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Espera de até cinco horas na fila por teste de covid

Raíssa Ebrahim / 13/01/2022
Fila para teste de covid-19 no Recife

Crédito: Raíssa Ebrahim/MZ Conteúdo

Diante da alta de casos de síndrome respiratória e das novas medidas de restrição em Pernambuco – que passaram a exigir exames negativos de covid-19 em eventos para mais de 300 pessoas -, as filas para testes estão cada vez maiores. O tempo de espera é longo tanto na rede pública, que disponibiliza mais antígenos (testes rápidos), quanto nos laboratórios privados, que ofertam o RT PCR, considerado “padrão ouro”.

O produtor de eventos Pedro de Renor, 25 anos, chegou às 11h e saiu às 16h do Geraldão, principal centro de testagem do governo do estado no Recife, na zona sul. Ele foi de carro com a esposa e relata que as cenas eram de um “grande engarrafamento”. “As filas faziam zigue-zague, sem nenhum tipo de prioridade para idosos e pessoas com deficiência, por exemplo”, observou.

Na fila dos que estavam a pé, havia entre 200 e 300 pessoas aguardando para entrar e para receber o resultado. Muita aglomeração e gente sem máscara. Pedro já tinha ido outras vezes se testar no Geraldão e conta que nunca tinha visto nada parecido. Das vezes anteriores, não demorou mais que 30 minutos. Ele lamenta o cenário, mas acha que “as medidas tinham que acontecer mesmo”, até que haja uma melhora da situação para tentar barrar a circulação das variantes ômicron e H3N2 da influenza.

Pelo agendamento online Atende em Casa, a reportagem tentou agendar um teste de antígeno nesta quinta, 13, e, de oito pontos disponíveis, só havia vaga a partir do dia 17.

Também havia fila na Unidade de Saúde da Família (USF) Cafesópolis, também na Imbiribeira. O tempo de espera entre conseguir uma ficha, realizar o exame e pegar o resultado estava, em média, de duas horas. O local foi um dos pontos ofertados pela Prefeitura do Recife nesta quinta (13). Mas só foram disponibilizados 200 exames. Muita gente chegou ao local ainda no início da tarde, mas não havia mais fichas.

Uma trabalhadora do setor de eventos com quem a reportagem conversou e que preferiu não se identificar enfrentou a fila debaixo do sol, à tarde, para poder apresentar um teste negativo no emprego amanhã. O empregador, infelizmente, não ofertou um teste de farmácia.

Na área externa do Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE), na Praça Oswaldo Cruz, área central do Recife, também havia muita gente aguardando. O local era um dos pontos fixos que estavam relativamente tranquilos até a semana passada, mas agora a procura cresceu e o cenário mudou completamente.

Na rede privada, há laboratório no Recife com espera de cinco dias para conseguir agendar um RT PCR. A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) alertou, nesta quarta-feira (12) para um risco de desabastecimento de insumos para testagem diante da demanda crescente em todo o país. Em nota técnica, recomendou que pacientes graves sejam priorizados.

Em coletiva de imprensa na terça (11), o secretário estadual de Saúde, André Longo, garantiu que não faltarão testes. “Não temos problemas de teste aqui, agora a gente quer mais teste. Queremos que os municípios testem cada vez mais. É fundamental isso”. De acordo com ele, o estado adquiriu um milhão de testes e tem promessa do Ministério da Saúde para chegada de mais remessas.

UTIs: Pernambuco é o único estado em alerta crítico

Nesta quinta (13), a Fiocruz publicou a nota técnica “Mudanças nos cenários de taxas de ocupação de leitos UTI trazem alerta”. Apesar da abertura de novos leitos, Pernambuco é o único estado na zona de alerta crítico, com 82% de ocupação, além de quatro capitais: Fortaleza (88%), Recife (80%), Belo Horizonte (84%) e Goiânia (94%).

O impacto na solicitação por leitos de UTI no estado já atingiu o nível do pico da primeira onda de covid-19, em maio de 2020. Nesta primeira semana epidemiológica de 2022, foram 805 solicitações, um aumento de 2% em uma semana e de 82% em 15 dias.

O governo abriu 480 novos leitos para Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) desde o fim do ano passado, sendo 213 de UTI e adiantou que pretende abrir mais 500 leitos nos próximos dias, sendo 290 de UTI.

Segundo a Fiocruz, há oito unidades da federação na zona de alerta intermediário: Pará (71%), Tocantins (61%), Piauí (66%), Ceará (68%), Bahia (63%), Espírito Santo (71%), Goiás (67%) e Distrito Federal (74%). Além delas, também se encontram nesta situação as capitais Porto Velho (76%), Macapá (60%), Maceió (68%), Salvador (68%), Vitória (77%) e Brasília (74%).

Na nota, a Fiocruz ressalta que “o patamar de número de leitos é outro e o número de internações em UTI hoje ainda é predominantemente muito menor do que aquele observado em 2 de agosto, quando, já no quadro de arrefecimento da pandemia, leitos começavam a ser retirados”.

E alerta: “As próximas semanas precisam ser monitoradas e é esperado que o número de casos novos de covid-19 ainda atinja níveis muito mais elevados, pressionando a demanda por serviços de saúde, o que inclui leitos de enfermaria e UTI”.

A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) registrou, nesta quinta-feira, 13/01, mais 1.447 casos de covid-19, sendo 13 (1%) de Srag e 1.434 (99%) leves. Agora Pernambuco totaliza 652.670 casos confirmados da doença, sendo 55.513 graves e 597.157 leves.

Também estão sendo contabilizados quatro óbitos, ocorridos entre os dias 23 de março de 2021 e 11 de janeiro de 2022. Com isso, o estado totaliza 20.531 mortes pela covid-19.

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AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com