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Entenda porque João Campos deve ter poucos adversários em 2024

Marco Zero Conteúdo / 27/10/2023
Foto colorida de João Campos, homem jovem, branco, de olhos azuis e cabelos castanhos claros, sorrindo junto a um microfone. Em primeiro plano, à direita da imagem, porém sem foco, está outro homem, de costas, de cabelos grisalhos e camisa preta de estampas floral.

Crédito: Edson Holanda/PCR

por Jorge Cavalcanti*

A pouco menos de um ano das eleições municipais de 2024, as peças se movem lentamente sobre o tabuleiro da sucessão majoritária do Recife. O prefeito João Campos (PSB) reúne condições favoráveis na busca pela reeleição, enquanto a governadora Raquel Lyra (PSDB) segue para concluir seu primeiro ano de gestão tendo diante de si a perspectiva de apoiar até duas candidaturas na capital pernambucana. Já a Federação PSOL-Rede Sustentabilidade deu um passo em direção à escolha do nome da deputada estadual Dani Portela (PSOL). A chamada extrema-direita também trabalha para ter candidatura própria na cidade, com o palanque do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A reportagem da Marco Zero Conteúdo conversou com políticos e assessores para entender melhor o cenário da eleição no Recife, faltando pouco mais de 11 meses para o dia da eleição, marcada para 6 de outubro de 2024. A avaliação é a de que a condição de bem avaliado e favorito do prefeito desestimula o surgimento de um número maior de candidaturas. O quadro é o oposto do que ocorreu, por exemplo, na sucessão para o Governo de Pernambuco no ano passado.

Recentemente, João Campos avançou mais algumas casas na tarefa de aglutinar apoios políticos, ao mesmo tempo que também reduz o número de possíveis candidaturas adversárias. O prefeito contabilizou a adesão da família Coelho e do partido União Brasil, nomeando um representante do grupo para a secretaria de Turismo do Recife. O deputado Antônio Coelho, filho caçula de Fernando Bezerra Coelho, pediu licença da Assembleia Legislativa para assumir a pasta.

Observadores destacam que a reedição da parceria Campos-Coelho pode ter desdobramentos também na eleição estadual de 2026, quando o voto para o governo estadual e duas vagas para o Senado estarão em disputa. Para o clã dos Coelho, aproximar-se agora da família Campos abre espaço para uma rearrumação no xadrez da política pernambucana, afastando-se do nome e da imagem do ex-presidente Bolsonaro, de quem o ex-senador Fernando Bezerra foi líder do governo no Senado.

Raquel e a estratégia de dois palanques  

Do Palácio do Campo das Princesas, sede da gestão estadual, a orientação é a de não comentar publicamente sobre as eleições de 2024. O que não significa dizer que a disputa no Recife esteja fora do raio de interesse do núcleo político do governo. Do time de Raquel Lyra, a vice-governadora Priscila Krause e o secretário de Turismo, Daniel Coelho, ambos do Cidadania, estão hoje na condição de prefeituráveis. 

Analistas destacam que a engenharia para fazer de Priscilla concorrente direta de João Campos à prefeitura é mais complexa e arriscada, mesmo diante da consolidação do nome da vice-governadora na capital. Uma derrota de Priscila seria vista mais diretamente como uma derrota de Raquel, faltando dois anos para a busca pela renovação do mandato. Por isso, o nome de Daniel Coelho ganha força.

O secretário de Turismo de Pernambuco exerceu mandatos parlamentares e também já disputou a Prefeitura do Recife em duas ocasiões (2012 e 2016). Apesar de não ter conseguido renovar o mandato na Câmara do Deputados no ano passado, obteve votação expressiva (110 mil votos) e é visto como um nome posicionado ao centro do espectro ideológico.

Daniel Coelho pode ser o candidato da governadora com perfil de direita. Crédito: Divulgação

Daniel estaria hoje na condição de prefeiturável “oficial” de Raquel, que também teria interesse num candidato “oficioso”, localizado mais à esquerda. O objetivo é levar a disputa na capital pernambucana para o 2º turno e evitar que João Campos repita o feito de outro João, o do PT. Em 2004, o então prefeito João Paulo foi reeleito no primeiro turno, com 56% dos votos válidos e vitória em todas as zonas eleitorais da cidade. 

