chuvas. Localmente, a combinação do vórtice ciclônico de altos níveis com o pulso da zona de convergência intertropical também influencia os padrões de chuva. Nas últimas semanas, a temperatura do Oceano Atlântico está alta, o que também favorece as chuvas, especialmente no litoral. O Atlântico aquecido também puxa os sistemas de chuva mais para o sul”, afirmou.
A APAC monitora as chuvas por meio de imagens de satélite e radares meteorológicos, além de pluviômetros automáticos e convencionais. As previsões são atualizadas duas vezes ao dia, por meio de modelos computacionais, incluindo modelos calibrados especificamente para Pernambuco.
Em janeiro, todo o estado de Pernambuco ficou acima da média histórica de chuvas. A média de chuva na Região Metropolitana do Recife foi de 101 milímetros, enquanto que a região da Mata registrou uma média de 67,6 milímetros. As regiões do Agreste e do Sertão tiveram médias de 43,5 e 76,5 milímetros, respectivamente. As médias são calculadas com base no acumulado de todos os meses de janeiro nos últimos 30 anos.
Já em fevereiro, somente nesses primeiros cinco dias, a Região Metropolitana do Recife e as regiões da Mata Norte e Sul registraram chuvas próximas ou acima da média histórica, enquanto o restante do estado está abaixo ou na média.
De 01 de fevereiro até o começo da tarde desta quarta-feira (05) houve um acúmulo de 141,84 mm milímetros de chuva em Camaragibe, 133,57 mm milímetros no Recife e 127,27 mm em Olinda. A cidade com o maior volume de chuvas registrado nesta quarta-feira foi Abreu e Lima, com 179,36 mm. A média histórica de chuvas para todo o mês na Região Metropolitana é de 122,9 milímetros; na Zona da Mata, de 81,3 milímetros; no Agreste, 56,3 milímetros e no Sertão de 94,8 milímetros.
Desde domingo a Apac emite avisos sobre o risco das chuvas desta terça e quarta-feiras. Ainda assim, muitos serviços não essenciais não cancelaram o expediente ou só suspenderam ao longo da manhã, quando grande parte do Grande Recife já registrava alagamentos. Somente às 10h20, quando o COP emitiu o alerta de maior perigo, é que a Prefeitura do Recife recomendou que as pessoas não deixassem suas casas.
A Secretaria Estadual de Educação (SEE) decidiu manter hoje a abertura do ano letivo até por volta das 12h.Somente neste horário que suspendeu oficialmente as aulas do turno da tarde na Região Metropolitana do Recife e nos municípios atingidos pelas fortes chuvas. Em uma nota anterior, no meio da manhã, quando os alagamentos já eram abundantes, a SEE ainda manteve as aulas.
A rede municipal de ensino do Recife também suspendeu as atividades hoje, mas o comunicado também foi tardio, já perto do meio-dia. Já a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) só comunicou que as aulas da manhã iriam ser suspensas quando já passava das 9h da manhã.
Ano após ano, toda vez que chove nada muda na vida de Elisângela Jesus da Silva, moradora do Jiquiá. As ruas ficam todas alagadas, os moradores sitiados. Os mais atingidos são os que moram em comunidades mais próximas ao rio Beberibe. “Amanheci o dia hoje com o pessoal mandando vídeo das chuvas. Está tudo alagado. Tem várias comunidades que sempre que chove passam por isso”, lamenta ela.
No bairro de Passarinho, os alagamentos também se repetem a cada grande chuva. “Graças a Deus que hoje não está entrando água dentro da minha casa, mas tem uma casa aqui perto, na beira do rio, que o terraço dela já está cheio. Isso é recorrente, todo ano a mesma coisa, a gente reclama, denuncia, mas não tem jeito”, diz Evandra Dantas da Silva, moradora do bairro, que fica próximo ao rio Beberibe. “Agora também o problema é que não limpam o canal. Aí quando chove fica assim, todo ano a mesma coisa”, reclama.
Uma ponte de pedestres que liga Dois Unidos a Passarinho ficou completamente submersa na manhã desta quarta-feira. “Muita gente que mora do outro lado estuda na escola aqui de Passarinho ou trabalha por aqui. Não tem condição nenhuma de atravessar o riacho”, contou Evandra.
Em meio ao desespero, também há solidariedade. A Igreja Batista em Coqueiral junto ao Instituto Solidare está resgatando pessoas que ficaram ilhadas dentro de suas casas e levando para um abrigo dentro da igreja. Muitas ruas do bairro de Coqueiral ficaram alagadas e os resgates estão sendo feitos com botes infláveis.
Por conta das chuvas e dos alagamentos, vários bairros da periferia do Grande Recife estão sem água nas torneiros. Isso porque a Compesa acionou o Protocolo de Segurança de Abastecimento de Água em áreas de morro. A medida preventiva, de acordo com o órgão, é adotada para a segurança da população, uma vez que as chuvas intensas aumentam a saturação do solo, o que pode ocasionar danos às tubulações de água.
Os sistemas de abastecimento de água instalados em áreas de morro foram desligados e, consequentemente, fornecimento de água foi suspenso não apenas nessas áreas, mas também em localidades planas que são atendidas pelos sistemas situados em pontos considerados de risco.
De acordo com a Compesa, a retomada da distribuição acontecerá com a diminuição da chuva, mediante avaliação técnica. A normalização do fornecimento ocorrerá de acordo com o calendário de cada área.
Confira as áreas afetadas
Recife: Água Fria, Alto José Bonifácio, Alto José do Pinho, Alto Santa Terezinha, Beberibe, Bomba do Hemetério, Brejo da Guabiraba, Brejo de Beberibe, COHAB, Coqueiral, Córrego do Jenipapo, Dois Unidos, Guabiraba, Jordão, Lagoa Encantada, Linha do Tiro, Macaxeira, Milagres, Morro da Conceição, Nova Descoberta, Pacheco, Passarinho (Recife), Peixinho, Sítio dos Pintos (Dois Irmãos), Três Carneiros, UR 07 Várzea, URs 01, 02, 03, 04, 05, 10 e 12, Vasco da Gama.
Jaboatão: Alto do Vento, Cascata, Cavaleiro, Curado 1, parte do Curado IV e Curado V, Centro, Dois Carneiros, Floriano, Jardim Jordão, Santo Aleixo, Socorro, Sucupira, URs 06 e 11, Vila Rica e Zumbi do Pacheco.
Olinda: Águas Compridas, Alto da Bondade, Alto da Nação, Alto do Cajueiro, Alto do Sol Nascente, Amaro Branco, Bonifácio Jansen, Bonsucesso, Bultrins, Córrego do Gibraltar, Guadalupe, Monte, V8 e Varadouro.
Camaragibe: Alberto Maia, Aldeia, Alto Santo Antônio, Areeiro, Sítio Fantainha, Tabatinga e Vera Cruz.
Paulista: Maranguape 1 (parte) e Jardim Paulista.
Abreu e Lima: Alto São Miguel.
Goiana: Ponta de Pedras.
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