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Parentes do jovem assassinado, usando camisa branca, posando ao lado dos advogados - uma homem e uma mulher brancos - usando suas togas em um salão do tribunal.

Crédito: Gajop

Ex-PM que matou jovem negro na frente da mãe no Recife é condenado a 19 anos de prisão, mas vai recorrer em liberdade

Marcos Laurindo foi assassinado pelo PM em maio de 2013, na zona norte do Recife

Marco Zero Conteúdo / 23/02/2024

Crédito: Gajop

por Jorge Cavalcanti*

Na busca por justiça que já dura quase 11 anos, dona Lúcia Maria da Conceição e seu Francisco Laurindo da Silva conquistaram um passo importante nesta quarta-feira (21): a condenação do ex-soldado da Polícia Militar de Pernambuco que matou o jovem Marcos Laurindo, filho do casal, e do PM que tentou acobertar o parceiro contando na delegacia a versão falsa de que foi a vítima quem primeiro atirou contra a viatura. “Meu sentimento hoje é o de coração mais conformado. A condenação veio à tona. Não vai trazer meu filho de volta, mas a justiça foi feita”, declarou o pai, em conversa com a reportagem.

O ex-PM Diogo Pereira de Barros, 42 anos, foi condenado a 19 anos de reclusão e outros dois anos de detenção pelos crimes de homicídio qualificado, fraude processual, falso testemunho e porte ilegal de arma. O caso aconteceu na comunidade Bola na Rede, no bairro da Guabiraba, zona norte do Recife, em maio de 2013. À época, o PM já era réu por homicídio. Mesmo assim, seguia designado para o policiamento ostensivo nas ruas.

Diogo Pereira vai recorrer em liberdade porque a sentença não determinou a execução provisória da pena. O julgamento começou na terça-feira (20) e foi concluído no dia seguinte, no Fórum Joana Bezerra, área central da cidade. A família de Marcos Laurindo esteve presente em todos os momentos.

O jovem negro foi assassinado com um tiro nas costas e outro no peito, dentro de casa, na frente da mãe do pai. Ele tinha 21 anos naquela noite de 17 de maio de 2013, quando o então soldado Diogo Pereira invadiu a casa de dona Lúcia e seu Francisco de arma em punho.

Momentos antes, por volta das 23h, a viatura havia freado bruscamente na avenida Padre Mosca de Carvalho. Marcos Laurindo se assustou e correu para dentro de casa. Morreu sobre a cama de casal dos pais, segundos depois de ser alvejado, conforme atestou a perícia do Instituto de Criminalística.

“É preciso ter respeito pelas pessoas e pela farda que veste. Não é esse o papel da polícia. Mas, infelizmente, meu filho não foi o único inocente assassinado pela Polícia Militar de Pernambuco. É preciso rever essa atuação”, desabafa seu Francisco.

Ele e a esposa fazem parte de um grupo de familiares de pessoas sem antecedentes criminais ou envolvimento em atividades delituosas mortas por policiais em Pernambuco assistido pelo Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop). “Num momento como esse, é importante também agradecer a todo mundo do Gajop. É um pessoal muito empenhado no trabalho que faz”, retribuiu seu Francisco.

Marcos Laurindo convivia com distúrbios psicológicos e não tinha antecedentes criminais. Na última semana de vida, o jovem trabalhou como servente de pedreiro, na companhia do pai. Ganhou R$ 180 pela empreitada. A Marco Zero Conteúdo acompanha esse caso desde 2021.

Leia A morte veste farda

Além de Diogo Pereira, o cabo Paulo Sérgio da Silva foi condenado a quatro anos de reclusão e dois de detenção pelos crimes de fraude processual e falso testemunho. O PM foi absolvido pelo crime de porte ilegal de arma. A sentença determina que a pena seja cumprida em regime inicial semiaberto.

“Recebemos com sensação de justiça cumprida o resultado da condenação dos réus. Marcos Laurindo foi brutalmente assassinado por um agente do Estado que tinha o dever público de prestar proteção social. A família foi incansável na luta pela responsabilização dos envolvidos e pela preservação da memória do filho. Hoje uma etapa muito importante foi vencida”, avaliou a advogada Marília Falcão. Ela e o colega Sóstenes Rocha atuaram como assistentes de acusação.

Depois do homicídio de Marcos Laurindo, Diogo Pereira enfrentou processo disciplinar e foi expulso da PM. Paulo Sérgio permaneceu e ainda é policial. Administrativamente, ele pode perder a farda, mas só quando não tiver mais possibilidade de recursos jurídicos.

*Jornalista com 20 anos de atuação profissional e especial interesse na política e em narrativas de garantia, defesa e promoção de Direitos Humanos e Segurança Cidadã

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É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.