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Manifestantes em vigília no Recife defendem candidatura de Lula

Débora Britto / 24/01/2018

Crédito: Débora Britto/MZ Conteúdo

Centenas de pessoas permanecem reunidas em vigília, na Praça Tiradentes, no Bairro do Recife, em apoio ao ex-presidente Lula e em defesa da sua candidatura. O ato teve início na tarde da terça-feira (23) e diversas pessoas montaram acampamento e dormiram no local para acompanhar na manhã desta quarta (24) a transmissão do julgamento no TRF-4, em Porto Alegre.

Os atos organizados têm como objetivo denunciar o processo e reivindicar justiça, explica Bruno Ribeiro, presidente do PT de Pernambuco. “A defesa não é do direito de Lula, é do direito de cada cidadão de não ser condenado por manipulação de processo judicial. É o direito de todo povo brasileiro de que ele seja candidato”, defende. Para Bruno, há um sentimento forte de apelo por justiça, citando as incoerências apontadas pela defesa de Lula com relação ao processo.

Além de lideranças de partidos políticos, movimentos sociais do campo e da cidade, como MST, MTST, CUT, sindicatos rurais e urbanos, organizações dos movimentos estudantis, centenas de pessoas já passaram pelo local do ato para manifestar seu apoio a Lula. Segundo a organização, cerca de 1.500 pessoas dormiram na Praça Tiradentes, que fica em frente ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região, no Recife.

Carlos Veras, presidente da CUT Pernambuco, informou que a mobilização no centro do Recife avançará pela tarde, até o final do julgamento. “Lula será candidato querendo eles ou não, vamos fazer a luta porque defender Lula é defender um projeto de sociedade, de país. Vai ter muita mobilização, muita greve”, prometeu. A mobilização da vigília, para ele, “mostra e disposição do povo de resistir em defesa da democracia”.

Vigília para acompanhar o julgamento do ex-presidente Lula, na praça Tiradentes, no Recife. Foto: Débora Britto/MZ Conteúdo

Vigília teve apresentações culturais na noite da terça-feira, além de aula pública sobre processo contra Lula

Veras lembra que o  julgamento em Porto Alegre faz parte de um processo que tem requerido mobilização constante da população. “É um golpe para retirar a presidenta Dilma, é um golpe aos nossos direitos e o impedimento ao presidente Lula”. Depois do resultado, está prevista a realização de uma plenária para organização dos próximos passos de mobilização. “Nós vamos fazer uma plenária, vamos tirar encaminhamentos para continuar na luta. Tem a reforma da previdência vindo, é um processo”, disse.

A expectativa em torno do julgamento de Lula mobilizou centenas de pessoas para a praça na noite da terça-feira. Lá aconteceram apresentações culturais e também uma aula pública que abordou a politização do processo judicial contra o ex-presidente no caso do triplex do Guarujá, em que foi condenado a 9,5 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo juiz Sérgio Moro.

Entre os manifestantes ouvidos pela Marco Zero Conteúdo existe quem acredite que Lula não será condenado, mas boa parte enxerga o processo como já definido. São muitas as reclamações de parcialidade do julgamento e pedido de justiça. A educadora popular Eunice Araújo, 65 anos, por exemplo, tem ido a diversos atos e manifestações contra o golpe e as reformas trabalhista e da previdência, e se mostra cética. “Venho lutando contra o golpe que está aí instalado desde 2014, mas a gente continua na luta. A gente sabe que está tudo arquitetado. Eu acho que ele vai ser condenado, mas a gente vai resistir. Eles estão lá para fazer isso mesmo, o judiciário está lá para garantir que a elite continue no poder”, explica.

Apesar disso, tem esperança. “É demais minha geração sofrer dois golpes. Minha decisão consciente é de que eu vou resistir por toda a vida. Eu não sei ficar de outro lado”, diz Eunice.