É neste cenário que Túlio se encaixa. Mas, ressaltam governistas, antes é preciso que ele encare o desafio de trocar de partido pela segunda vez., pois como se verá abaixo, já não existe a perspectiva de seu nome ser escolhido pela federação partidária PSOL-Rede. O deputado começou na política no PDT. Em 2021, migrou para a Rede. De acordo com a legislação, o prazo para a mudança de partido para quem será candidato em 2024 é seis meses antes do pleito (até 6 de abril).

PSOL conclui congresso e define quem manda  

O Partido Socialismo e Liberdade encerrou as etapas estadual e nacional do seu 8º Congresso, delineando assim o tamanho de cada agrupamento político. Em Pernambuco, a Revolução Solidária formou maioria, garantindo a recondução ao cargo do atual presidente da legenda, Tiago Paraíba. A sigla ainda falta realizar o congresso na instância municipal, mas a tendência é a de que seja reproduzida a mesma correlação de forças internas.

O resultado do congresso do PSOL também gera desdobramentos para a eleição de 2024 no Recife. Ficaram reduzidas as chances do vereador do Recife Ivan Moraes ou do advogado João Arnaldo encabeçarem uma candidatura majoritária pelo partido. Ivan já comunicou publicamente que vai honrar o compromisso assumido na eleição de 2016 de só exercer dois mandatos consecutivos na Câmara Municipal. Por isso, segue na política, mas não será candidato à reeleição.

Como o PSOL é majoritário na federação partidária que formou com a Rede Sustentabilidade, cabe à legenda a definição de quem será o nome escolhido para a disputa para a Prefeitura do Recife. Com a maioria formada pela Revolução Solidária, está descartada a possibilidade do deputado federal Túlio Gadêlha (Rede) ser o candidato a prefeito da federação.

“O nosso partido é de esquerda e vai apresentar à população um projeto de esquerda. Vamos debater propostas para as necessidades do Recife, com foco na população negra e de territórios periféricos, em especial as mulheres”, define Tiago Paraíba, que integra o mesmo grupo de Dani Portela. 

Desde o ano passado, o PSOL e o deputado da Rede convivem numa dinâmica de atritos e divergências. Psolistas reprovaram a decisão de Túlio de apoiar Raquel Lyra no segundo turno, contrariando a decisão da federação. De lá para cá, a relação se desgastou ainda mais.  

Túlio crítica João e elogia Raquel

Em resposta aos questionamentos da reportagem, Túlio destaca que o importante é estruturar uma alternativa aos 12 anos de gestão do PSB no Recife. “Percebo um esforço do prefeito em mostrar obras, com investimentos expressivos em publicidade. O que temos que discutir é que questões centrais continuam sem resposta. Infelizmente, Recife é a capital da desigualdade social e das palafitas, com um grande déficit habitacional”, avalia.

“Quanto à governadora, tenho visto o trabalho dela de organizar a casa. Ela tem se aproximado do presidente Lula. Não é uma tarefa fácil assumir o governo depois de 16 anos de PSB, mas estou otimista”, conclui.

Para ser o candidato de Raquel, Túlio Gadelha precisa deixar a Rede. Crédito: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

PL de Bolsonaro no páreo do Recife  

Pela extrema-direita, o partido do ex-presidente pretende montar palanque próprio. O nome  do candidato, porém, vai depender do desenrolar da disputa interna que a legenda vive. De um lado, a família do ex-prefeito de Jaboatão Anderson Ferreira. Do outro, o ex-integrante do governo Bolsonaro Gilson Machado, que se tornou conhecido por tocar sanfona nas lives do ex-presidente quando era presidente da Embratur. No ano passado, Gilson concorreu ao Senado. Ficou na segunda posição com quase 30% dos votos válidos.

*Jornalista com 19 anos de atuação profissional e especial interesse na política e em narrativas de garantia, defesa e promoção de Direitos Humanos e Segurança Cidadã

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