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Ministro dos Direitos Humanos vai ao Ibura escutar comunidade sem intermediários

Marco Zero Conteúdo / 01/09/2023
Em um salão simples, com paredes pintadas de amarelo, Silvio Almeida (homem negro, careca, de óculos, vestindo palétó e gravatas cinza), está sentando em cadeira de plástico branco, ouvindo uma mulher negra, de compridas tranças, usando blusa preta e calça cinza.. Ao redor de ambos, homens e mulheres acompanham a conversa sentados em cadeiras brancas dispostas em círculo.

Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

por Jeniffer Oliveira

Pela primeira vez na história, a população do Ibura e as organizações sociais que atuam no bairro tiveram a oportunidade de apresentar suas queixas diretamente para um ministro de Estado. Quem escutou os relatos de racismo ambiental e violência policial feitos por moradores e representantes dos coletivos, sem intermediários nem burocracia, foi Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos, que esteve na Associação dos Moradores Tancredo Neves na manhã desta sexta-feira, 1º de setembro.

Falta de equipamentos de lazer, de investimentos em cultura, tiroteios e a dificuldade de quem perdeu tudo com as chuvas viver com apenas R$ 300 de auxílio aluguel. Esses foram os temas mais recorrentes durante as duas horas de conversa com o ministro. O momento mais emocionante, no entanto, foi a fala de Elizabete Kelly, que perdeu um neto e todos os bens no deslizamento da barreira na rua C, na Vila 27 de Abril, uma das mais atingida e com maior número de mortes nas chuvas de 2020.

Elizabete explicou para Silvio Almeida que, hoje, vive em um terreno nos fundos da casa da irmã. Ao todo, 20 pessoas moram nesse imóvel, das quais 11 são crianças. “Saí do emprego e o dinheiro que recebi, juntei para poder fazer dois quartinhos pra gente viver porque minha irmã deixou a gente ficar lá, porque com R$ 300 reais não dá pra alugar nada”, contou.

“Todas as vezes em que eu toco nesse assunto, é a uma ferida que abre. Eu vivia em uma casa, não pagava aluguel. Se indenizassem, a gente comprava uma casa, porque com R$ 300, infelizmente, não dá. Enfim, muito obrigada”.

Silvio Almeida garantiu que o diálogo com as comunidades terá desdobramentos práticos. “O que a gente pode fazer, a partir daquilo que o ministério tem atribuição, eu posso dizer que essa escuta enão ficará sem repercussão. Obviamente, se eu vim aqui escutar, o meu dever como representante da República é dar consequência aquilo que me foi dito. Então tudo aquilo que foi dito vai ser levado em consideração. Vamos fazer aquilo que é possível e aquilo que não for da nossa competência, vamos levar ao conhecimento das autoridades competentes”, afirmou o ministro.

Elizabete disse ao ministro que está vivendo nos fundos da casa da irmã. Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Porque o Ibura

De acordo com Lídia Lins, do coletivo Ibura Mais Cultura, uma das organizações que esteve à frente da articulação com o ministério para realizar o encontro, disse que a principal motivação dos movimentos sociais foi colocar a pauta do racismo ambiental na agenda dos direitos humanos do governo Lula. “Também empregamos esforços na construção de políticas públicas que mitiguem esses efeitos das mudanças climáticas que a gente já vem sentindo nas periferias. Por isso, entregamos a ele porque um documento que é um pequeno relatório, contextualizando um pouco da história do Ibura que já é uma história marcada pelo racismo ambiental, de uma população que foi empurrada para as periferias para ocupar os morros.

Janielly Azevedo, ialorixá da Egbé Omo L’lmi, na UR-11, e coordenadora de comunicação do Coletivo Periféricas, explicou ao ministro que, depois da tragédia das chuvas de 2022, as organizações sociais, incluindo os terreiros de candomblé, passaram a realizar tarefas de assistência social, distribuindo cestas básicas ou realizando mutirões de saúde. Em um desses mutirões, por exemplo, os coletivos conseguiram vacinar contra covid 132 pessoas, das quais 82 sequer tinham recebido a primeira dose.

“A gente tem que parar o nosso trabalho para dar assistência que o estado e o município deveriam estar fazendo. Nós não queremos continuar a fazer isso, mas como o Coletivo Periférias trabalha com gerenciamento de dados, estamos mapeando a situação de saúde e de documentação de famílias para entregar ao poder público, mas o Estado precisa assumir isso”, disse Janielly. O levantamento do coletivo indica que 497 famílias atingidas pelas chuvas continuam sem auxílio aluguel porque não conseguiram provar que a casa onde moravam era delas.

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