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Fotos: Vanessa Serena
por Nattasha Pollyane
As mulheres participantes expressaram não só suas dores ou seu cotidiano, ou o racismo sofrido diariamente, mas também o amor que lhes rodeia. “Eu não quero mais recitar minhas lutas, mas quero recitar o amor. O amor simples de compartilhamento de mulheres para mulheres”, declamou a poetisa ativista Joy Thamires.
No auditório da ONG Fase, no Derby, mulheres de diversas cores e raças se reuniram para dar o pontapé ao três dias do Festival Residência Poética, promovido pelo Slam das Minas do Nordeste. O festival foi criado para ser um lugar de falar para muitas mulheres, com o compartilhamento de vivências de pessoas negras, latinas e indígenas discutidas e debatidas em grupos.
Na palestra de abertura cujo o tema abordado e
discutido foi ‘Mulheres Negras Construindo Narrativa de Luta’ além da
presença de Joy Thamires, Vera Baroni advogada e militante da Uiala
Mukaji-Organização de Mulheres Negras de Pernambuco explicou na mesa, a
pertinência das mulheres negras que escrevem histórias, mas que são
apagadas desde sempre. “Existe uma negação sobre a contribuição das
mulheres negras na resistência. Não é conhecido quase nada da nossa
história, em quilombo, por exemplo. Mas em todo o processo de
civilização, mulheres negras participavam das principais articulações”,
afirmou.
Além disso, Vera discutiu outro ponto importante na construção dessa história: “Como iremos saber da nossa história, se na academia não se oferecem escritores e escritoras negras que sabem nosso caminho? Precisamos saber por nós, pessoas negras, o nosso legado e autorreconhecimento. Nos encher de orgulho e saber que também contribuímos para a história, em pé de igualdade”, pontuou, instigando palestrantes e ouvintes.
O que é Slam?
À semelhança dos desafios da poesia popular, o slam é a uma batalha de poesia falada exclusivamente por mulheres, promovendo um espaço de fala para as minas e a ocupação dos espaço públicos da cidade com arte e cultura.
Os eventos do festival reuniram diversos artistas, poetisas,
professores do Nordeste. Em uma das palestras, se destacou a
importância das mulheres trans que também lutam por espaço de voz,
ocupando lugares de resistência e fazendo denúncias nas rodas de poesia.
Stella
Carvalho, mulher trans, negra, periférica e nordestina conta como foi
que se sentiu ao entrar no mundo do slam, em sua terra natal. “Quando
comecei a declamar em Aracaju, porque sou de lá, eu era a única travesti
e a única pessoa negra das rodas de poesia. Eu me perguntava ‘o que
está acontecendo?’ Pessoas negras não são capazes de escrever? Ou as
pessoas que fazem esses eventos não estão indo atrás dessas pessoas?”,
questionava Stella, fazendo perguntas a si mesma, em busca de respostas.
Naia França uma das criadoras do Slam das Minas PE, conta a importância da criação desses grupos para escutar e instigar o que as mulheres negras tem a dizer em forma de arte. “Em muitos saraus as mulheres pretas ficavam acuadas pra mostrar o seu trabalho, para recitar uma poesia. Com o Slam, nós ajudamos essas mulheres a vencer a timidez, nós ajudamos no autorreconhecimento como artista, a perceber que recitar não é um hobby, que pode ser uma maneira de sobrevivência”.
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