Vigília e acampamento

Romildo Albuquerque, estudante do IFPE e militante do Levante Popular da Juventude, de 20 anos, guarda esperança de que não acontecerá a condenação em 2ª instância, mas afirma que independentemente do resultado não perderá o ânimo. “Não é só Lula em pessoa, mas é o projeto que ele representa. A gente precisa retomar a esperança que ele trouxe, retomar o acesso à universidade e a esperança de que a justiça seja feita, mas não de modo parcial como vem sendo feita, mas a justiça do povo, que possa decidir em quem quer votar”, diz ele, que celebra o fato de ser “um filho da expansão dos institutos federais”.

Vigília para acompanhar o julgamento do ex-presidente Lula, na praça Tiradentes, no Recife. Foto: Débora Britto/MZ Conteúdo

Estudantes Romildo Albuquerque, do Levante Popular da Juventude (à esquerda), e Clara Vitória, da UEP (centro)

Para Clara Vitória, 24 anos, secretária-geral da União dos Estudantes de Pernambuco, estar em vigília é um importante ato simbólico de defesa da democracia e de fé. “A gente tem a compreensão de que no momento em que a gente fecha os olhos a gente deixa passar coisas que não deveríamos deixar passar”, explica. Segundo ela, a maioria das pessoas passou a noite em claro, se revezando em várias atividades, rodas de conversa, de música.

Segundo os estudantes, participar da vigília é representar pessoas que não podem estar presentes porque trabalham ou estudam. “O pessoal está apoiando a gente pelas redes sociais”, contam.

Manifestações no interior

Ao longo da terça-feira, diversas rodovias foram bloqueadas por manifestantes no estado. Segundo jornal Brasil de Fato Pernambuco, mais de 15 cidades tiveram trancamentos nas rodovias em função das manifestações. Os pontos de trancamento aconteceram na Região Metropolitana do Recife, Na Zona da Mata, Agreste e Sertão, nas cidades de Jaboatão dos Guararapes, Nazaré da Mata, Vitória de Santo Antão, Moreno, Escada, Goiana, Glória, Águas Belas, São Ca​e​tano, Petrolândia, Bonito, Passira e Cumaru,​ ​Serra Talhada e Petrolina.

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Ato em Garanhuns reuniu cerca de 3 mil pessoas, segundo dirigente estadual do PT. Foto: Anderson Rodrigo Barbosa/PT

​A​o todo, seis cidades no agreste e sertão realizaram atos de apoio ao ex-presidente: Petrolina, Serra Talhada, Oricuri, Garanhuns, Caruaru e Afogados da Ingazeira.

Em Petrolina, a Ponte Presidente Dutra foi ocupada com faixas por cerca de 2 mil trabalhadores e ativistas da Frente Brasil Popular, do Levante Popular da Juventude, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e movimentos sociais do campo. A ponte é simbólica por conectar Petrolina a Juazeiro, no Norte da Bahia, já foi tema de canções populares e já recebeu grandes manifestações políticas de apoio ao Partido dos Trabalhadores.​

Garanhuns, ​no agreste pernambucano, também foi palco de manifestações que reuniram cerca de 3 mil pessoas, segundo Anderson Barbosa, de Pesqueira, que faz parte da direção estadual do PT. Na manhã​ da terça-feira, militantes reuniram centenas de pessoas em caminhada pelo centro da cidade​ finalizando em frente ao fórum. O objetivo era dialogar com a população sobre o julgamento, em defesa da candidatura de Lula. Participaram integrantes do PT, PCdoB, Psol, Fetape, MST, CUT e sindicatos rurais.

De com Anderson, a população nas ruas vem sendo receptiva aos atos e manifestações de apoio ao ex-presidente. Na sua avaliação, as manifestações têm tido boa adesão e participação de movimentos, integrantes de partidos e sindicatos rurais.

Não houve relatos de conflitos com opositores ou com forças policiais.

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AUTOR
Foto Débora Britto
Débora Britto

Mulher negra e jornalista antirracista. Formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), também tem formação em Direitos Humanos pelo Instituto de Direitos Humanos da Catalunha. Trabalhou no Centro de Cultura Luiz Freire - ONG de defesa dos direitos humanos - e é integrante do Terral Coletivo de Comunicação Popular, grupo que atua na formação de comunicadoras/es populares e na defesa do Direito à Comunicação.