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Crédito: Giovanna Carneiro/MZ Conteúdo
Inaugurada em maio de 2020 para atendimento especializado aos pacientes de covid-19, a Unidade Pernambucana de Atenção Especializada (UPAe) do município de Goiana, na Zona da Mata Norte, está desativada desde outubro do ano passado. Construída e equipada pelo Grupo Fiat-Chrysler Automobiles (FCA), que possui a fábrica da Jeep no município, e gerida pelo Governo do Estado, a unidade de saúde contava com 30 leitos em funcionamento, sendo três para pacientes com quadros respiratórios graves. A estrutura era capaz de assegurar tratamento adequado para dezenas de pessoas, mas agora está inutilizada.
Em outubro, ao anunciar a desativação da UPAe, o Governo de Pernambuco alegou que a taxa de ocupação dos leitos estava abaixo de 60%. Entretanto, meses após a desativação da unidade de saúde, o número de casos de covid-19 na cidade segue apresentando um crescimento alto e, com a falta de leitos, pacientes precisam ser transferidos frequentemente para receber tratamento em outras cidades do estado.
No dia 26 de outubro de 2020, data do fechamento da UPAe, o município contava com 1.231 casos confirmados, 79 óbitos e 1.004 recuperados da covid. No boletim epidemiológico divulgado no dia 26 de abril de 2021, exatamente seis meses após o fechamento da unidade, a cidade totalizava 4.782 casos confirmados, 120 óbitos e 4.016 pacientes recuperados. Ou seja, um aumento de mais de 3.500 casos confirmados da doença.
Ao comunicar a desmobilização dos leitos para pacientes da covid-19 na UPAe, o Governo do Estado garantiu que a unidade voltaria a funcionar com consultas ambulatoriais especializadas de assistência à população goianense e da região. No entanto, desde então, o hospital segue sem realizar atendimentos médicos. Ao invés disso, a unidade passou a funcionar como uma sede da XII Gerência Regional de Saúde (Geres) apenas com funções administrativas.
Atualmente, a unidade de referência em atendimento a pacientes com covid-19 é a Upinha da cidade, que conta com 14 leitos de enfermaria e dois leitos de área vermelha, para casos graves. De acordo com Paula Brito, chefe de enfermagem da Upinha, alguns casos graves conseguem ser tratados na unidade, mas quando há necessidade de intubação os pacientes são transferidos.
Nenhum hospital municipal ou estadual de Goiana conta com uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), dificultando ainda mais o tratamento dos pacientes que apresentam um quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), uma das principais causas de morte provocadas pelo novo coronavírus.
Um levantamento oficial da Prefeitura de Goiana apresenta dados alarmantes sobre o número de internações, atendimentos de emergência e funcionários da Upinha que testaram positivo para a covid-19 nos últimos cinco meses. De acordo com os dados, em outubro de 2020 o número de atendimentos de emergência realizados na unidade de saúde foi 436. Já em março de 2021, foram 3.464 atendimentos. No mesmo período, o número de internamentos subiu de sete para 41. São registros que revelam a superlotação da Upinha e a urgência do aumento do número de leitos no município.
Com apenas a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade e o Hospital Belarmino Correia funcionando para atendimento à população, e com poucos leitos de internação para casos graves da covid-19, o prefeito de Goiana, Eduardo Honório, solicitou a devolução dos equipamentos e o reestabelecimento das atividades na UPAe.
No mês de março, em pronunciamento oficial, o gestor alegou que o município tem capacidade de gerir a unidade e colocou à disposição os profissionais de saúde para atuar no hospital de campanha. “Novos casos de covid-19 estão surgindo em nossa região e precisamos combater essa doença. Por isso, queremos que o governador Paulo Câmara devolva a unidade de saúde com todos os equipamentos e a nossa prefeitura assume com os profissionais da saúde”, declarou o prefeito em coletiva de imprensa.
Após apresentar a solicitação oficial para o restabelecimento das atividades na UPAe, Eduardo Honório se reuniu com o secretário executivo de Saúde de Pernambuco, Humberto Antunes. Na ocasião, o secretário afirmou que o Governo do Estado teria grande interesse em reativar a unidade, mas, até o momento, nenhuma declaração oficial sobre a devolução dos equipamentos ou mesmo uma data para a reabertura foi estabelecida.
A Marco Zero Conteúdo procurou a Secretaria Estadual de Saúde do Governo de Pernambuco, mas até a publicação desta reportagem não obteve nenhuma resposta. O prefeito Eduardo Honório afirmou que prefere não dar nenhuma entrevista sobre o caso até conseguir uma resposta definitiva do Governo do Estado.
Apesar de não ter nenhuma resposta da Secretaria Estadual de Saúde, a reportagem apurou que no dia 6 de abril foi publicado no Diário Oficial uma licitação de seleção pública para organizações que tenham interesse em assumir a gestão da UPAe Goiana.
A licitação está avaliada em R$ 20.297.818,92 para a prestação de serviços de gerenciamento, operacionalização e execução de atendimento da unidade de saúde. A primeira etapa do certame, que consiste no envio das propostas das empresas, chegou ao fim no dia 26 de abril. As demais etapas não apresentam um prazo final e, de acordo com a licitação, a habilitação e a classificação final das propostas ainda precisam ter prazos estabelecidos, podendo ser suspensas em decorrência de alguma irregularidade.
Ainda de acordo com a licitação, A UPAe Goiana deverá ser um Centro de Diagnóstico e Orientação Terapêutica Ambulatorial de alta resolubilidade, apta a realizar consultas e procedimentos de média complexidade, voltada ao atendimento aos usuários referenciados pelas unidades de Atenção Primária de Saúde (APS). A unidade beneficiará os municípios de Aliança, Camutanga, Condado, Ferreiros, Goiana, Itambé, Itaquitinga, Macaparana, São Vicente Ferrer e Timbaúba.
Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.