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As taxas de mortalidade por desnutrição em idosos brasileiros tiveram tendência geral de queda nas últimas duas décadas. Porém, os números ainda são preocupantes, já que foram registrados mais de 93 mil óbitos no período de 2000 a 2021 e não houve redução da mortalidade por essa causa entre a população de 80 anos ou mais.
As conclusões são de pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), publicadas em artigo na “Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia” nesta segunda (12).
A condição vitimou especialmente pessoas com 80 anos ou mais (63% do total) e analfabetas (33%). Entre toda a população acima de 60 anos, a maior taxa de mortalidade foi observada em 2006 – quase 29 mortes por desnutrição a cada 100 mil habitantes – e a menor, em 2021 – cerca de dez mortes por essa causa para cada 100 mil habitantes.
O estudo analisou a tendência de mortalidade de idosos por desnutrição proteico-calórica, caracterizada como uma deficiência grave de proteínas e calorias devido ao consumo insuficiente por um longo período. Os autores reuniram dados de 2000 a 2021 do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), vinculado ao Departamento de Informática do SUS (DATASUS), e observaram as características da população afetada.
“São achados que, de um modo geral, nos surpreendem, visto que a desnutrição proteico-calórica é uma causa comum de óbito, sobretudo em idosos, mas que pode ser evitada”, explica Ronilson Ferreira Freitas, pesquisador da UFAM e um dos autores do artigo. As taxas são maiores entre indivíduos do sexo masculino, o que indica possível negligência em relação a um estilo de vida saudável e a práticas de cuidado com a saúde. Para Freitas, os resultados evidenciam a necessidade de fortalecer uma abordagem de prevenção nos serviços de saúde.
O autor destaca a necessidade de mais estudos sobre o tema, avaliando as taxas por regiões e unidades da federação, assim como em estudos longitudinais. “É preciso entender melhor quem são e onde estão os idosos expostos a maior risco de desnutrição proteico-calórica, e identificar, no contexto atual, quais são as condições que aumentam o risco de tal evento”.
No contexto da formalização de uma aliança global contra a fome e a pobreza, anunciada em 24 de julho em reunião de países do G20 no Brasil, a pesquisa pode contribuir na proposição de políticas públicas específicas para garantir uma alimentação adequada à população idosa. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vivem no Brasil cerca de 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que equivale a 15% da população.
Freitas ressalta a importância de que a sociedade e o Estado brasileiro se preparem para o aumento da parcela idosa da população. O autor cita o número crescente de pessoas idosas em instituições de longa permanência, que sobrevivem com poucas verbas públicas e dependem, muitas vezes, de doações da comunidade. “As características próprias do envelhecimento expõem a população mais longeva a um risco maior de desnutrição. É importante que as políticas públicas já existentes sejam discutidas e aprimoradas”, conclui o pesquisador.
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