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Pernambucano que foi o primeiro detento brasileiro a concluir curso superior enquanto cumpria pena faz parte da rede.
No dia 31 de agosto, São Paulo acolhe o lançamento da Rede Global de Acadêmicos da Liberdade (GFS), uma iniciativa internacional que une pessoas que buscaram a educação superior mesmo estando ou tendo estado encarceradas. Com o lema “Educação e Não o Encarceramento”, a rede visa fortalecer a defesa por oportunidades educacionais dentro e fora dos muros das prisões. A GFS já nasce com seis seccionais de países: Itália, Reino Unido, Nigéria, África do Sul, Brasil e Argentina. O evento de lançamento, aberto ao público, ocorrerá no Museu do Futebol e contará com música, gastronomia, debates e artes.
Representantes do poder público, da sociedade civil, de organizações sociais e pesquisadores de universidades nacionais e internacionais se juntarão a participantes de 12 países. O evento marca a união de histórias como a de Cícero Alves, primeiro brasileiro a concluir uma faculdade em regime fechado, e Devon Simmons, co-fundador de uma iniciativa que facilita o acesso de ex-presidiários à carreira jurídica nos EUA. Participam também nomes como Waldemar Cubillo, da Argentina, que hoje dirige um programa de direitos humanos, Dan Whyte, doutorando em criminologia no Reino Unido, e Nicholas Khan, de Trinidad e Tobago, que aprendeu a ler na prisão e hoje promove o acesso à educação para pessoas privadas de liberdade.
A GFS tem como objetivo central ampliar a conscientização sobre a importância da educação no sistema prisional, especialmente em um país como o Brasil, que possui uma das maiores populações carcerárias do mundo e altos índices de reincidência. A falta de políticas públicas eficazes voltadas para a reinserção social agrava o problema, tornando a educação uma ferramenta crucial para a quebra do ciclo de violência. Dados alarmantes revelam a urgência da questão no Brasil: mais de 800 mil pessoas estão presas, a maioria jovem e negra, com baixo nível de escolaridade. Menos de 11% completaram o ensino médio, e durante o cárcere, o acesso à educação se torna ainda mais restrito.
Após o lançamento, a GFS se reunirá na Faculdade de Direito da USP para redigir um manifesto que guiará suas ações futuras. Entre os planos estão eventos anuais em cada país, uma reunião global, programas de bolsas de estudo e voluntariado, expansão para mais seis países e uma audiência na ONU sobre “Educação e Não Encarceramento”. Uma plataforma online será criada para conectar os membros da rede, além de oferecer mentoria e oportunidades de emprego. Baz Dreisinger, da Incarceration Nations Network (INN, organização que idealizou a GFS), defende que a educação para pessoas encarceradas não é um conceito radical, mas sim uma necessidade global.
O Brasil já conta com iniciativas pioneiras nesse sentido, como o projeto “Reintegrar”, da Universidade Estadual do Maranhão, que oferece curso superior presencial para mulheres em cárcere e egressas do sistema prisional. O projeto Nova Rota, criado por ex-alunos da USP, também oferece bolsas de estudo, mentoria e apoio a ex-presidiários, buscando a integração social e a redução da reincidência criminal. Através da educação, essas iniciativas almejam construir caminhos para uma vida digna e romper com o ciclo de desigualdades.
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