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Flaira Ferro // A ousadia em mostrar que o frevo é vivo

Marco Zero Conteúdo / 21/11/2025

Crédito: Ikaro Sousa

Por Beatriz Santana*

Para os pernambucanos que têm o carnaval na veia, passar o gosto por esta festa para as próximas gerações já faz parte da tradição. Por isso, assistir a uma criança se divertir no meio do bloco enquanto imita passistas de frevo, jogar confete por todo lado e se emocionar ao ver pela primeira vez o Galo da Madrugada passar, faz os olhos de qualquer amante do carnaval brilhar.

Nascida em fevereiro, com o “pé pronto para frevar”, a cantora, compositora e dançarina Flaira Ferro cresceu em sintonia com o carnaval. Desde a infância, cultiva uma relação íntima com o frevo, sentimento que, na vida adulta, se transformou em arte e experimentação. “Quando fiz seis anos, pedi de aniversário para minha mãe para conhecer o maior bloco de rua do mundo, o Galo da Madrugada. Eu via tudo pela televisão e aquilo me chamava muita atenção. Comecei a dançar no meio da rua e, por ser muito pequena, formavam rodinhas ao meu redor como se eu fosse uma foliã mirim”, recorda.

De passista mirim à multiartista, Flaira encontrou no corpo o ponto de encontro entre passado e futuro. Conhecer outras linguagens e estilos musicais não a afastou do frevo; pelo contrário, a incentivou a levá-lo a novas esferas e plateias. “É como se meu corpo fosse esse lugar de constante negociação entre para onde estou indo e o que já construí”, explica. Para ela, o frevo se manifesta como uma energia pulsante, um palco que transborda o carnaval e se espalha pela cidade.

O entendimento da importância do frevo na formação de sua identidade artística define a obra de Flaira. Assim como o ritmo se revela “na arquitetura da cidade, nas profissões, na moda”, ele também atravessa sua trajetória e se consolida como uma filosofia de vida, um elo entre tradição e reinvenção que mantém o Recife pulsando mesmo fora dos dias de folia.

Compreender o frevo como forma de política é, para Flaira, reconhecer seu poder de mobilização. Esse potencial se amplia quando dialoga com outras linguagens, como o balé, a dança contemporânea, o rock e até o brega funk. “O frevo mistura polca, dobrado, maxixe, capoeira e os movimentos dos povos originários”, define. A artista questiona até onde esse gênero, nascido da mistura, pode chegar quando se abre ainda mais para o novo.

Por isso, ela trabalha para romper com a imagem estereotipada “do passista colorido do frevo que recebe turistas no aeroporto” e mostrar que o frevo vai muito além do folclore: está enraizado no cotidiano de Pernambuco e se reinventa a cada encontro. À medida que a ousadia transforma o ritmo, Flaira se mostra cada vez mais entusiasmada com as rodas que mobiliza. Sempre com frevo, ainda que nem sempre de frevo.

Ao final, a artista resume sua crença no poder de renovação do gênero: “Enquanto tiver vida, tem frevo”. Para o futuro, aposta: é da ruptura que nasce a renovação.

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Foto Marco Zero Conteúdo
Marco Zero Conteúdo

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