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Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo
As violências no campo não param de crescer sob o Governo Bolsonaro, atingindo trabalhadores e trabalhadoras rurais, indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais do campo, das águas e das florestas. O Brasil registrou 35 assassinatos em consequências de conflitos no campo no ano de 2021. O número alarmante é 75% maior que o de 2020, segundo o novo relatório anual da Comissão Pastoral da Terra (CPT), lançado nesta segunda-feira, 18 de abril, em Brasília. Somente nos estados da Amazônia Legal, foram 28 assassinatos, 80% do total.
Assista aqui a live de lançamento da 36ª edição do relatório. Entre os participantes, estava Geovane da Silva Santos, pai do menino Jonatas, morto a tiros em 10 de fevereiro na Zona da Mata Sul de Pernambuco. Na análise da CPT, “a violência nessa região reflete não só a ferocidade da grilagem e do latifúndio como também o emparelhamento protetor do Estado brasileiro ao setor ruralista”, em decorrência da atuação da “pistolagem sob encomenda” e das “agromilícias”.
O país registrou dois massacres em 2021. Um deles matou pelo menos três indígenas Moxihatëtëa, classificados como indígenas isolados, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. O outro deixou três sem-terra ou “acampados” mortos no acampamento Ademar Ferreira, em Rondônia.
Em 2022, ainda em dados parciais, já são 14 assassinatos, sendo quatro no Pará, onde aconteceu o primeiro massacre em conflitos no campo deste ano, no município de São Félix do Xingu.
Segundo o levantamento da CPT, 2021 registrou um total de 109 mortes em consequência desses conflitos no campo. São mortes, por exemplo, como a das duas crianças Yanomami, de 4 e 7 anos, sugadas por uma draga de exploração do garimpo ilegal na Terra Indígena em outubro do ano passado. Trata-se de um crescimento de 1.100% em relação a 2020. Desse total, 101 mortes ocorreram somente no território Yanomami, em decorrência da ação de garimpeiros.
Também foram registradas 27 tentativas de assassinato, 132 ameaças de morte, 75 agressões físicas com ferimentos diversos, um sem-número de intimidações e tentativas humilhantes de subjugação e 13 ocorrências de tortura praticadas principalmente por agentes privados designados como “fazendeiros”. “Esses delitos de homicídio são deliberados e atingem notadamente lideranças de comunidades e sindicalistas, que resistem à usurpação”, denuncia a pastoral.
Segundo a análise do antropólogo Alfredo Wagner incluída no relatório, “os agressores aumentam de forma perversa e desumana a dor e o sofrimento das vítimas, que não têm meios de se defender por estarem em uma posição fragilizada pela perda das condições de moradia digna e da terra para cultivo e, além disso, necessitarem do Estado para sua proteção. Constata-se que somente nos códigos penais modernos são suavizadas as medidas punitivas e superados os instrumentos de violência explícita tais como guilhotina, esquartejamento, forca e fuzilamento. Ao contrário, nas relações sociais de produção no campo brasileiro, consultando-se as séries apresentadas nas últimas décadas pela CPT, o corpo não desaparece como alvo principal das violências praticadas. Verifica-se que há uma frequência nos danos físicos e letais infligidos nos corpos das vítimas por modalidades de justiça privada tanto no plano individual quanto no coletivo, voltadas para os que se encontram em posições de subjugação histórica. O mais assustador é que esse tipo de violência aparece disseminada no país em diferentes regiões e afetando diferentes unidades sociais classificadas como subalternas”.
Outras violências como o trabalho escravo também tiveram aumento em 2021. O número de resgatados dessa prática mais do que dobrou no campo no último ano, com a maior quantidade desde 2013 (1.726 pessoas). Os casos aumentaram 76% (foram 169).
Pela primeira vez, a publicação Conflitos no Campo Brasil apresentou informações sobre a orientação sexual e a expressão de gênero das vítimas. Em 2021, cinco pessoas LGBTI+ foram vítimas de diversos tipos de violências, como humilhação e prisão, assassinato, intimidação e tortura.
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Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com